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QUASE UM DESASTRE

  Eu fico pensando: amigos, inimigos, mestres, maestrinas, anjos da guarda, ... Que defini??o geral eu teria para todos esses seres? Irm?os... Isso, irm?os é a melhor defini??o para eles.

  - Como vocês est?o? – perguntou o ser de plumas se aproximando, a voz cheia de preocupa??o.

  - Feridos, mas bem, quase todos... Quem e o que é você, meu amigo?

  - Meu nome é RoupaSuja, e sou um anjo, ou era. Isso n?o importa.

  - E como se chama esse ellos que veio com você? – Adanu quis saber.

  - O nome dele é Bra?oDePedra. Como ele está?

  - Ferido, mas vai sobreviver – Itanauara tranquilizou, segurando a cabe?a de Uivo em seu colo.

  - Temos muito a agradecer a vocês. N?o teríamos sobrevivido ao dia de hoje... – Adanu reconheceu.

  - Provavelmente n?o sobreviveriam. E como ela está? – perguntou se referindo à LuaEscura.

  - Os anjos fizeram algo com ela, mas, ela parece que está bem. Parece que apenas está adormecida...

  - Eles apenas a controlaram, para que a face sombria dela n?o a pusesse a perder ao ser t?o exigida – explicou. – E ele? – perguntou se referindo a Uivo, que respirava com grande dificuldade, a cabe?a amparada no colo de Itanauara.

  - Acho que ele talvez consiga sobreviver, mesmo considerando que ele foi muito ferido – falou Itanauara pousando a cabe?a do nefelin na terra.

  - Pois eu tenho minhas dúvidas – A voz de Adanu estava muito triste. - A nossa energia de cura combinada com a dele parece que n?o est?o sendo suficientes para uma cura rápida – gemeu, os olhos tristes postos em Uivo, se aproximando dele.

  - O que far?o? Desistir?o dele? – quis saber o anjo, se referindo a Uivo.

  - N?o há o que possamos fazer. Tem uma energia de dem?nio nele, e n?o sabemos como lidar com ela. Vamos fazer-lhe companhia, pelo tempo necessário – falou Adanu continuando a aplicar energia nele, juntamente com DenteDeAlho, Canvas e Trília.

  - Mas, e se ele n?o aguentar? – quis saber Bra?oDePedra.

  - Ent?o..., será o destino, a escolha dele...

  - Por que diz isso? – Itanauara olhou com desconfian?a para Adanu.

  - Lembram que o fantasma falou que a fraqueza dele estava em n?o se aceitar como dem?nio? Talvez isso seja uma enorme verdade.

  - N?o...

  Ao se voltarem para o lado viram Allenda, o corpo arqueado e judiado, se aproximando lentamente. Ela ent?o se deixou cair de joelhos ao lado dos três. Havia dor e desespero em seus olhos, enquanto tomava com intenso carinho a cabe?a de Uivo, puxando-o para o seu colo. Com delicadeza o puxou mais para si e aqueceu o corpo para lhe dar um pouco de conforto e energia, aplicando o pouco de sua energia juntamente com a de Adanu, Canvas, Trília e DenteDeAlho.

  - Tenha cuidado, tenham cuidado todos vocês. A energia dele, como dem?nio, é muito grande. Num momento de acesso ele poderia até mesmo matá-la, Allenda – alertou Itanauara. – Ele é um dem?nio...

  - Sim, sem dúvida que ele poderia me matar, como a qualquer um de nós. Mas ele me via, ele me percebia, ele nos defendeu, mesmo quando deixou as trevas ficarem mais duras. N?o corri perigo! Foi ele que me salvou. Vocês o viram batalhando por nós. Pai, você viu isso... – gemeu apavorada num mudo pedido de ajuda.

  - Apenas sei que ele é um dem?nio, filha – falou Adanu com a voz fraca e um pouco distante, os bra?os caindo sem for?as ao lado do corpo. - E nessa batalha vi seu poder e seu descontrole. Deixe que o destino dele se cumpra. Sobrevivendo ou n?o, é o destino dele.

  - Ele é bom! Ele n?o se descontrolou. Apenas lutou contra os fantasmas – falou Ybynété. – Temos que ajudar o nosso amigo...

  RoupaSuja pousou ao lado de Uivo e o examinou com cuidado.

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  - Realmente! Talvez ele n?o sobreviva. Está muito fraco! – declarou se levantando.

  Ent?o DenteDeAlho também, enfraquecido, tirou as m?os.

  - Já n?o tenho o que oferecer – sofreu, arriando o corpo ao lado.

  - E nós já estamos muito fracas – Canvas e Trília a olharam entristecidas.

  Allenda, em desespero, se curvou sobre Uivo e aproximou sua boca do seu ouvido.

  - Que seja dem?nio ent?o, com tudo o que possa ser... – sussurrou Allenda. – Viva, dem?nio ou puma. Sei que me ouve. Sei que n?o nos fará mal... Preciso de você, Uivo – gemeu. - O que vou fazer, se me deixar? - Gemeu . – Eu menti para você, quando disse que poderia viver sem você... N?o vou conseguir...

  Adanu se aproximou e ficou de joelhos ao lado de Allenda. Com carinho p?s uma m?o em seu ombro, pedindo sua aten??o.

  - N?o deve se arriscar, minha filha. Ele lutou com enorme honra. Deve deixá-lo se ir, se for isto que tiver que acontecer.

  - N?o, n?o... – ela se recusou com determina??o. - Sei o que estou fazendo, e confio no meu julgamento e no que sinto. Ele n?o vai morrer, ele n?o vai me deixar - sofreu.

  - N?o sei o que fazer para ajudar filha – falou, uma dor líquida na voz, olhando consternado para a filha e para Uivo.

