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Capítulo 4 - Entre Magia e Memórias

  O sol ainda era tímido no horizonte, pintando o céu com tons suaves de laranja e rosa, quando Hakuro despertou. O ar da manh? estava fresco, carregado com o aroma das flores do jardim que entrava pela janela entreaberta. Como sempre, Arysa estava lá, pronta para ajudá-lo a come?ar o dia.

  — Bom dia, Hakuro-sama — disse ela, com seu sorriso caloroso enquanto o ajudava a se trocar. — Dormiu bem?

  Hakuro assentiu, mas havia um brilho diferente em seus olhos roxos. Ele estava ansioso, pensativo. Ainda assim, seguiu sua rotina habitual, sentando-se à mesa onde Arysa já havia preparado seu café da manh?: p?o fresco, geleia de frutas silvestres e um copo de leite morno.

  Enquanto dava pequenas mordidas no p?o, Hakuro finalmente quebrou o silêncio.

  — Arysa... — come?ou ele, hesitante. — Minhas novas instrutoras... já est?o acordadas?

  Arysa piscou, surpresa com a pergunta. N?o era comum para uma crian?a de cinco anos demonstrar tanta curiosidade sobre os hábitos dos adultos. Ela sorriu, ajustando uma mecha de cabelo castanho atrás da orelha pontuda.

  — Creio que sim, Hakuro-sama. Elas parecem ser pessoas dedicadas, e provavelmente já est?o se preparando para o dia. Por quê? Está ansioso para come?ar?

  Hakuro baixou os olhos por um momento, girando o copo de leite com cuidado antes de responder.

  — Sim... só queria saber mais sobre elas. S?o fortes, n?o s?o?

  Arysa riu suavemente, balan?ando a cabe?a.

  — Pelo que ouvi dos outros criados, sim. E parece que têm muito a ensinar. Mas n?o se preocupe tanto, Hakuro-sama. Você vai descobrir tudo isso em breve.

  Terminando seu café rapidamente, Hakuro levantou-se da mesa, determinado.

  — Ent?o eu vou encontrá-las agora — anunciou, já caminhando em dire??o à porta.

  Arysa observou-o partir, balan?ando a cabe?a com um sorriso. Ele realmente era diferente das outras crian?as.

  Quando chegou à entrada da mans?o, Hakuro encontrou Raka e Myka já aguardando, cada uma com sua postura característica. Raka estava encostada casualmente na parede, polindo sua espada com um pano macio, enquanto Myka folheava um pequeno grimório, murmurando algo que parecia uma fórmula mágica.

  — Bom dia, Hakuro — cumprimentou Raka, erguendo os olhos para ele com um sorriso confiante. — Pronto para come?ar?

  Hakuro assentiu, embora houvesse um leve tra?o de nervosismo em sua express?o. Ele olhou para Myka, que guardava o grimório em uma bolsa na sua cintura antes de se dirigir a ele.

  — Antes de come?armos o treinamento, precisamos providenciar algumas coisas — explicou Raka, com sua voz firme. — Vamos ao ferreiro. Uma armadura leve será essencial para seus exercícios físicos, além disso precisaremos de espadas de treino, as que usamos ontem est?o muito gastas e n?o aguentar?o o seu treinamento.

  Myka endossou as palavras de Raka com um aceno.

  — E também vamos visitar a loja do artes?o. Uma varinha adequada será importante para suas li??es de magia. N?o podemos come?ar sem as ferramentas certas.

  Hakuro piscou, absorvendo as informa??es. Ele nunca havia pensado em algo t?o simples quanto uma armadura ou uma varinha, mas fazia sentido. Se ele realmente ia aprender a lutar e usar magia, precisaria estar bem equipado.

  — Entendido — respondeu ele, com um tom sério que contrastava com sua idade. — Quando vamos?

  Raka sorriu, visivelmente impressionada com a atitude do garoto.

  — Agora mesmo. Venha, o ferreiro fica logo na pra?a central. é uma caminhada curta.

  Com isso, os três deixaram a mans?o, iniciando o que seria o primeiro dia oficial de treinamento. O caminho até a pra?a central era tranquilo, com as ruas come?ando a ganhar vida à medida que os moradores da cidade iniciavam suas rotinas matinais. O som de passos ecoava nas pedras do cal?amento, misturando-se ao farfalhar das folhas das árvores que ladeavam a estrada. Hakuro caminhava entre Raka e Myka, seus olhos brilhando com curiosidade enquanto observava tudo ao redor.

  — Ent?o... — come?ou Hakuro, hesitante, mas determinado a aproveitar cada momento. — Como será o treinamento?

  Raka lan?ou-lhe um olhar de lado, ainda polindo sua espada distraidamente enquanto caminhava.

  — Primeiro, vamos come?ar com o básico: postura, equilíbrio e movimenta??o. N?o adianta nada ter for?a se você n?o souber onde colocar os pés ou como distribuir seu peso. Combate é tanto sobre estratégia quanto sobre for?a bruta.

  Hakuro assentiu, tentando absorver cada palavra. Ele já havia imaginado que aprender a lutar seria mais complicado do que simplesmente segurar uma espada, mas ouvir Raka explicar de forma t?o direta fez parecer ainda mais desafiador. Enquanto ela falava, uma lembran?a vaga come?ou a emergir em sua mente, como o eco de um passado há muito esquecido.

  Equilíbrio.

  Ele se lembrava vagamente de quando voava entre montanhas como drag?o, ajustando cada músculo de suas asas para enfrentar correntes de vento implacáveis. Naquela época, o equilíbrio n?o era apenas uma quest?o de sobrevivência; era uma arte refinada ao longo de milênios. Agora, porém, ele estava preso a um corpo humano frágil, incapaz de replicar aquela gra?a poderosa. A frustra??o borbulhou dentro dele, mas ele a afastou rapidamente, concentrando-se nas palavras de Raka.

  — E a magia? — perguntou ele, virando-se para Myka. — Como vou aprender a usá-la?

  Myka sorriu, ajustando uma das cinco caudas douradas que balan?avam atrás dela. Ela parou por um momento, inclinando-se levemente para ficar na altura de Hakuro.

  — A magia come?a com controle — explicou ela, sua voz suave, mas cheia de autoridade. — Você precisa aprender a sentir sua mana, tomando consciência da energia que flui dentro de você. Depois disso, vem o controle consciente: moldar essa energia para criar feiti?os. No início, ser?o coisas simples, como o escudo que usou ou pequenas chamas. Mas, com tempo e prática, você poderá fazer muito mais do que isso.

  Enquanto Myka falava, outra memória surgiu em sua mente, dessa vez mais vívida. Ele se viu novamente como drag?o, pairando acima de uma vasta planície coberta por exércitos inimigos. Com um simples movimento de sua mandíbula, cuspia bolas de fogo que transformavam o campo de batalha em um inferno ardente. As esferas de chamas eram t?o intensas que podiam derreter rochas ou incinerar legi?es inteiras em segundos. Na época, era algo que ele fazia sem esfor?o, quase instintivamente.

  A lembran?a foi t?o vívida que ele sentiu um calor familiar crescer dentro de si. Sem perceber, seus olhos roxos brilharam intensamente, e uma esfera de chamas come?ou a tomar forma — flutuando acima de sua própria cabe?a e de Myka, irradiando calor suficiente para fazer o ar ao redor tremeluzir.

  Raka paralisou no mesmo instante, sua m?o já na espada, pronta para agir caso algo saísse do controle. Myka, por outro lado, olhou para cima com uma express?o de surpresa misturada com fascínio. Ela ergueu uma sobrancelha, observando a bola de fogo que pairava logo acima dela.

  — Hakuro... — chamou ela, sua voz calma, mas firme. — Você está fazendo isso conscientemente?

  Hakuro piscou, saindo de seu transe momentaneo. Ele olhou para cima, surpreso ao ver a bola de fogo flutuando sobre eles. Rapidamente, tentou dissipá-la, mas ela apenas vacilou antes de aumentar levemente de tamanho.

  — Eu... eu n?o sei como parar! — exclamou ele, visivelmente nervoso.

