Na manh? seguinte, como de costume, Hakuro acordou sentindo o aroma do café fresco que Arysa lhe servia. Ele se levantou visivelmente desanimado e manteve-se em silêncio enquanto Arysa o trocava.
— Perdido em pensamentos novamente Hakuro-sama? — O tradicional sorriso maternal de Arysa sempre surtia efeito calmante sobre Hakuro, ainda mais acompanhado de sua voz suave e melodiosa.
— N?o exatamente, apenas n?o sei quando voltarei a treinar, depois do acidente de ontem — disse Hakuro, hesitante. — Tenho medo de papai n?o deixar que eu continue, dependendo da proposta das minhas instrutoras.
— Falei com milorde ontem — respondeu Arysa, com um sorriso tranquilizador. — Ele me explicou a situa??o e, tenho certeza, que ele n?o irá impedi-lo de treinar. Ele chamou a mim e a sua irm? Kyra, nos dando instru??es para apoiá-lo no que for necessário. Arysa fez uma pausa, olhando diretamente nos olhos de Hakuro. — Mas independente disso, você sabe que sempre estarei aqui, nem que seja para te dar colo, n?o é mesmo?
Hakuro assentiu, sentindo um peso sair de seus ombros enquanto Arysa acariciava seu cabelo.
— Certo, ent?o irei para o jardim, para ler um pouco. Te vejo mais tarde Arysa.
Hakuro saiu, fechando a porta com cuidado atrás de si. Ele caminhou lentamente pelos corredores, pensando em quanto tempo levaria até que suas instrutoras voltassem a chamá-lo para treinar.
Ao chegar na entrada da mans?o, Hakuro se surpreendeu ao ver Myka parada, como se o esperasse há bastante tempo. Ela estava recostada casualmente contra uma das colunas de mármore, com os bra?os cruzados e uma express?o levemente entediada no rosto. O sol da manh? refletia suavemente em suas caudas douradas, criando um efeito quase hipnótico.
— Bom dia, professora Myka, aconteceu alguma coisa? — perguntou Hakuro, sua curiosidade evidente.
— Bom dia, Hakuro. Estava à sua espera. Conversei bastante com a Raka ontem a noite, e decidimos que a partir de hoje seu treinamento será feito em duas partes. De manh?, terá treinamento teórico e à tarde faremos práticas. Para come?armos, vamos para a biblioteca, irei te explicar mais sobre a teoria do uso de mana e uso de magias concedidas por bên??os.
— Mas e a professora Raka? — Perguntou Hakuro, sua voz demonstrando sua incredulidade quanto à decis?o t?o rápida das instrutoras.
— Ela foi para a cidade, fazer os preparativos para suas aulas práticas. Nem tudo tem disponibilidade imediata, ent?o ela terá que encomendar algumas coisas para as próximas semanas. N?o precisa ficar apreensivo e nem preocupado. Demos nossa palavra aos seus pais que iríamos treiná-lo e é isso que faremos. Agora, se n?o se importa, vamos logo à biblioteca come?ar seu treinamento.
O sorriso no rosto de Hakuro provou ser impossível de ser contido. Ele caminhou animadamente em dire??o a biblioteca, guiando Myka pelo caminho mais curto que conseguia imaginar.
Chegando a biblioteca, mostrou para Myka seus livros favoritos, dentre eles, vários sobre magia e encantamento de objetos.
Myka separou alguns livros e os apoiou sobre a mesa, depois, tirou de sua bolsa um bloco de pergaminhos amarrados com uma delicada fita vermelha, e também, um frasco de tinta avermelhada e uma pena prateada.
— Sente-se aqui, Hakuro, come?aremos falando um pouco sobre as habilidades e magias concedidas com as ben??os. — Ela come?ou a retirar a fita vermelha que amarrava os pergaminhos, com toda a delicadeza, como se aquilo fosse algum tipo de tesouro precioso e delicado.
Por várias horas leram o conteúdo dos pergaminhos, cada um falando sobre um deus diferente, suas magias, seus elementos, suas características e suas habilidades. Hakuro se surpreendeu com a riqueza dos detalhes com que Myka explicava cada assunto, n?o apenas dizia o que ali podia ser lido, mas respondia prontamente suas perguntas, exemplificava com desenhos, curiosamente desenhados pela pena prateada sem que Myka a segura-se, além de citar formas de usar cada magia e cada habilidade, tanto no dia a dia quanto em combate quando era cabível.
Enquanto ouvia as explica??es de Myka, Hakuro sentiu uma mistura de admira??o e leve inquieta??o. Agora ele percebia o qu?o vasto era o conhecimento que precisava dominar. "Talvez eu nunca consiga entender tudo isso completamente", pensou, olhando para os pergaminhos com reverência. No entanto, algo dentro dele – talvez seu espírito drag?nico – sussurrou que ele encontraria seu caminho, mesmo que fosse difícil.
Próximo do meio-dia, Arysa apareceu para chamá-los para o almo?o.
— Vocês deveriam fazer uma pausa para a refei??o. — Disse com sua suavidade costumeira. — Milady e Milorde os aguardam, por favor, me acompanhem.