  - Acho que talvez n?o se acabe aqui... – sussurrou RoupaSuja, os olhos postos sobre Uivo. LuaEscura havia se arrastado e esticara uma m?o na dire??o de Uivo.

  Sob o olhara maravilhado e agradecido de Allenda eles estavam trocando uma névoa entre eles, que crescia e se esticava sobre Uivo, como uma fina penugem.

  - Deixem-no, deixem-no... V?o, se afastem depressa – LuaEscura murmurou. – V?o, v?o...

  Ent?o a juguena desmaiou de vez.

  Mais que depressa Ybynété tomou Allenda e Adanu e os afastou de Uivo, colocando-os com os outros feridos, logo sendo acompanhados por todos os outros.

  Depressa ele retornou e, tomando LuaEscura e DenteDeAlho, voltou para junto dos outros e se sentou. Distraído tomou LuaEscura, os olhos vagando em Uivo enquanto embalava devagar a juguena no colo.

  Allenda tirou os olhos agradecidos da adormecida juguena e se fixou em Uivo. A névoa ia tomando o nefelin, crescendo sobre ele, cobrindo-o como uma veste diáfana, como se fosse algo vivo.

  - A atitude da juguena eu entendo.... Mas, o que você falou para ele? – quis saber Adanu preocupado vendo Uivo se levantar, envolto numa neblina espessa, dura e escura à frente da comitiva.

  - Apenas que confio nele... – falou, os olhos passeando pelos olhos do dem?nio, que a observavam em paz.

  E foi ent?o que um anjo desceu de súbito ao lado de Uivo. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, com imensa velocidade tirou Uivo de perto deles e o imobilizou, apesar dele se debater com ferocidade, sem qualquer men??o de se render.

  - Ele é amigo! – gritou RoupaSuja se aproximando depressa dos dois.

  O anjo olhou diretamente para RoupaSuja. Com um sorriso simples, o soltou. Assim que refeito Uivo se empertigou e encarou o anjo em franco desafio.

  - Meu inimigo? - ouviram a voz cavernosa de Uivo tomada de intenso ódio pelo anjo que amea?ara subjugá-lo.

  De súbito Uivo avan?ou com velocidade e atingiu o anjo no peito, atirando-o longe.

  Uivo caminhou na dire??o do anjo, que lentamente se erguia. RoupaSuja se adiantou e bloqueou o seu caminho. Uivo parou e tentou p?-lo de lado, os olhos pregados no anjo. RoupaSuja firmou o corpo e tentou afastar o bra?o de Uivo.

  - Ele o testou, meu amigo – falou com suavidade.

  - Pois eu aceito o teste dele – falou na estranha voz.

  Ent?o Uivo tentou contornar RoupaSuja, e novamente ele se interp?s em seu caminho.

  Uivo fincou os olhos nele.

  Sem aviso Uivo atacou. RoupaSuja, enfraquecido pela refrega do dia, foi facilmente imobilizado e empurrado contra o solo. Uivo cresceu sobre ele, se preparando para abatê-lo com um golpe de malho.

  Allenda olhou com desespero para o anjo, que apenas assistia. Sem pensar ela se adiantou gritando para que ele parasse. Adanu tentou segurá-la, mas ela escapou.

  Em chamas se aproximou de Uivo.

  Uivo se virou ao vê-la toda em fogo. Com desprezo Uivo deixou RoupaSuja zonzo e sem for?as e se atirou contra Allenda, que n?o conseguiu resistir.

  Horrorizada, a comitiva viu Allenda empurrada contra o ch?o, enquanto um ser escuro se punha poderoso sobre ela.

  Allenda se virou para a comitiva no exato momento em que o anjo impedia que o grupo viesse em seu socorro.

  - Esperem! – Allenda pediu num fio de voz.

  Allenda come?ava a desfalecer quando, repentinamente, Uivo parou.

  O dem?nio aproximou a cara do rosto de Allenda, a neblina espessa se revolvendo, cada vez mais suave até que, mostrando toda a confus?o que tomava o dem?nio, devagar a soltou.

  Como que hipnotizados viram Uivo se ajoelhar ao lado de Allenda e respirar lentamente, os olhos presos na mo?a, que o observava fixamente.

  - Vá para junto dos seus – ela ouviu Uivo falar, rouco e abafado. – Por favor, tirem-na daqui... – pediu para a comitiva.

  Mais que depressa Ybytu se aproximou e ajudou Allenda a se afastar.

  Uivo se virou devagar e sorriu debilmente.

  à direita viram Bra?oDePedra, em pé, meio encurvado, a aten??o posta em Uivo.

  Uivo suspirou profundamente.

  Todos viram quando a neblina de súbito se tornou mais espessa, gemendo e rugindo cada vez mais alto como uma distante tempestade, se enrodilhando em torno dele que, apesar da fúria que parecia envolvê-lo, continuava em paz. Havia dor naquela neblina, havia ódio e desprezo, dava para sentir. E algo, como se fosse vivo, mostrou uma sugest?o de face na neblina, que voltou sua face para dentro, para Uivo. Com horror viram riscos vermelhos como faíscas surgirem repentinamente dentro daquela escurid?o que rugia, onde logo sumiam. A velocidade da tempestade que era Uivo aumentou, como a dor que aumentava nela. Em camara lenta o viram colocar algo em evidência, como uma mancha que tirou do cora??o, que desfez expondo-a à um corisco. Ent?o, como uma explos?o suave, num som cavo, como se tocada por uma aragem, toda aquela escurid?o gemeu como uma tempestade bem distante enquanto se elevava em fiapos e sumia no ar.

  Uivo suspirou fundo, permanecendo ajoelhado e silencioso, totalmente despoderado.

  - Está feito! – disse o anjo desaparecendo no céu.

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