  Myka trocou um olhar rápido com Raka, que ainda estava alerta, mas relaxou ligeiramente ao perceber que n?o havia perigo imediato.

  — Está tudo bem, Hakuro — disse Myka, com calma e suavidade. — Isso é exatamente o que eu estava explicando. Magia sem controle pode ser perigosa, mas também é uma oportunidade de aprendizado. Agora, respire fundo e tente sentir a mana dentro de você. Visualize ela diminuindo, fluindo lenta e calmamente até que a bola de fogo desapare?a completamente.

  Hakuro assentiu, fechando os olhos por um momento. Ele tentou se concentrar, buscando aquela sensa??o familiar de energia dentro de si. Lentamente, a bola de fogo come?ou a encolher, a cada respira??o ele sentia o fluxo diminuir, até que finalmente a bola ardente de fogo desapareceu, deixando apenas um leve calor residual no ar.

  Raka soltou um suspiro audível, embainhando sua espada.

  — Impressionante — murmurou ela, balan?ando a cabe?a. — Mesmo sem treinamento, você consegue conjurar algo assim? Sua magia é... incomum, para dizer o mínimo.

  Myka concordou, mantendo o tom sério enquanto se dirigia a Hakuro.

  — Hakuro, você precisa ter cuidado. Sua mana é incrivelmente poderosa, especialmente para alguém da sua idade. Se perder o controle, pode acabar ferindo a si mesmo ou aos outros. Mas isso também significa que você tem um grande potencial. Devemos trabalhar juntos para garantir que você domine essas habilidades antes que algo inesperado aconte?a. Tivemos sorte que em seu panico n?o disparou sua magia contra nenhum prédio e nem em ninguém ou poderia ter causado um grande acidente.

  Hakuro abaixou a cabe?a, sentindo uma mistura de orgulho e preocupa??o. Ele sabia que havia feito algo impressionante, mas também entendia que precisava aprender a controlar melhor sua magia. As palavras de Myka ecoaram em sua mente, refor?ando a importancia do que ela estava ensinando.

  — Entendido — respondeu ele, sua voz firme apesar da pouca idade. — Vou me esfor?ar mais para controlar minha mana.

  Myka sorriu, colocando uma m?o gentil em seu ombro.

  — Tenho certeza de que você vai conseguir. Só n?o se apresse demais. Cada passo é importante. Acredito que manter a respira??o lenta e tranquila pode ser um bom exercício para se acalmar.

  Enquanto eles continuavam a caminhar, Raka interveio novamente, mudando o tom da conversa para algo mais prático.

  — Além disso, Hakuro, nunca subestime o valor de uma boa defesa. Mesmo os guerreiros mais fortes sabem que evitar um golpe é t?o importante quanto desferir um. E aqui é onde a magia pode ser útil também.

  Essa última frase fez Hakuro lembrar de uma batalha antiga, travada em um campo coberto de cinzas. Ele havia usado suas escamas como escudo, resistindo a ataques que teriam dizimado exércitos inteiros. Agora, porém, sua pele humana era frágil, incapaz de suportar sequer um golpe leve. A ideia de depender de barreiras mágicas parecia estranha, de certa forma até indigna. Mas ele sabia que precisava aceitar suas limita??es atuais se quisesse crescer.

  — Um escudo mágico pode salvar sua vida em momentos críticos. — Myka concordou. — Magias s?o ferramentas valiosas, especialmente quando combinadas com habilidades físicas, além de bloquear ou desviar o dano é possível melhorar sua for?a ou sua agilidade para se esquivar melhor.

  Hakuro assentiu novamente, sentindo-se um pouco sobrecarregado, mas animado com as possibilidades. Ele queria perguntar mais, mas antes que pudesse abrir a boca, Raka apontou para uma grande constru??o à frente.

  — Ali está a oficina do ferreiro — disse ela, indicando uma estrutura robusta com portas duplas de madeira maci?a. O som metálico de marteladas ecoava pelo ar, acompanhado pelo cheiro característico de metal aquecido.

  Os três entraram na oficina, onde o ambiente era quente e iluminado por forjas ardentes. Um homem corpulento, com bra?os musculosos e um avental coberto de fuligem, trabalhava concentrado em uma pe?a de armadura metálica. Ao notar os visitantes, ele largou o martelo e limpou as m?os em um pano.

  — Bem-vindos! — cumprimentou o ferreiro, com uma voz grave e amigável. — Em que posso ajudá-los?

  Raka foi a primeira a falar.

  — Precisamos de uma armadura leve para treinamento. Algo resistente, mas flexível o suficiente para permitir movimentos amplos.

  O ferreiro assentiu, estudando Hakuro por um momento.

  — Entendo. Uma crian?a com potencial, hein? Tenho exatamente o que precisam. Volto em um instante.

  Enquanto o ferreiro vasculhava suas prateleiras, Myka aproveitou a oportunidade para continuar instruindo Hakuro.

  — Lembre-se, Hakuro, os equipamentos s?o importantes, mas n?o s?o tudo. Sua mente e seu cora??o s?o suas maiores armas. Use-os bem.

  Hakuro olhou para ela, percebendo a seriedade em sua voz. Ele assentiu, determinado.

  — Vou me esfor?ar ao máximo.

  Quando o ferreiro retornou, ele carregava uma armadura leve de couro, projetada especificamente para treinamento. A pe?a era feita de couro curtido com uma textura fina e flexível, tingida de um tom marrom-escuro. Refor?os discretos de bronze adornavam os ombros e o peitoral, oferecendo prote??o extra sem comprometer a mobilidade. O couro havia sido tratado para resistir a cortes superficiais e desgaste, tornando-o ideal para sess?es intensas de treinamento. No centro do peitoral, havia um símbolo gravado em relevo — um drag?o estilizado envolto em chamas, sutilmente entalhado na superfície.

  — Esta aqui é perfeita para um jovem guerreiro como você — disse o ferreiro, entregando a armadura a Hakuro. — Ela foi feita para aguentar bastante uso, mas ainda é leve o suficiente para n?o atrapalhar seus movimentos.

  Hakuro pegou a armadura, admirando os detalhes. Parecia simples, mas havia algo de especial nela — talvez fosse o símbolo do drag?o, que parecia pulsar levemente sob a luz da forja, como se reconhecesse algo nele.

  Raka examinou a pe?a cuidadosamente antes de aprovar.

  — Excelente trabalho — disse ela ao ferreiro enquanto ajudava Hakuro a vesti-la. — Também precisaremos de duas espadas de madeira para treinamento. Uma para ele e outra para mim.

  O ferreiro assentiu e voltou rapidamente com duas espadas de madeira. Eram espadas curtas, com cabos firmes e laminas polidas, projetadas para simular o peso e o equilíbrio de armas reais sem causar danos graves durante os exercícios. Hakuro segurou a sua com cuidado, sentindo o peso em suas m?os. Era diferente de qualquer coisa que ele já havia segurado, mas o crescente entusiasmo dentro dele o impulsionava a querer experimentar algo novo.

  — Essas servir?o bem para come?ar — comentou Raka, testando o equilíbrio de sua própria espada de madeira. — Quando estiver pronto, passaremos para armas de verdade.

  Hakuro assentiu, sentindo um novo nível de determina??o ao segurar a espada. Ele mal podia esperar para come?ar o treinamento.

  Antes de sair Hakuro n?o pode conter sua curiosidade.

  — Por que tem esse drag?o nessa armadura? — Perguntou demonstrando em sua voz mais surpresa do que curiosidade.

  — Foi feita por um aprendiz há muitos anos, ele era um draconato e sempre gravava essa figura em suas pe?as. Era sua assinatura, por assim dizer. — Explicou o ferreiro com um sorriso no rosto e sentido uma grande satisfa??o por Hakuro ter perguntado sobre a história do equipamento.

  — Obrigado, cuidarei bem dela. — Disse Hakuro com o rosto levemente corado.

  Em seguida, foram para a loja do artes?o, onde uma varinha adequada seria escolhida para Hakuro. Durante todo o percurso, Raka e Myka continuaram a compartilhar conhecimentos, criando uma base sólida para o treinamento que estava prestes a come?ar.

