Te avaliei. Eu pesei sua alma e n?o vi valor nela. Tempo, quanto tempo vai ser necessário para que valha?
1
Ent?o a rainha se afastou um pouco, ainda totalmente vestida de silêncio, os olhos se voltando para encarar a comitiva.
A revoada de borr?es ficou girando no alto, além das copas, enquanto a rainha os encarava, avaliando, procurando uma honradez que n?o havia achado antes.
Ybynété pegou um grosso toco de embaúba, que vestiu em seu bra?o direito, fazendo-o mais grosso e pesado. Com for?a bateu com ele no ch?o, fazendo um barulho oco que correu longe. Levantou o novo bra?o em desafio e, tal como os outros, ficou de prontid?o.
- Por que mataram Adanu? – Uivo perguntou diretamente para a rainha, a dor doendo em seu peito.
- Adanu estava morrendo há vários dias. Numa luta digna de um guerreiro se for?ou a chegar a este dia, para se p?r ante nós. Ele era nosso amigo. Nele confiávamos.
- Ele nos trouxe até vocês...
- Ele foi enganado! Quem os enviou foi um dos que deram continuidade à trai??o – falou com rispidez. – Vocês, danatuás, nos procuraram... Pretendem nos trair novamente? - perguntou a que estava logo à frente de Uivo, dando pouca aten??o à disposi??o da comitiva. - Vocês acharam que eles nunca mais desceriam as montanhas?
- Se vocês n?o tivessem fugido os dem?nios e seus lacaios poderiam ter sido destruídos de vez - acusou uma outra, que desceu ao lado da rainha. - Mas resolveram recuar, por medo, por covardia, por serem fracos. Se sentiram satisfeitos, fortalecidos? – acusou com os olhos mais cruéis que já tinham visto.
PisaManso ficou em silêncio, o furor diminuindo, a raiva diminuindo.
- Vocês sabiam o que estava acontecendo, o risco que todos corriam. Vocês concordaram em bloqueá-los – PisaManso acusou com tranquilidade, a voz denunciando o respeito de tinha por elas. - N?o podemos pedir desculpas pelos outros, por mais errados que tenham agido, pois n?o somos bando, nem colmeia nem formigueiro.
- Sentimos muito – Uivo lamentou. - Gostaríamos que o erro n?o tivesse sido cometido pelos que vieram antes de nós e n?o est?o mais aqui - falou, o puma esmaecendo e deixando o nefelin em seu lugar. Por um momento passou a vista pesarosa pelo despojo de Adanu, que desaparecia no ar. – Vocês o ouviram, ouviram sua alma... Ele falou em nome dos danatuás de agora, que s?o outros...
- Lutamos e morremos em glórias. N?o teríamos nos importado com uma morte gloriosa, ao buscarmos e darmos prote??o a seres honrados. A vergonha recaiu apenas em vocês, que agiram t?o covardemente. Mas, ver irm?s sendo devoradas de forma ignominiosa por aquelas aberra??es nos doeu. Essa é a dor que n?o podemos calar. Vocês n?o conhecem a profundidade da dana??o a que foram submetidas, mesmo que por um tempo muito curto. Cada morte delas, jovem e infantil guerreiro, atingia todas nós, marcava todas nós.
- Sentimos o que aconteceu... – falou Itanauara com grande suavidade. – Mas, sobre o que aconteceu naqueles longínquos dias, a verdade é que aquela guerra era uma guerra suja, como talvez seja esta em que estamos entrando. Jogo dentro de jogo. E, muitos dos aliados n?o eram confiáveis - Itanauara sabia o quanto estava arriscando, mas n?o havia outra forma. Se houvesse enfrentamento, agora, os únicos a ganhar seriam os thianahus.
A coris-negra esticou o pesco?o, os terríveis olhos fixos nos dela.
- Fomos nós as culpadas, ent?o, por avaliar mal com quem nos aliávamos? Se essa é a verdade, ent?o agora corremos o risco de avaliar mal novamente? - escarneceu a rainha.
Itanauara sentiu ent?o um choque, um impacto parecendo vir do interior de seu cérebro. O panico come?ou a se insinuar, e lutou para resistir. Ent?o tudo se desvaneceu, e soube que for a sondada.
