Diário de bordo.

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  Viagem n° 43 ,

  O espa?o pode ser um lugar solitário de vez em quando, repleto de gelo e pedregulhos, como o meu freezer, a única diferen?a é que em vez de grandes pedras flutuantes, o meu freezer tem lasanha de carne que pode ser facilmente confundido com algum tipo de gosma extraterrestre.

  (Nota mental: n?o guardar material encontrado fora da nave junto com a lasanha, pode ser confundido).

  Mais uma manh?, o termostato marca 24,3°, como sempre, nada mudou desde a última vez que visitei aquele planetinha cheio de poeira e desinteressante no meio do nada.

  N?o vejo ninguém já faz 5 meses, as vezes acho que enlouqueci e estou preso em uma solitária de algum manic?mio pouco conhecido no sul do país, talvez sudeste... N?o importa.

  Tenho certeza de que n?o é normal ter mania de conversar sozinho. Gosto de pensar que é o meu subconsciente respondendo a situa??es reais, algo como enfermeiros indo me entregar remédios e por isso grito " N?O! " em momentos aleatórios (me sinto menos solitário e menos estranho) , várias vezes já tentei irritar as pessoas do manic?mio imaginário, comecei a gritar e pular me debatendo freneticamente até cansar...

  Nada aconteceu.

  Nada acontece.

  NUNCA .

  Guarda os meus últimos fragmentos de sanidade no fundo do cérebro e na vida contínua, mas deve ser proposital, esses funcionários do "manic?mio" n?o fazem nada para que eu n?o enlouque?a de vez.

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  (Eu acredito que estou realmente sozinho),

  (Acho que as vezes eu exagero, juro que é brincadeira).

  Voltando à realidade,

  hoje faz mais ou menos 720 dias que decidem embarcar nessa nave,

  faz 537 dias que embarquei nessa nave,

  faz 52 dias que n?o saio dessa nave.

  Eu acho...

  O tempo n?o é certo, principalmente quando você já o esticou e o comprimiu tantas vezes quanto eu.

  (às vezes eu tor?o pra que alguma coisa quebre do lado de fora da nave e me obrigue a sair desse lugar odioso.)

  (Eu coloquei o meu trajeto e saí, um dos sensores estava com defeito, concertei-o, sinto uma satisfa??o extremamente grande e inexplicável, n?o aguentei mais aquele buraco fedorento que eu chamo de casa, pena que o cheiro do trajeto n?o é muito diferente...)

  (ent?o um METEóRO GIGANTESCO me alcan?a!!)

  (lindo... mas enquanto isso n?o acontece fico imaginando os possiveis fins que eu posso ter)

  Acredito fielmente que se em algum momento eu parar de contar vou perder a no??o de tempo.

  Na verdade isso já aconteceu, foi no dia 82 ou 421, passei alguns dias como se fossem meses, passei meses que apenas alguns dias, eu chamei de " armadilha temporal ",

  n?o sei se existe algum termo para isso, gosto de inventar nomes, me ajude a manter uma certa ordem em meio a esse universo caótico que eu divido com a minha mente.

  (Pelo menos faz sentido na minha cabe?a).

  Acredito que nunca me recuperarei totalmente.

  O tempo é uma coisa extranha e filosófica, tudo depende do seu humor e perspectiva, a medida dele é mero efeito colateral da falsa ordem que uma sociedade compartilha.

  (sem comentários)

  Passei muito tempo tentando me adaptar ao espa?o, novas experiências e nada em que eu pudesse me agarrar, nenhuma vivência, nenhuma história relevante, tudo t?o novo e ao mesmo tempo t?o decepcionante.