  No entanto, enquanto caminhavam, Raka lan?ou um olhar pensativo para Myka.

  — Essa demonstra??o de mana... — come?ou ela, hesitante. — N?o sei bem como avaliar o nível de poder dele. Parece muito maior do que qualquer coisa que já vi em alguém t?o jovem. E você, Myka? Consegue sentir algo?

  Myka franziu a testa, refletindo por um momento.

  — é difícil dizer. Eu consigo sentir que sua mana é vasta, mas n?o tenho como medir exatamente o nível de suas bên??os ou prote??es. Ele claramente tem algo especial, algo que vai além do que estamos acostumadas a ver. Talvez os deuses tenham lhe dado nível 4 ou até mesmo 5.

  Hakuro ouviu a conversa em silêncio, mas n?o comentou nada. Ele sabia que suas bên??os e prote??es eram únicas, mas também entendia que revelar isso poderia trazer complica??es. Por enquanto, preferiu manter seus pensamentos para si mesmo.

  Após uma breve caminhada, eles chegaram à loja do artes?o. Era uma constru??o modesta, com detalhes intrincados esculpidos nas portas de madeira envelhecida. Acima da entrada, uma placa de bronze carregava uma varinha e um cajado cruzados além de inscri??es mágicas que brilhavam suavemente, indicando que aquele era um lugar onde magia e artesanato se encontravam. Ao entrarem, o som de sinos suaves ecoou pelo ar, anunciando sua chegada.

  O interior da loja era um verdadeiro espetáculo para os sentidos. Prateleiras repletas de varinhas, cajados e outros artefatos mágicos cobriam as paredes até o teto alto. Cristais de cores vibrantes flutuavam em globos de vidro, emanando luzes suaves que dan?avam pelo ambiente. O cheiro de madeira polida misturava-se ao aroma de ervas secas e po??es, criando uma atmosfera quase encantadora.

  Um homem idoso, com longas vestes azuis e cabelos grisalhos que pareciam flutuar levemente, aproximou-se deles com um sorriso caloroso. Seus olhos brilhavam com sabedoria antiga, e ele carregava um livro grosso preso debaixo do bra?o, como se estivesse pronto para registrar algo importante.

  — Bem-vindos — disse o artes?o, sua voz calma e melodiosa. — Em que posso ajudá-los hoje?

  Myka foi a primeira a falar, ajustando suas vestes por cima das caudas douradas.

  — Estamos aqui para encontrar uma varinha adequada para nosso jovem aprendiz — explicou ela, colocando uma m?o gentil no ombro de Hakuro.

  O artes?o assentiu, seus olhos pousando sobre Hakuro com uma express?o intrigada. Ele pareceu estudar o garoto por um instante antes de se virar para uma das prateleiras. Com movimentos precisos, retirou várias varinhas de diferentes materiais e formas, dispondo-as cuidadosamente sobre um balc?o de pedra polida.

  — Escolher uma varinha é um processo muito pessoal — disse o artes?o, enquanto organizava as op??es. — Ela deve ressoar com sua mana e suas inten??es. Experimente algumas e veja qual se conecta melhor com você.

  Hakuro entregou sua espada a Raka, em seguida, observou as varinhas com curiosidade, sentindo uma leve ansiedade crescer dentro de si. Ele sabia que aquela escolha seria crucial para seu desenvolvimento mágico. Uma a uma, ele pegou as varinhas oferecidas, mas nenhuma delas parecia certa. Algumas emitiam pequenas faíscas fracas, enquanto outras simplesmente permaneciam inertes em suas m?os.

  Foi ent?o que seus olhos foram atraídos para uma varinha que ainda repousava na prateleira mais alta. Era diferente das outras: negra como a noite sem estrelas, com um brilho quase imperceptível que parecia pulsar de forma sutil. Sua superfície era lisa e elegante, com delicadas inscri??es prateadas que lembravam runas antigas. O artes?o notou o brilho no olhar do garoto, e ao seguir a dire??o em que Hakuro olhava, foi até a prateleira e a retirou cuidadosamente.

  — Ah, essa aqui… — murmurou o artes?o, com um tom de reverência na voz. — Foi feita com madeira de uma árvore que cresceu sob o solo aben?oado pelos deuses e protegida pela fadas no reino de Tyrnaria. Tem um núcleo de escama de drag?o cristalizada, rara e poderosa. Além de runas élficas gravadas com uma tinta infundida com mithril, que aumentam a eficiência do uso de mana. N?o é uma varinha para qualquer mago, ainda assim, experimente.

  Hakuro estendeu a m?o hesitante, sentindo uma estranha conex?o com o objeto desde o momento em que seus olhos a avistaram. Assim que segurou a varinha, uma onda de energia percorreu seu corpo. As inscri??es prateadas come?aram a brilhar intensamente, e uma leve brisa mágica percorreu a loja, fazendo as ervas secas tremularem e os cristais de mana ao redor, brilharem mais intensamente por um instante.

  Raka e Myka trocaram olhares impressionados, enquanto o artes?o apenas sorriu, como se já esperasse aquela rea??o.

  — Parece que ela também o escolheu — disse o artes?o, com um toque de satisfa??o na voz.

  Myka concordou, seus olhos fixos na varinha.

  — é uma escolha poderosa — comentou ela, dirigindo-se a Hakuro. — Essa varinha será uma aliada formidável, mas lembre-se: é você quem controla a magia, n?o o artefato. Use-a com sabedoria.

  Hakuro assentiu, segurando a varinha com firmeza. Ele podia sentir sua mana fluindo de maneira natural, como se a varinha fosse uma extens?o de si mesmo. Era leve, confortável e, de alguma forma, familiar. Ele n?o sabia explicar, mas sentia que aquela varinha o guiaria em sua jornada.

  — é perfeita — disse Hakuro, sua voz confiante pela primeira vez desde que haviam entrado na loja.

  O artes?o anotou algo em seu livro, murmurando palavras que pareciam ser uma bên??o para a nova parceria entre o jovem mago e sua varinha. Raka, sempre prática, perguntou sobre o pre?o, mas o artes?o apenas balan?ou a cabe?a.

  — Para alguém como ele, n?o há pre?o — murmurou o artes?o, sua voz carregada de reverência. Ele estendeu a m?o hesitante, como se quisesse tocar a varinha novamente, mas se conteve, deixando-a nas m?os de Hakuro. Seus olhos brilharam com um misto de nostalgia e orgulho. — Dei a ela o nome: Yoihana que significa "A Flor do Crepúsculo". Eu a forjei pensando em algo raro e efêmero, como aquelas flores que só desabrocham no exato momento em que o sol se p?e. Ela sempre foi especial, diferente das outras. Esperei muito tempo para ver quem seria digno dela. — Ele sorriu, seu olhar suavizando enquanto observava a varinha. — E agora... parece que finalmente encontrei o mago certo. Talvez seja melhor nos preparamos para as maravilhas que produzir?o juntos.

  Hakuro apertou a varinha com firmeza, sentindo seu peso e energia pulsarem em suas m?os. Ele olhou para o artes?o com um misto de gratid?o e reverência.

  — Muito obrigado — disse ele, sua voz sincera, mas carregada de emo??o contida. — Esta varinha... é mais do que eu poderia ter imaginado. Prometo honrá-la e usá-la com sabedoria.

  O artes?o assentiu com um sorriso sutil, como se aprovasse as palavras do garoto. Com a varinha agora em m?os, o grupo deixou a loja, pronto para iniciar o treinamento oficial de Hakuro. Cada passo dado parecia fortalecer ainda mais a determina??o do garoto.

  Enquanto caminhavam pelas ruas movimentadas da cidade, Raka interrompeu o silêncio com um tom zombeteiro.

  — Antes de irmos ao local de treinamento, precisamos pegar algumas provis?es. N?o quero que ninguém desmaie de fome no meio do dia — disse ela, lan?ando um olhar significativo para Hakuro, que corou levemente.