Ao focar novamente na coris-negra, pensou ver um misto de escárnio e curiosidade.
A rainha avan?ou a cara, ficando a pouca distancia de Uivo, que se mantinha tranquilo. Uivo fez um movimento com a m?o, pedindo calma ao ouvir ruídos incomodados na comitiva. Com tranquilidade a encarou.
- Vocês foram honradas, e n?o foram desmerecidas. Antes, somos nós que carregamos a marca. Vocês podem nos sondar, podem olhar o que somos e o que podemos ser. Vejam, nenhum de nós pode prometer ser íntegro e n?o cometer falhas em tempos comuns, que dirá em tempos como estes. Mas cada um, sendo o seu melhor, seguirá sendo dono de seu próprio destino. Por meu lado, só ver vocês encheu-me de...
Uivo se calou. A falta da palavra o incomodou. Queria dizer que sentia como se tivesse entrado em lugar sagrado, queria dizer que se sentia premiado. Mas n?o havia palavras, e ele se calou.
A rainha se aproximou mais um pouco, os olhos parecendo perfurar sua alma.
Ent?o ela recuou. Com um movimento brusco saltou do galho e voou com extrema violência e rapidez. Um barulho ensurdecedor de uma poderosa revoada, e logo havia só o silêncio.
- Será que elas v?o voltar? - perguntou Ybynété examinando as folhagens das árvores.
- Acho que n?o... Pelo menos por hora... – disse Archabarr.
- Ent?o é um bom come?o n?o terem atacado a gente, n?o é? – Ybynété perguntou alegre, tirando o tronco de embaúba.
- é, acho que sim! - desconfiou PisaManso.
Ybytu aproximou-se de Itanauara, sentada ao lado do corpo de Adanu, já quase dissolvido. Em pouco tempo sobre a grama nada mais havia, a n?o ser a dor da perda de um ente querido e o pequeno cristal rosáceo que ele pusera sobre a grama, ao seu lado, logo que as coris-negras se anunciaram. Itanauara o apanhou com extremo cuidado e, absorta, se p?s a ouvi-lo. Ela tinha o rosto iluminado pela luz do cristal que parecia tê-la hipnotizado, toda concentrada no que somente ela via e ouvia.
Todos ficaram quietos, aguardando que Itanauara despertasse de sua conversa com o cristal.
Assim que abriu os olhos sentiram que havia uma diferen?a sutil; ela parecia ter envelhecido um pouco. Até mesmo sua voz estava diferente, mais pensativa.
Allenda sorriu para Uivo, que se aproximara do grupo. Allenda viu seu rosto e viu que ali havia paz e admira??o.
- Itanauara, me diga: a coris-negra, ela te olhou?
Itanauara olhou pensativa para o rosto de PisaManso, e viu ali preocupa??o.
Sorriu.
- Estivemos perto demais da destrui??o. Elas nos julgaram...
- N?o senti nada! – revelou Dhorn, o que foi confirmado por todos os outros, que disseram que n?o sentiram qualquer julgamento.
- Eu vi que foram observados, de relance. Tenham certeza de que foram avaliados, pesados.
- Ent?o fomos... aprovados? – sorriu Ybynété.
- N?o sei, bom amigo! Elas têm muitas mágoas, apesar do longo tempo. Mas elas est?o curiosas, o que pode ser um bom sinal. Senti que elas querem ter esperan?a. Mas, n?o devemos nos enganar. Por um relance eu vi uma das noturnas, e percebi o quanto seria fácil para elas nos destruírem.
- O que faremos ent?o? – perguntou Allenda, os olhos vasculhando as sombras da floresta, tentando esconder bem fundo a dor da perda.
- Precisamos continuar – Itanauara falou com tranquilidade. - O que tínhamos que fazer aqui está feito.
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- Ent?o essa realmente era uma miss?o?
- Sim, PisaManso, essa era uma das miss?es. Come?amos danush, e muitos se foram, e outros vieram, e continuamos danush. Mas, somos mais que isso. Vocês já ouviram sussurros sobre os semnome, n?o?