— Irei ao refeitório ent?o, n?o quero incomodá-los. — Disse Myka com um leve sorriso, enquanto guardava seus pergaminhos cuidadosamente na bolsa.
— Tenho que insistir, s?o ordens de Milady Nielen que os acompanhe, a senhorita Raka já se encontra com eles à nossa espera.
Myka e Hakuro acompanharam Arysa até a sala de jantar onde todos já estavam sentados os aguardando, durante todo o caminho permaneceram em completo silêncio.
Myka, sentou-se ao lado de Raka, enquanto Hakuro, como de costume, sentou-se ao lado de Kyra. O almo?o seguia silencioso, trazendo consigo um peso que tornava a tens?o palpável. Hakuro observava seus pais com aten??o, notando que ambos pareciam mais sérios do que o normal. Kyra, sentada ao seu lado, estava absorta em seus próprios pensamentos, ocasionalmente enrolando um cacho de cabelo entre os dedos.
Nafyr pigarreou, capturando a aten??o de todos. Seu tom de voz era grave, mas carregado de uma calma autoritária que sempre fazia todos prestarem aten??o.
— Há algo importante que preciso anunciar — come?ou Nafyr, olhando de Nyellen para Alek. — Como sabem, Alek completou seus dez anos a poucos meses e o seu debut está se aproximando. Será realizado no castelo de Akarath, como é tradi??o para os herdeiros de famílias nobres.
Alek ergueu os olhos, surpreso. Sabia que esse momento chegaria, mas n?o esperava que fosse t?o cedo. Sentiu um frio na espinha ao perceber que seria oficialmente apresentado, como o herdeiro dos Yalareth, à sociedade nobre, com todas as expectativas que isso implicava.
— Enquanto isso, — continuou Nafyr, voltando-se para a filha — Kyra fará a prova de admiss?o na Academia Real. Este é um marco importante, e temos grandes expectativas quanto ao seu desempenho.
Kyra assentiu, tentando esconder o nervosismo. Ela sabia que a prova seria desafiadora, mas também estava ansiosa para provar seu valor.
— Isso significa que viajaremos para a capital amanh? — concluiu Nafyr, voltando-se para Hakuro. — Ficaremos fora por aproximadamente um mês. Durante esse tempo, você ficará sob os cuidados de Arysa e continuará seu treinamento com Raka e Myka. — Agora virando-se para as instrutoras. — A seguran?a de Hakuro recairá exclusivamente em vocês duas, mas n?o exitem em mandar mensagens se precisarem de algo. Já conversei com Yanthorn e combinamos dele encaminhar as mensagens por cristal para a Guilda da capital.
— Faremos nosso melhor milorde. — Disse Raka em tom firme, carregado de orgulho e determina??o.
Hakuro sentiu um aperto no peito, mas tentou disfar?ar sua decep??o. Ele assentiu brevemente, evitando olhar diretamente para seu pai. Nyellen, que observava Hakuro, percebeu o desapontamento em seus olhos. A ideia de ficar sozinho na mans?o, mesmo com Arysa e suas instrutoras, o deixava visivelmente inquieto.
— N?o se preocupe, meu filho — disse ela, com sua voz melodiosa e reconfortante. — Estaremos de volta antes que perceba. Além disso, este é um momento importante para seus irm?os Kyra e Alek. O debut marcará oficialmente a entrada de Alek na sociedade nobre e abrirá muitas portas para ele no futuro. E Kyra avan?ará em seu desenvolvimento, podendo escolher que carreira deseja seguir, com seus estudos na Academia Real.
Kyra assentiu, tentando esconder o nervosismo. Ela sabia o peso do evento, mas também sentia uma ponta de empolga??o. Sua carreira deveria ser uma prioridade, mas, sendo filha de um nobre, precisava se esfor?ar ao máximo, pois tradicionalmente, as famílias firmavam suas propostas de uni?o com base no desempenho na Academia Real, onde as filhas de nobre que se destacavam, geralmente se casavam com filhos de altos nobres, enquanto as demais, com filhos de baixos nobres ou até mesmo com plebeus.
Alek, por sua vez, sentia o peso da responsabilidade recair sobre seus ombros. Ser apresentado à corte era um privilégio, mas nem todos os filhos de nobre tinham condi??es reais de comparecer a eventos. E ele n?o seria apenas apresentado como o filho de um nobre, mas também anunciado como herdeiro da Família Yalareth.
Após o anúncio, o resto do almo?o transcorreu em um clima mais leve, com conversas sobre os preparativos para a viagem e os detalhes do debut. Hakuro, no entanto, permaneceu pensativo, imaginando como seria a vida na mans?o sem seus pais e irm?os por perto. Ele sabia que teria que ser forte, n?o apenas para continuar seu treinamento, mas também para provar que podia lidar com qualquer desafio que surgisse. "Talvez isso seja uma oportunidade", pensou ele, determinado. "Uma chance de crescer."