  Hakuro assentiu, tentando ignorar o comentário. Ele sabia que Raka estava apenas brincando, mas ainda assim sentiu uma pontada de vergonha. Afinal, ele era um drag?o ancestral, mesmo preso em um corpo humano e frágil, a ideia de ficar sem energia durante o treinamento parecia no mínimo... indigna.

  Eles seguiram até uma barraca próxima, onde um comerciante vendia p?es frescos, frutas coloridas, peda?os de queijo e garrafas de um líquido dourado translúcido que refletia a luz do sol. O aroma dos p?es recém-assados pairava no ar, misturando-se ao burburinho das pessoas que passavam pela rua. Raka escolheu alguns itens básicos enquanto Myka observava atenta, garantindo que houvesse o suficiente para todos.

  Quando as compras estavam concluídas, Hakuro notou uma garrafa cheia do líquido dourado e n?o resistiu em perguntar:

  — O que é isso?

  Myka sorriu, percebendo o interesse dele.

  — é suco de Morija — explicou ela. — Uma fruta nativa desta regi?o, conhecida por seu sabor incrivelmente doce e refrescante. Dizem que ela carrega propriedades energizantes naturais, e muitos acreditam que sua essência tenha um toque mágico. Os anci?es costumavam dizer que quem bebe o suco de Morija sente sua alma revigorada, mesmo que por um breve momento.

  Hakuro arregalou os olhos, fascinado. Mesmo em suas memórias como drag?o, ele nunca tinha ouvido falar de algo t?o único.

  — E essa fruta só cresce aqui? — perguntou ele, curioso.

  — Sim — respondeu Myka. — Ela prospera apenas nas encostas ensolaradas das montanhas ao sul da cidade, onde o solo é rico em minerais especiais. Por isso, o suco de Morija é considerado um verdadeiro tesouro por aqui. é raro encontrar algo assim fora desta regi?o.

  Raka entregou os pacotes a Myka, que os guardou em sua bolsa com um gesto casual. Hakuro observou curioso quando viu a quantidade de alimentos desaparecer dentro dela, apesar de a bolsa parecer pequena por fora.

  — Como isso é possível? — perguntou ele, inclinando-se para olhar mais de perto.

  Myka sorriu novamente, abrindo a bolsa para mostrar o interior. Dentro, havia muito mais espa?o do que parecia possível pelo tamanho externo.

  — Isto é uma bolsa mágica — explicou ela, com um toque de orgulho na voz. — Apesar de parecer simples, ela possui um encantamento que permite armazenar mais do que parece caber nela. No entanto, esta aqui tem um limite modesto. Bolsas maiores podem custar verdadeiras fortunas e s?o extremamente raras. Mesmo uma como a minha é extremamente valiosa, sendo considerada um pequeno tesouro.

  Hakuro arregalou os olhos, impressionado. Ele nunca tinha visto algo assim antes, nem mesmo em suas memórias como drag?o. Artefatos mágicos eram raros em sua época, e aquele tipo de magia prática parecia fascinante.

  — Como você conseguiu essa bolsa? — perguntou ele, incapaz de conter a curiosidade.

  Myka hesitou por um momento, como se ponderasse sobre como responder. Ent?o, com um leve sorriso nostálgico, come?ou a contar:

  — Foi um presente de um mago anci?o que salvei na floresta. Ele estava gravemente ferido, cercado por criaturas selvagens que o atacavam. Usei minhas habilidades de cura e combate para protegê-lo até que pudesse levá-lo a um lugar seguro. Quando ele recuperou a saúde, ele me deu esta bolsa como forma de agradecimento. Disse que era um artefato especial, feito por ele próprio, e que seria útil para alguém como eu.

  Raka cruzou os bra?os, balan?ando a cabe?a com um sorriso ir?nico.

  — E desde ent?o, ela anda carregando tudo o que podemos precisar. às vezes até esque?o que aquela bolsinha pode guardar metade da loja de um mercador!

  Myka lan?ou-lhe um olhar fingidamente ofendido, mas logo voltou sua aten??o para Hakuro.

  — Nem tudo precisa ser grandioso ou poderoso, Hakuro. Algumas coisas, como esta bolsa, s?o práticas e úteis no dia a dia. Talvez um dia você também tenha algo assim.

  Hakuro assentiu, absorvendo as palavras dela. Mesmo com suas memórias de drag?o ancestral, ele estava come?ando a perceber que havia muitas coisas neste novo mundo que ele ainda precisava aprender. Artefatos mágicos como a bolsa de Myka eram apenas uma delas.

  Após a breve pausa na barraca, eles retomaram a caminhada em dire??o ao local de treinamento. Raka liderava o grupo, enquanto Myka explicava mais detalhes sobre o que Hakuro poderia esperar.

  — O lugar onde vamos treinar é um campo aberto nas proximidades da cidade — disse Myka. — é tranquilo e longe de olhares curiosos, o que é importante, considerando o nível de suas habilidades. Além disso, há uma floresta próxima, caso precisemos de um cenário diferente para treinar certas técnicas.

  Hakuro acenou com a cabe?a, sentindo uma mistura de ansiedade e empolga??o crescer dentro dele. Ele mal podia esperar para come?ar.

  Ao chegarem ao campo de treinamento, Hakuro percebeu que o local era bem diferente do que ele havia imaginado. Era uma vasta área aberta nos arredores da cidade, cercada por árvores altas e com vegeta??o rasteira que dava um toque selvagem ao ambiente. O ch?o era plano e n?o havia nenhum sinal de alvos ou qualquer coisa que lembrasse um campo de treinamento, apenas a grama alta balan?ando suavemente ao vento.

  — Este é o lugar? — perguntou Hakuro, olhando ao redor com curiosidade.

  Raka assentiu, cruzando os bra?os enquanto reavaliava o espa?o.

  — Sim. é afastado o suficiente para ninguém nos incomodar, mas ainda perto o bastante da cidade caso precisemos de suprimentos extras. Além disso, aqui temos espa?o suficiente para improvisar o que precisarmos. — Ela fez uma pausa, olhando em dire??o às árvores ao fundo. — Ah, e vale a pena mencionar: alguns monstros de baixo nível costumam aparecer por aqui de vez em quando. N?o s?o amea?as sérias, mas podem ser úteis para o seu treinamento.

  Hakuro arregalou os olhos, dividido entre surpresa e preocupa??o.

  — Monstros?

  — N?o se preocupe — interveio Myka, com um sorriso tranquilizador. — Eles s?o fracos e fáceis de lidar, mesmo para iniciantes. Mas isso vai te dar uma chance de praticar suas habilidades em situa??es mais... dinamicas.

  Enquanto Myka retirava uma almofada de sua bolsa mágica e se sentava confortavelmente em um canto, Raka caminhou até Hakuro com uma espada de madeira leve em m?os. Ela a entregou ao garoto com um olhar encorajador.

  — Enquanto Myka observa, podemos come?ar com algo básico — disse ela, com um tom prático. — Mostre-me como você se move. N?o precisa ser perfeito, só quero ver até onde seu instinto natural te leva.

  Hakuro segurou a espada com cuidado, sentindo o peso familiar nas m?os. Embora fosse sua segunda vez empunhando uma arma, ainda sentia certa estranheza ao manuseá-la. Ele deu alguns passos hesitantes, movendo a espada no ar lentamente, tentando encontrar um ritmo.

  Raka observou atenta, seus olhos dourados brilhando com intensidade.

  — Você tem algum treinamento prévio? Ou é só instinto? — murmurou ela, com um meio-sorriso.

  — Acho que é instinto — respondeu Hakuro, um pouco sem gra?a. — Mas eu me lembro de ter lido sobre técnicas de combate em alguns livros além de usar galhos de árvore para tentar fazer o que lia nos livros.

  Raka assentiu, impressionada, mas logo voltou ao modo prático.

  — Bom. Isso significa que temos uma boa base para trabalhar. Agora, vamos ver como você reage sob press?o. — Ela fez uma pausa, lan?ando um olhar significativo para as árvores ao fundo. — E quem sabe... talvez um algum monstro apare?a mais cedo ou mais tarde. Seria um bom teste para você.