Ninguém respondeu. A aten??o estava posta sobre Itanauara, que continuou:
> Pois os semnome existem, e sempre fomos nós. Adanu me pediu, antes de morrer, que lhes mostrasse a verdade.
- E o que isso significa, Itanauara? – perguntou Archabarr.
- Significa que n?o vamos nos unir a qualquer exército, n?o em definitivo. Significa que iremos continuar, que subiremos essas montanhas. Tínhamos muitos objetivos, como proteger totens de poder, locais sagrados e libertar mortos e... encontrar as coris-negras, evitando que os dem?nios lhes deitassem intens?es. E, agora, temos que seguir.
- Entendo... – suspirou Ybytu.
- Você e Allenda, e logicamente Adanu, sabiam sobre o semnome, porque eram do conselho – cismou Uivo. – Temos uma grande miss?o, pelo que vejo.
- Você fala em subir as montanhas?
- Sim, Ybytu.
- Já falamos sobre isso. Levar a guerra até eles... – estranhou Ybytu. – O que há de t?o especial nisso?
- N?o é para levar a guerra até eles que os semnome foram pensados. Sobre a montanha existem 13 portais, por onde os dem?nios podem transitar entre os mundos deles e o nosso. Temos que descobrir onde est?o e destruir aqueles que acaso estejam desprotegidos para os dem?nios e aqueles em que eles já tenham deitado as m?os.
- Isso quer dizer que, sobre o grande portal...
- Nós iremos destruir o portal do dem?nio, Allenda... Iremos destruir a porta do sol, no meio da sua capital – confirmou com a voz tranquila.
Todos ficaram quietos, se entreolhando. Itanauara aguardou, até que toda a enormidade do que teriam que fazer ficasse evidente.
> Perdemos Adanu, n?o teremos o auxílio das coris-negras - continuou. - Grandes perdas sim. No entanto, quem sabe o auxílio que ainda teremos? Devemos continuar, n?o há por que desistir. Para prote??o da nossa miss?o, por enquanto n?o devemos comentar mais sobre quem somos – avisou para as faces pensativas que buscavam absorver tudo o que aquilo representava. - Somente nós sabemos quem e o que somos, ninguém mais. Alguns dos conselhos sabem que somos os semnome. Ent?o, est?o comigo?
- Se entendi bem, está nos pedindo para subir as montanhas, na surdina, encontrarmos portais e destruí-los? é isso? – quis saber Dhorn.
- Sim, dentre outras coisas, é isso que estou pedindo. Essa é uma das miss?es dos semnome.
- Eu estou pronta – confirmou Allenda.
Itanauara passou os olhos por todos e sorriu, vendo que todos concordavam.
- Mas, por enquanto, há algo que ainda devemos fazer... – Allenda observou cada um, vagarosamente.
- E o que é, Allenda?
- Temos que continuar a batalha aqui embaixo. Só devemos partir quando os Danatuás chegarem e barrarem qualquer tentativa de avan?o dos thianahus.
- N?o os ajudar também n?o está em meus planos – falou Uivo, a voz dura e firme. – Antes de sermos semnome somos guerreiros, somos danatuás. E nossos inimigos est?o aqui!
Itanauara levantou os olhos para o céu tristonho e respirou fundo.
- Vocês sabem que pouca diferen?a faremos na batalha que está para ser desencadeada por aqui...
Itanauara aguardou, pesando o silêncio, examinando as fei??es.
- Sei que um guerreiro pode ser uma grande diferen?a. S?o os nossos amigos que aqui est?o lutando por essas terras e por nós. N?o gostaria de perder nenhum deles – falou Ybynété, o rosto sério.
Todos se viraram e o observaram, Era raro ver tanta clareza e firmeza em Ybynété que n?o fosse dentro de uma batalha, e isso sempre era surpreendente. Talvez tenha sido isso que obrigou Itanauara a se rever. Com um sorriso a viram suavizar o olhar, e concordar com um movimento de cabe?a.
- E há algo mais – falou Canvas. – Taramela diz que os coloridos est?o se preparando para cercar Danbara. Eles est?o atacando vilas na retaguarda, para poderem avan?ar contra a retaguarda dela.