  Raka posicionou-se à frente de Hakuro, posicionando sua espada de treino de forma defensiva.

  — Agora defenda-se, mas sem usar sua barreira.

  Ela avan?ou lentamente, dando a Hakuro tempo para reagir. O garoto ergueu a espada, bloqueando o golpe com um pouco de dificuldade, mas mantendo-se firme.

  — Bom — disse Raka, recuando para dar espa?o. — Curve levemente a espada, desviando para o lado no momento do contato. Agora, tente defender e em seguida contra-ataque.

  Hakuro hesitou por um momento, mas logo avan?ou, tentando imitar os movimentos que havia lido nos livros. Seus golpes eram inexperientes, mas carregavam uma for?a surpreendente para alguém de sua idade.

  Após alguns minutos de prática, Raka parou e olhou para Hakuro com um sorriso.

  — Você está indo bem para um iniciante. Mas agora é hora de descansar o corpo e trabalhar na magia. Myka, é sua vez.

  Myka levantou-se de onde estava sentada, aproximando-se com um leve sorriso encorajador no rosto.

  — Agora pegue sua varinha e tente sentir a mana dentro de você. — instruiu Myka, com uma voz suave. — Visualize-a fluindo através do seu corpo, como um rio tranquilo, indo até a varinha em sua m?o. Quando estiver pronto, use sua varinha para criar uma pequena chama.

  Hakuro assentiu, concentrando-se. Ele empunhou Yoihana e tentou canalizar sua mana. Lentamente, uma pequena chama azul come?ou a dan?ar na ponta da varinha, iluminando o rosto dos três com uma luz suave.

  — Excelente — disse Myka, com um sorriso encorajador. — Agora, vamos repetir o exercício de respira??o algumas vezes, criando as chamas e as dissipando. Para hoje, vamos alternar entre o treinamento físico e o controle de mana com esse exercício. Assim, você aprenderá a equilibrar ambos.

  Hakuro abaixou a varinha e olhou para Myka com curiosidade.

  — Existe alguma magia que possa ajudar a detectar os monstros que a professora Raka mencionou? Queria saber se há algum por perto.

  Myka piscou, surpresa com a pergunta, mas logo sorriu.

  — Claro. Existem feiti?os simples para isso. Um dos mais básicos é "DETECTAR". Posso te ensinar. — Ela pegou seu Cajado e come?ou a explicar: — Essa magia amplifica sua sensibilidade à mana ao redor. Muitos monstros emanam uma energia distinta, e essa magia permite que você a "sinta". Vou te mostrar.

  Myka apontou seu cajado para o céu e disse claramente:

  — DETECTAR.

  Um leve brilho azul surgiu ao redor dela, expandindo-se em ondas invisíveis. Hakuro observou atentamente, tentando memorizar cada detalhe.

  — Sua vez — disse Myka, incentivando-o.

  Hakuro ergueu sua varinha, repetindo o comando:

  — DETECTAR.

  Após alguns segundos de concentra??o, ele sentiu uma leve pulsa??o em sua mente. Uma presen?a fraca, mas perceptível, parecia emanar de algum ponto próximo.

  — Há algo ali — disse Hakuro, apontando para um arbusto n?o muito distante.

  Myka confirmou, fazendo um sinal com os olhos para Raka. Os três caminharam até o local, e lá encontraram um pequeno slime verde, camuflado entre as folhas. O monstro permaneceu imóvel, n?o parecia hostil.

  — ótimo trabalho — elogiou Myka, orgulhosa. — Esse é um slime jovem, perfeito para testar suas habilidades.

  Raka cruzou os bra?os, observando o slime.

  — Que tal uma pausa para o almo?o antes de continuar? Já estamos aqui há algumas horas.

  Myka concordou se afastando do arbusto, tirou algumas provis?es de sua bolsa mágica, incluindo p?es frescos e suco de Morija . Eles se sentaram à sombra de uma árvore, aproveitando o momento para relaxar e conversar.

  — Ent?o, Hakuro — come?ou Raka, enquanto mastigava um peda?o de p?o —, você parece ter um talento natural tanto para o combate quanto para a magia. De onde vem esse instinto?

  Hakuro hesitou, evitando olhar diretamente para ela.

  — Eu... n?o sei ao certo. Talvez seja algo inato.

  — Inato? — perguntou Myka, curiosa. — Você já teve contato com magia ou armas antes?

  Ele virou a cabe?a em dire??o ao arbusto em que encontraram o slime, tentando desviar a aten??o sobre o assunto.

  — Já vi os criados usando magia para tarefas simples, como acender fogo ou ativar os cristais de mana para iluminar os corredores. Sempre achei fascinante. Além disso minha irm? Kyra vem me instruindo em magia, politica, geografia e todas essas coisas que qualquer filho de nobre é obrigado a saber.

  Raka franziu a testa, claramente interessada, mas decidiu n?o pressioná-lo mais.

  — Entendo. Bem, independentemente de onde venha, você tem potencial. Continue assim. — Disse Myka, percebendo o desconforto dele, enquanto sorria gentilmente.

  — Está tudo bem, Hakuro. N?o precisa ficar t?o na defensiva. Estamos apenas tentando entender melhor suas capacidades. N?o tem com o que se preocupar.

  Mas Hakuro, com um brilho calculista nos olhos, decidiu virar a mesa. Ele inclinou a cabe?a levemente, como se estivesse refletindo, e perguntou:

  — Vocês acham que essas bên??os que recebi no batismo podem influenciar minhas habilidades? Por exemplo... Kyra me disse uma vez que os portadores da bên??o do Deus da Guerra costumam ser extremamente fortes e habilidosos com algum tipo de arma, e que Symeria sempre esteve associada à magia. Poderiam essas bên??os estar me ajudando a aprender mais rápido?

  Raka e Myka trocaram olhares surpresos. Era uma pergunta inesperada, mas plausível.

  — é possível — respondeu Raka, após uma breve pausa. — As bên??os divinas s?o poderosas. Mesmo que n?o saibamos exatamente como funcionam, muitas pessoas relatam melhorias em suas habilidades depois de serem aben?oadas, inclusive a relatos de quem tenha desenvolvido novas habilidades.

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  Myka assentiu, pensativa.

  — Faz sentido. As histórias dizem que as bên??os divinas podem guiar aqueles que as recebem, especialmente quando s?o t?o... marcantes quanto as suas. Talvez elas realmente estejam amplificando seu progresso de maneiras que ainda n?o entendemos completamente.

  Hakuro sorriu internamente, satisfeito por ter redirecionado a conversa. Ele deu de ombros, como se a ideia fosse apenas especula??o inocente.

  — Talvez... mas, de qualquer forma, continuarei treinando. Quero entender melhor como usar essas habilidades.

  Embora tenham deixado o assunto de lado, Raka e Myka continuaram trocando olhares discretos, como se compartilhassem uma reflex?o silenciosa.

  — Hora de enfrentar seu primeiro oponente. — Disse Raka se levantando.

  Hakuro se posicionou, com a espada erguida, pronta para desferir um golpe a qualquer instante. Raka deu a volta no arbusto e cutucou o slime fazendo com que fosse na dire??o de Hakuro. O monstro tentou atacá-lo de imediato, fazendo com que Hakuro tivesse que se defender instintivamente. A luta durou alguns minutos, até que finalmente Hakuro acertou uma estocada no núcleo da criatura a fazendo se desmanchar.

  — Muito bem, apesar de precisar melhorar sua esquiva e seu movimento de ataque que está muito amplo. — Raka demonstrava firmeza em sua voz, mas também transparecia um pouco de orgulho do pequeno aprendiz.

  Com o céu apontando os primeiros sinais do anoitecer, Raka e Myka decidiram que era hora de voltar à mans?o. As duas instrutoras ainda trocavam olhares discretos, mas agora pareciam mais cautelosas do que antes. Hakuro notou isso, embora fingisse n?o dar importancia. Ele sabia que precisava ser cuidadoso, qualquer passo em falso poderia levantar ainda mais suspeitas.

  Quando chegaram à mans?o, as duas instrutoras se retiraram para planejar o próximo dia de treinamento, deixando Hakuro sozinho com seus pensamentos. Ele subiu até seu quarto, fechando a porta atrás de si com um clique suave. O silêncio era reconfortante, mas também pesado. Ele sentia a energia pulsante dentro de si, como um lembrete constante de quem — ou o quê — ele realmente era.

  Sentando na beirada da cama, Hakuro respirou fundo. Havia algo que ele precisava fazer. Algo que vinha adiando desde o dia em que descobrira as bên??os divinas recebidas. Ele estendeu a m?o direita à frente e, em voz alta, pronunciou o comando:

  — ABRIR STATUS.

  A tela translúcida e azulada surgiu no ar diante dele, exibindo os dados de seus status.

  STATUS

  Nome: Hakuro Yalareth

  Títulos: Escolhido dos Deuses

  Nível: 2

  Mana: 38.550/44.550 Vitalidade: 50.000/50.000

  For?a: 50 Inteligência: 95 Destreza: 75 Agilidade: 50

  BEN??O E PROTE??O

  HABILIDADES

  Moldar objetos com magia; Animar esculturas; Cria??o de magias e encantamentos; Encantar objetos; Aprendizado instantaneo; Domínio de idiomas; Amplia??o dos sentidos; Instinto de combate; Leitura tática; Estratégia de combate; Cálculos mentais perfeitos e instantaneos; Mapeamento geográfico; Desenho de projetos detalhados; Comunica??o com animais; Comunica??o com plantas; Encantamento musical; Necromancia; Comunica??o com espíritos;

  MAGIAS CONCEDIDAS

  MAGIAS ADQUIRIDAS

  Hakuro franziu a testa ao ver os seus números impressionantes. Era evidente que aquele status chamaria aten??o demais caso alguém o visse. Ele precisava encontrar uma maneira de disfar?á-lo sem perder suas verdadeiras habilidades.

  Enquanto examinava a tela, algo chamou sua aten??o na área de magias concedidas, "Criar Magia e Criar Encantamento", ambas concedidas por Aendor — o Deus da Cria??o. — Ele sorriu, percebendo que essa habilidade poderia ser a solu??o para seu problema. Se ele conseguisse criar uma magia específica para alterar a percep??o de seu status, ninguém suspeitaria de seus verdadeiros atributos.

  Mas criar uma magia do zero exigiria muito mais do que apenas for?a de vontade. Ele precisaria entender profundamente o que desejava alcan?ar e como moldar a magia para atingir esse objetivo.

  Durante horas, ele refletiu sobre como uma magia poderia mascarar seu status. Ele precisava de algo que pudesse:

  Ocultar seu título, substituindo "Escolhido dos Deuses" por um espa?o em branco ou algo tipo “Nenhum título adquirido”, alterar os níveis de bên??os e prote??es para algo plausível, como nível 5 que era o maior conhecido nesse mundo, deveria também garantir que a magia se ativa-se automaticamente na presen?a de outras pessoas e sob a magia de avalia??o, para garantir que a magia funcionasse sempre que alguém tentasse acessar seu status.

  Mas, apesar de todas as suas reflex?es, ele ainda n?o conseguia visualizar claramente como a magia seria formada. Sua mente girava com ideias fragmentadas, e ele come?ava a sentir o peso da frustra??o.

  Foi ent?o que, perto da hora do jantar, algo inesperado aconteceu. Enquanto ele tentava imaginar a forma final da magia, uma sensa??o quente e familiar percorreu seu corpo — a mesma sensa??o que ele havia sentido durante o batismo. Era como se as lembran?as de séculos de conhecimento ancestral estivessem guiando sua mente, ajudando-o a moldar algo que ninguém jamais havia tentado, visualizando em sua mente exatamente o resultado que desejava alcan?ar.

  Sem entender completamente o que estava fazendo, ele murmurou em voz baixa:

  — MASCARAR STATUS.

  Um leve brilho azulado surgiu ao redor dele, acompanhado por um zumbido suave que parecia ecoar diretamente em sua mente e seu status tornou-se visível em sua frente. Era como se a própria magia estivesse respondendo aos seus desejos mais profundos. Um calor suave emanava de suas m?os, e ele sentiu uma leve vibra??o percorrer seu corpo, como se algo antigo e poderoso estivesse despertando dentro dele.

  Uma nova linha de texto apareceu em sua tela de status, logo abaixo de Habilidades Adquiridas:

  “MASCARAR STATUS”

  Ao tocar no nome da magia, um texto flutuou, ficando acima da tela principal, onde se lia:

  “Descri??o: Uma magia que permite ao usuário alterar os dados de seu status, mudando a percep??o sobre status para observadores externos exibindo os valores conforme estabelecidos pelo usuário.

  Ativa??o: Automática na presen?a de outras pessoas e sob efeito de encantamentos de avalia??o”

  Hakuro piscou os olhos várias vezes, surpreso. Ele nem sequer havia entendido completamente como havia criado a magia, mas lá estava ela, pronta e funcional. Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo. Era como se a própria essência de Aendor tivesse o guiado.

  Decidiu ent?o fechar o status e testar a nova magia para verificar se realmente funcionava. Respirou fundo e recitou o comando:

  — MASCARAR STATUS.

  A tela se abriu novamente no ar, Hakuro percorreu os campos imaginando os novos valores para cada um deles em sua mente, a seguir, fechou seu status. Ponderou por alguns instantes se havia se esquecido de algum detalhe e resolveu verificar se realmente havia funcionado, ent?o, mais uma vez entoou o comando:

  — ABRIR STATUS.

  A tela reapareceu, agora exibindo conforme modificara:

  STATUS

  ?

  Nome: Hakuro Yalareth

  Títulos: Nenhum Título Adquirido

  Nível: 2

  Mana: 3.500/3.500 Vitalidade: 5.000/5.000

  For?a: 50 Inteligência: 95 Destreza: 75 Agilidade: 50

  BEN??O E PROTE??O

  HABILIDADES

  …

  Observou por alguns minutos seu status e notou no canto superior um pequeno símbolo “?”. Tocou um dedo nele e mais uma vez seus status apareceram como realmente eram. Por fim, tocou mais uma vez para garantir que o status alterado seria o visível.

  Perfeito. Ninguém suspeitaria que ele havia manipulado os números ou ocultado seu título e sua nova magia. Com esse disfarce, Hakuro poderia continuar seus treinos sem despertar muitas perguntas inc?modas.

  Enquanto observava o status, Hakuro percebeu outra atualiza??o: seu nível havia aumentado. Ele franziu a testa, confuso, até lembrar-se do slime derrotado durante o treinamento. Aquela criatura insignificante havia sido suficiente para fazê-lo subir de nível.

  "Ent?o é assim que funciona," pensou ele, fascinado. "Cada monstro derrotado contribui para meu crescimento." Essa descoberta encheu-o de uma nova determina??o. Ele estava progredindo rapidamente, mesmo sem usar todo o seu potencial.

  Com o status modificado e o cora??o mais leve, Hakuro decidiu dormir. Mas antes de se deitar, ele refletiu sobre o que aprendera naquele dia. As instrutoras podiam ser astutas, mas ele também possuía recursos únicos. Afinal, ele n?o era apenas uma crian?a aben?oada pelos deuses; ele era um drag?o reencarnado, carregando séculos de conhecimento ancestral dentro de si. "Elas podem me ensinar técnicas," pensou ele, "mas jamais entender?o o que realmente sou capaz de fazer."

  No entanto, enquanto Arysa o trocava para dormir, uma dúvida lhe ocorreu: E se a magia "MASCARAR STATUS" n?o fosse infalível? E se houvesse alguma falha que ele n?o conseguia enxergar?

  Hakuro se for?ou a afastar esses pensamentos, mas uma pequena semente de preocupa??o permaneceu em sua mente. Determinado a resolver qualquer problema que surgisse, Hakuro decidiu que conversaria com seus pais na manh? seguinte, contaria a eles sobre sua nova magia e explicaria que n?o sabia como a havia adquirido. Ele questionaria os pais sobre como deveria prosseguir em seus treinamentos e lidar com as perguntas de suas instrutoras.