- Ent?o, n?o temos tempo a perder – falou PisaManso, a voz séria.
- Vocês est?o certos! Nenhuma batalha deveria ficar sem guerreiros t?o formidáveis quanto vocês. Ent?o se preparem, pois uma grande batalha está para come?ar. Dhorn, o que tem sobre a comitiva de Danbara?
- Ela está marchando contra os contrafortes, tentando empurrar os thianahus para as raízes das montanhas. Eles enviaram grandes batalh?es para cercá-la. O tempo escorre para ela.
Itanauara ficou um tempo em silêncio, avaliando, buscando entender o cenário em que Danbara se movimentava.
- Está certo! – falou por fim. - Estamos indo para a guerra, e por isso, temos que crescer. Ent?o vamos arregimentar quantos guerreiros encontrarmos pelo caminho. Vamos caminhar como um exército. Vamos colocar esses dem?nios para correr.
Sem mais qualquer palavra Itanauara se levantou e guardou o cristal na bolsa de cipó que fora de Adanu. Sorriu para cada um e, virando-se, sem olhar para trás, tomou a dire??o da floresta.
Allenda parou ao perceber que Uivo permanecia parado, pensativo.
Ela se aproximou.
- Ela te sondou, n?o foi? – perguntou apoiando sua m?o no ombro dele.
Ele baixou os olhos para ela e sorriu.
- Sim, e vi o momento em que ficou indecisa se eu deveria continuar vivo ou n?o.
- E ela te deixou vivo... Ela tem tanto poder, assim?
- N?o, n?o tem! Somos nós que damos poder aos que querem nos destruir.
- E você se deixaria destruir, Uivo?
- Provavelmente... Eu confiei em seu julgamento.
- Foi aqui que um dem?nio aceitou o julgamento delas, em paz. Talvez, Uivo, tenha sido isso que nos salvou. Sua atitude foi corajosa e honrada, e foi nosso espelho.
Uivo a observou, e sorriu.
- Ela viu o que sou, mas n?o viu você... Ela teria ficado admirada.
Allenda o observou com carinho. Os grandes olhos suaves e gentis.
> Triste por seu pai? – perguntou ele mudando de assunto, enquanto tomavam o caminho atrás dos outros.
- Sim, pela sua falta, mas, n?o pela sua morte! Ele partiu com honra.
- Sim... Sentiremos muito a sua falta. Sabe sobre o que Adanu sussurrou para Itanauara antes de morrer?
Allenda o examinou, e sorriu.
- Curioso, héim? Mas sim, eu ouvi parte - confessou.
- Eu posso saber? Algo que ela n?o nos contou...
- Ele disse o seu nome... Parece que ele o tinha em grande estima, on?a...
- Entendo! Eu também o tinha em grande conta. Ent?o... Ent?o está quase na hora de desaparecermos, é isso?
- Sim, quase... Isso te incomoda?
- Por que deveria?
- Ora, Jádina...
Uivo sorriu.
- Ora, já falamos sobre ela... – sorriu. - Ela é uma guerreira formidável.
- E muito bonita também...
- Ah, sim, ela é muito bonita... Vejo sintomas de ciúmes?
Allenda o olhou, os passos tocando suaves o ch?o.
- Dem?nio convencido... N?o, foi apenas uma observa??o. Temos que saber onde está o pensamento daqueles de quem podemos depender – falou se afastando para o meio dos outros.
Uivo ficou observando-a, sentindo seu cora??o se apertar.
Ent?o ficou pensando na pergunta que Adanu lhe fizera uma vez, assim que voltara da sua excurs?o com o anjo e o potaraobi.
Ele estava quieto, meio afastado, observando discretamente Allenda de uma pequena distancia, quando sentiu alguém se sentando ao seu lado.
Era Adanu, que apenas ficou ali, sentado, quieto. Ent?o, inspirando demoradamente, com o rosto preocupado o encarou.
- O que faria para protegê-la?
- Como? – Uivo o encarou, o rosto se avermelhando, o cora??o batendo pesado.
- Allenda... O que faria para proteger minha filha?