  — Está tudo bem Hakuro-sama? — Perguntou Arysa notando sua inquieta??o.

  — Está sim, estou apenas pensando em tudo que aprendi no treinamento de hoje.

  — Tente relaxar agora, o treinamento já acabou e amanh? come?ará cedo. Você precisa descansar para recuperar suas for?as para aprender ainda mais. — Arysa sorriu enquanto ajeitava o cabelo de Hakuro. — Agora deite-se e descanse. Tenha uma boa noite de sono.

  Arysa apagou o cristal de luz próximo à cama e se sentou como de costume na cadeira próxima à janela.

  Deitado sob as cobertas, os olhos de Hakuro seguiam brilhando na escurid?o. Ele sabia que os próximos dias seriam desafiadores, mas também cheios de oportunidades. Por enquanto, sentia que o seu segredo estava seguro.

  Na manh? seguinte, Hakuro encontrou seus pais na sala de estar. Eles estavam sentados próximos à janela, aproveitando a luz suave da manh? enquanto conversavam em voz baixa. Nyellen costurava delicadamente um pequeno len?o com bordados mágicos, enquanto Nafyr folheava um livro antigo sobre táticas militares.

  Hakuro hesitou por um momento antes de entrar no c?modo. Ele sabia que precisava falar com eles, mas ainda estava incerto sobre como explicar algo que ele mesmo mal entendia.

  — Mam?e... Papai... Posso falar com vocês? — perguntou ele, sua voz quase um sussurro.

  Nyellen ergueu os olhos e sorriu gentilmente.

  — Claro, meu querido. O que foi?

  Hakuro respirou fundo e come?ou:

  — Ontem à noite... algo aconteceu. Quando eu estava pensando sobre como esconder meus status, algo mudou. Eu... criei uma forma de alterar o que aparece quando alguém vê meus status.

  Nafyr franziu a testa, curioso.

  — Alterar seus status? Como assim?

  Hakuro estendeu a m?o e pronunciou o comando:

  — ABRIR STATUS.

  Uma tela translúcida e azulada surgiu no ar diante deles, exibindo o status alterado:

  STATUS

  ?

  Nome: Hakuro Yalareth

  Títulos: Nenhum Título Adquirido

  Nível: 2

  Mana: 3.500/3.500 Vitalidade: 5.000/5.000

  For?a: 50 Inteligência: 95 Destreza: 75 Agilidade: 50

  BEN??O E PROTE??O

  HABILIDADES

  …

  Nyellen e Nafyr observaram a tela atentamente, notando os números reduzidos e o título oculto.

  — Isso é impressionante — disse Nyellen, finalmente, sua voz carregada de cautela. — Mas também perigoso, Hakuro. Você tem ideia do que isso significa?

  Hakuro tocou levemente o pequeno símbolo no canto superior da tela. A tela mudou instantaneamente, mostrando agora o status real:

  STATUS

  ?

  Nome: Hakuro Yalareth

  Títulos: Escolhido dos Deuses

  Nível: 2

  Mana: 38.550/44.550 Vitalidade: 50.000/50.000

  For?a: 50 Inteligência: 95 Destreza: 75 Agilidade: 50

  BEN??O E PROTE??O

  HABILIDADES

  …

  MAGIAS ADQUIRIDAS

  Os olhos de Nafyr se arregalaram, e Nyellen levou uma m?o à boca, surpresa.

  — Ent?o é assim que funciona — murmurou Nafyr, pensativo. — Uma habilidade poderosa, mas também extremamente arriscada.

  Hakuro balan?ou a cabe?a.

  — Eu n?o sei exatamente como fiz isso. Apenas... aconteceu. Mas minhas instrutoras têm feito muitas perguntas sobre meus status. Elas parecem desconfiadas. E eu n?o sei o que fazer. Acho que deveria mostrar isso a elas o mascarado, mas talvez seja melhor continuar escondendo. Ent?o, o que fa?o?

  Nyellen trocou um olhar preocupado com Nafyr.

  — Essa é uma decis?o difícil, Hakuro — disse ela, finalmente. — Mostrar o status alterado pode evitar suspeitas por enquanto, mas se elas perceberem que você pode alterá-lo... isso pode levantar ainda mais suspeitas.

  Nafyr concordou.

  — Por enquanto, continue escondendo seu status como vem fazendo. Se as instrutoras pressionarem demais, nos avise e tomaremos a decis?o do que fazer, juntos. N?o abra seu status na frente de ninguém a n?o ser que seja absolutamente necessário.

  Hakuro assentiu, sentindo-se aliviado por receber uma orienta??o clara.

  — Entendido. Prometo que tomarei todo cuidado. — Hakuro exitou por mais um momento, respirou fundo e continuou. — Gostaria de poder falar com Kyra sobre isso, ela me questionou sobre minhas bên??os quando cheguei de viagem e me senti obrigado a dizer que havia prometido a vocês que n?o comentaria nada, nem mesmo com ela, agora e sinto mal por n?o contar nada a ela.

  — Falarei eu mesmo com ela e com Arysa, agora vá para o seu treinamento, mas antes de sair, diga a Arysa que quero falar com ela e com sua irm?, estarei esperando por elas aqui.— O tom autoritário na voz de Nafyr deixava claro que a conversa havia sido encerrada.

  Dias depois, durante um treinamento, Hakuro estava praticando combate físico com Raka. A instrutora avan?ava lentamente, dando tempo para que ele bloqueasse seus golpes com sua espada de madeira.

  — Defenda-se! — ordenou Raka, desferindo um ataque controlado.

  Hakuro ergueu a espada para bloquear o golpe, mas no momento exato em que o impacto ocorreria, algo estranho aconteceu, distraído por um pensamento fugaz sobre como seria útil guardar a espada para carregá-la entre a mans?o e o treinamento, ele ativou involuntariamente sua “Caixa Dimensional Infinita”. A espada de madeira desapareceu de suas m?os antes que ele pudesse perceber o que havia feito.

  Sem tempo para reagir, o golpe de Raka atingiu Hakuro diretamente na cabe?a. Ele cambaleou para trás, perdendo o equilíbrio e caindo no ch?o com um baque surdo. Seus olhos se fecharam imediatamente, e ele desmaiou.

  — Hakuro! — exclamou Myka, correndo para o lado dele enquanto Raka abaixava sua arma, alarmada.

  Myka rapidamente tirou uma po??o de cura de sua bolsa e a aplicou nas feridas visíveis de Hakuro. No entanto, mesmo com a magia da po??o fluindo, ele permaneceu inconsciente. Resolveu tentar usar sua magia de cura, mas também n?o parecia fazer efeito.

  — Ele n?o está acordando — disse Myka, preocupada. — Precisamos levá-lo de volta.

  Raka carregou Hakuro em seus bra?os até a mans?o. Quando chegaram à sala de estar, encontraram Nafyr e Nyellen sentados próximos à janela, aproveitando a luz suave do lindo dia que fazia, enquanto conversavam em voz baixa.

  — O que aconteceu? — perguntou Nafyr, levantando-se imediatamente ao ver Hakuro nos bra?os de Raka.

  Raka explicou brevemente o ocorrido, enfatizando o momento em que a espada desapareceu das m?os de Hakuro.

  — Ele estava segurando a arma normalmente, mas de repente... ela simplesmente sumiu. E ent?o ele foi atingido pelo meu golpe e desmaiou.

  Nyellen trocou um olhar rápido com Nafyr, percebendo que aquilo era mais do que um simples acidente.

  — Coloquem-no no sofá — disse Nyellen, apontando para o grande sofá de veludo que ocupava o centro da sala.

  Raka assentiu e gentilmente deitou Hakuro no sofá, posicionando-o de forma confortável. Myka continuou monitorando seu estado, ainda preocupada.

  — Ele parece estável, mas por que a espada desapareceu assim? — questionou Myka, olhando para Nafyr e Nyellen em busca de respostas.

  Nafyr hesitou por um momento antes de responder:

  — Hakuro tem habilidades únicas, mas também é inexperiente. Algumas delas podem ser difíceis de controlar, especialmente quando ele está distraído ou sob press?o.