Uivo levantou o rosto e a observou mais uma vez.
- Aceitaria morrer por ela...
- E se tornar para sempre dem?nio... Aceitaria até mesmo isso, se assim a pudesse proteger? Sim, eu sei desse risco, de que receia que talvez o dem?nio possa subjugar sua alma se ficar muito tempo poderado como ele. N?o acredito nisso, mas digamos que esse risco exista como real, caso n?o aprenda a controla-lo.
Uivo ficou inquieto. Era estranho conversar com alguém sobre um medo que vinha corroendo sua alma ultimamente.
- Sim, esse risco existe. Como soube?
- Vejo o receio que o toma quando se podera em dem?nio, e vejo a luta que trava para se despoderar. E vi que isso vem se intensificando. Uivo, já percebeu que o dem?nio vive do medo?
Uivo examinou os olhos de fogo de Adanu, e sorriu. Muitas vezes temos a resposta, ou parte dela, em nossas m?os, e n?o conseguimos vê-la, ou mesmo notar sua enormidade e clareza.
- Sim, eu sei que ele se alimenta e se fortalece com o medo que cria.
Adanu sorriu suave.
- Ent?o, aceitaria até mesmo essa desdita por ela?
Uivo ficou em silêncio, os olhos perdidos no ch?o. Ent?o levantou o rosto, encarando seriamente os olhos de fogo de Adanu.
- Sim, até mesmo isso...
- Mesmo sabendo que, como dem?nio em definitivo, teria que deixá-la ir?
Uivo n?o conseguiu sufocar o gemido de dor. Sua mente se contorceu na dor reconhecida, na tortura que vezes sem conta o tomava.
- Sim... – gemeu, empurrando o desespero para o fundo de sua alma.
- Você será capaz de se transformar, Uivo? Será capaz de trazer o dem?nio para fazer parte da comitiva? Ela precisará muito de algo assim.
Uivo baixou a cabe?a, uma dor apertando seu peito.
- Sim, há um bom tempo eu posso me transformar quando assim o desejo, vocês sabem disso – confessou num fio de voz.
- E se afastar de todos, quando o dem?nio te tomar e n?o quiser mais ir embora?
Uivo o encarou.
- Sinceramente n?o sei! Desconfio que posso.... – Ent?o suspirou fundo, pensando no que poderia acontecer com Allenda se ele, por esperan?a, insistisse em permanecer ao lado dela. – Sim, por ela eu me afastaria – gemeu.
- Você precisa se esfor?ar mais, meu amiguinho, em unir em paz todas suas partes, todas suas mentes. N?o tenha medo de se encarar...
- Estou me esfor?ando, Adanu.
- Sei que sim. Obrigado, Uivo. Mesmo que ela n?o queira, proteja-a – se despediu. Devagar se levantou e se afastou, procurando a companhia de Itanauara.
Uivo sorriu para Allenda, que virara o rosto em sua dire??o por alguns segundos, um sorriso malicioso se escondendo na face que tanto amava.
II
Em silêncio, envoltos em pensamentos, seguiram para o interior, varando a madrugada. Só em um momento Taramela olhou por sobre o ombro de Ybynété, cumprimentando discretamente o que os seguia.
O anjo se ocultou e, com cuidado, observou o sombra que, de muito alto, sondava a comitiva. O anjo apoiou a m?o sobre o cabo da espada, mas relaxou ao vê-lo girar sobre si mesmo, fuma?a espessa, espichando-se em cauda chumbo, espiralando, rodeando, girando aparentemente sem sentido, como se procurasse algo que insistia em se manter oculto. Viu que ele n?o estava satisfeito e parecia frustrado. Aliviado viu quando ele, numa lufada se desfez, perigoso, mortal.
Devagar deixou a espada descansar ao lado do corpo.
- Você gastou energia demais para se aprofundar tanto, e para ficar todo este tempo espionando, n?o foi? Que pena n?o ter apreendido muita coisa, e o que apreendeu ser de t?o baixa qualidade – cismou, recolhendo do lugar onde a comitiva estivera reunida a bolha de prote??o e isolamento que havia lan?ado.