  Nyellen concordou, completando:

  — Ele ainda está aprendendo a usar suas habilidades. No entanto, o controle delas requer prática e concentra??o, o que muitas vezes, se mostra difícil para ele.

  As instrutoras trocaram olhares preocupados.

  — Isso é mais complicado do que imaginávamos — disse Raka, cruzando os bra?os. — Precisamos saber quais s?o suas habilidades para entender como ajudá-lo a dominá-las antes que algo pior aconte?a.

  Nafyr interveio, sua voz grave e autoritária:

  — Vocês foram contratadas porque s?o as melhores. Agora, mais do que nunca, precisamos de sua discri??o absoluta. O que ir?o ver aqui hoje n?o deve sair desta sala. Entenderam?

  As instrutoras, pareciam surpreendidas, mas assentiram rapidamente, compreendendo a gravidade da situa??o.

  Nyellen avaliou cuidadosamente Hakuro, verificando sua respira??o e suas pupilas.

  — Ele está bem, apesar do choque, deve acordar em breve.

  Mais tarde, ao cair da noite, Hakuro finalmente recuperou a consciência. Ele abriu os olhos lentamente, piscando várias vezes antes de perceber onde estava.

  — Você está bem, meu querido? — perguntou Nyellen, tocando suavemente sua testa.

  Hakuro assentiu, ainda sonolento.

  — O que aconteceu?

  Nafyr aproximou-se, sua voz firme.

  — Você teve um acidente durante o treinamento. Suas instrutoras est?o preocupadas, ent?o preciso que você mostre seu status a elas.

  Hakuro assentiu novamente, entendendo o que precisava fazer.

  Ele estendeu a m?o e pronunciou o comando:

  — ABRIR STATUS.

  A tela translúcida e azulada surgiu no ar diante deles, exibindo o status:

  STATUS

  ?

  Nome: Hakuro Yalareth

  Títulos: Nenhum Título Adquirido

  Nível: 2

  Mana: 2.537/3.500 Vitalidade: 5.000/5.000

  For?a: 50 Inteligência: 95 Destreza: 75 Agilidade: 50

  BEN??O E PROTE??O

  HABILIDADES

  Moldar objetos com magia; Animar esculturas; Cria??o de magias e encantamentos; Encantar objetos; Aprendizado instantaneo; Domínio de idiomas; Amplia??o dos sentidos; Instinto de combate; Leitura tática; Estratégia de combate; Cálculos mentais perfeitos e instantaneos; Mapeamento geográfico; Desenho de projetos detalhados; Comunica??o com animais; Comunica??o com plantas; Encantamento musical; Necromancia; Comunica??o com espíritos;

  MAGIAS CONCEDIDAS

  MAGIAS ADQUIRIDAS

  As instrutoras observaram a tela atentamente, notando a existência da bên??o n?o apenas da Deusa da Guerra e da Deusa da Magia, mas de todos os deuses.

  — Todos os oito deuses? — perguntou Raka, surpresa, sua voz carregada de incredulidade. — Isso é impossível! As bên??os múltiplas s?o extremamente raras, e geralmente limitadas a dois ou três deuses. Nunca ouvi falar de algo assim!

  Myka franziu a testa, igualmente perplexa, mas com um tom mais reflexivo.

  — Isso explica por que ele parece t?o... diferente. Há algo nele que vai além do que podemos entender. Mas isso n?o deveria ter sido mencionado antes?

  Nafyr e Nyellen trocaram olhares tensos. Eles sabiam que esse momento chegaria, mas n?o esperavam que fosse t?o cedo.

  — Há coisas que preferimos manter em sigilo — disse Nafyr, sua voz firme.

  Raka cruzou os bra?os, claramente insatisfeita.

  — Com todo o respeito, milorde, isso muda completamente nosso plano de treinamento. Como podemos prepará-lo adequadamente se n?o sabemos o alcance completo de suas habilidades? Precisamos de mais informa??es para garantir que ele n?o se machuque... ou coloque outros em risco. Claramente esse nível de prote??o que seu filho possui pode causar uma calamidade. Imagina o que teria acontecido se ele tivesse usado a magia de invisibilidade antes de ter desmaiado, poderiamos passar dias procurando ele sem saber o que havia de fato acontecido.

  Nyellen interveio, tentando acalmar a situa??o.

  — Entendemos suas preocupa??es, mas também precisamos proteger o Hakuro. Ele ainda é jovem e está aprendendo a lidar com tudo isso. Tem sido um grande fardo para ele lidar com essa quantidade de ben??os. Pe?o que confiem em nossas decis?es, sabemos da importancia dessas informa??es e nos preocupamos com as consequências delas também. Também foi esse um dos motivos de termos deixado claro, em nosso pedido à Guilda, o nível de quem iria treiná-lo e de termos frisado que precisavamos de total discri??o.

  As instrutoras trocaram olhares, mas acabaram assentindo, ainda que relutantes.

  Com o incidente resolvido e o status revelado, as instrutoras come?aram a pensar sobre como adaptar seus métodos para ensinar Hakuro de maneira mais eficaz. Elas perceberam que parte do treinamento precisaria focar no uso adequado de suas habilidades, especialmente daquelas que poderiam ser ativadas involuntariamente.

  Enquanto as instrutoras discutiam planos de a??o com seus pais, Hakuro observava tudo em silêncio. Ele sentia o peso do que havia acontecido, naquele momento, ele prometeu a si mesmo:

  "Eu cometi um erro, mas isso me mostrou o quanto ainda tenho a aprender. N?o vou desapontá-los novamente."

  — Milorde, acho que precisaremos de alguns dias para planejarmos como lidaremos com o treinamento de Hakuro daqui para frente, tendo em mente o acidente de hoje, precisamos ser mais cautelosas, n?o basta apenas discutirmos medidas, mas precisamos de um bom planejamento. — Raka parecia descontente com a situa??o e com a necessidade de replanejar o caminho a frente.

  — Eu concordo, precisamos nos preparar melhor, agora que sabemos que se trata de um caso… “especial”. Temos que pensar em como vamos lidar com tantas bên??os ao mesmo tempo, e evitar que algo extremo venha a acontecer. — Completou Myka.

  Nafyr trocou mais alguns olhares com Nyellen e observou Hakuro que parecia preocupado com a conversa, mas foi Nyellen quem respondeu.

  — Compreendemos vocês e agradecemos sua compreens?o. Levem o tempo que precisarem e se algo for necessário, n?o exitem em nos pedir. Por hora é melhor nos recolhermos, já está tarde e vocês ainda n?o fizeram sua refei??o. Eu as acompanho.

  Nyellen saiu com as instrutoras deixando Hakuro e Nafyr sozinhos.

  — Acho que de momento está tudo bem Hakuro, n?o precisa se preocupar, mas ainda assim n?o mostre seus status a mais ninguém, a n?o ser que eu ou sua m?e te autorizemos.

  — Pode deixar, farei isso papai. — Hakuro soltou um suspiro profundo, tomando coragem para continuar. — Pode me dizer como foi a sua conversa com Kyra? Já posso conversar com ela sobre minhas bên??os e habilidades?

  — Sim, meu filho, você pode falar com a Kyra. Expliquei para ela e para Arysa a sua situa??o, agora elas sabem que você foi aben?oado por todos os Deuses e também prometeram manter esse fato em segredo. — Nafyr parecia descontente com isso, mas também sabia que seria algo inevitavel. — Agora vá falar com Arysa para jantar e depois vá direto para o seu quarto.— O tom autoritário na voz de Nafyr deixava claro que a conversa havia sido encerrada.

  Hakuro obedeceu, mas em sua mente, o turbilh?o de pensamentos continuava. “Será que minhas instrutoras perceberam algo? Será que vou conseguir corresponder as bên??os recebidas? Quando será que voltarei a treinar com minhas instrutoras?”

  Uma coisa era certa, mais uma vez, a noite pareceria longa e Hakuro demoraria a dormir, sua jornada podia parecer incerta, mas as surpresas reservadas para ele come?ariam a surgir antes do que poderia imaginar.

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