Naquela tarde, ao contrário do que pensou que aconteceria, continuou seu treinamento com Myka. Apesar dela n?o ter a magia de “Caixa dimensional”, tinha profundo conhecimento do seu uso.
— O primeiro passo para fazer uso da caixa dimensional, — come?ou ela com sua voz suave. — Como estudamos esta manh?, é imaginar um espa?o em outra dimens?o, onde tudo será armazenado. Particularmente acho que moldar a mana em formato de um pequeno cubo em sua m?o, pode ajudar a controlar a magia, fazendo com que se concentre na absor??o do que for ser armazenado por esse cubo, ou ainda com o que quer retirar dele sendo expelido pelo cubo.
Hakuro, fechou os olhos se for?ando a memorizar as palavras de Myka, nesse momento surgiu uma dúvida em sua mente.
— Professora Myka, ent?o posso recuperar a minha espada que sumiu?
— Acredito que seja possível. Você quer tentar? — Myka parecia levemente orgulhosa do jovem aprendiz.
Hakuro assentiu com a cabe?a, ent?o, esticou a m?o com a palma virada para cima, focando seus olhos no centro de sua m?o. Buscou sentir o calor reconfortante da mana ao seu redor e o direcionou para a m?o, enquanto a imaginava se acumulando em um pequeno cubo brilhante. Aos poucos um brilho esverdeado come?ou a tomar forma sobre sua m?o, crescendo lentamente com o formato perfeito de um cubo.
— Agora como pego minha espada de dentro desse cubo? — Questionou ele sem conseguir conter sua curiosidade.
— Existem duas formas possíveis. A primeira, se baseia em imaginar sua espada sendo expelida em um fio de luz e tomando sua forma original em sua outra m?o, essa é a forma mais usada por quem tem essa habilidade, mas exige bastante concentra??o. A segunda, é colocar a outra m?o dentro do cubo, imaginando sua m?o entrando em um baú de onde você pega o objeto e o puxa para fora, acredito que seja mais fácil para quem está come?ando, até porque n?o requer muita concentra??o nem imagina??o, mas acho menos segura, pois n?o sabemos o que pode acontecer de perder a concentra??o e dissipar a magia com a m?o ainda lá dentro.
Os olhos de Hakuro se arregalaram ao pensar em sua m?o ficando presa dentro da caixa dimensional e isso fez com que ele dissipasse sua magia, deixando o cubo esverdeado se dissolver em sua m?o.
— Acho que entendo o que quis dizer. — Disse Hakuro em voz baixa, visivelmente abalado. — Acho que vou tentar o primeiro método, mesmo que leve mais tempo, n?o quero perder minha m?o.
Myka acariciou seu cabelo e com um leve sorriso o incentivou.
— Fique tranquilo, respire fundo, e tente novamente. Tenho certeza que conseguirá, afinal já conseguiu criar a caixa em sua m?o, agora basta fazê-la expelir sua espada. Quando dominar essa magia, conseguirá colocar e tirar itens da sua caixa dimensional, apenas se concentrando no que deseja, sem precisar criar a caixa com a mana.
— Mas professora, n?o seria mais fácil tentar primeiro dessa forma? Afinal coloquei a espada lá dentro por acidente, sem criar a caixa primeiro.
— Se acredita que consegue, vá em frente, estarei aqui ao seu lado caso qualquer coisa aconte?a. — Myka demonstrava total confian?a em sua voz, incentivando Hakuro a tentar.
Hakuro fechou os olhos e respirou fundo, se concentrando profundamente, se for?ou a lembrar da sensa??o de empunhar a espada de treinamento. Buscou na lembran?a a sensa??o do peso, o encaixe da empunhadura sendo apertada por sua m?o, a imagem de cada detalhe de sua espada. Ao abrir os olhos novamente, se surpreendeu ao vê-la em sua m?o, conforme havia imaginado.
— Eu consegui! Olha professora, eu realmente consegui. — Hakuro derramava empolga??o e surpresa em sua voz.
Myka sorriu ao ver a empolga??o genuína de Hakuro. Ela podia sentir a energia vibrante emanando dele, uma mistura de orgulho infantil e determina??o incipiente. Ainda assim, sabia que ele precisava aprender mais do que simplesmente invocar objetos de sua caixa dimensional. Controlar essa habilidade exigiria prática e disciplina.
— Muito bem, Hakuro — disse ela, cruzando os bra?os enquanto observava o garoto segurar a espada com firmeza. — Mas isso foi apenas o come?o. Agora vem a parte desafiadora.
Hakuro franziu a testa, inclinando a cabe?a levemente. Ele ainda estava radiante por ter conseguido recuperar a espada, mas algo no tom de Myka o fez perceber que havia mais trabalho pela frente.
— Desafiadora? — perguntou ele, hesitante.
— Sim — confirmou Myka, aproximando-se lentamente. — Você sabe que pode colocar e tirar itens de dentro da sua caixa dimensional, certo? Mas agora quero que fa?a algo diferente: tente colocar vários objetos lá dentro e depois quero que os retire em uma ordem específica. Isso vai ajudá-lo a entender como organizar melhor o espa?o dentro da caixa e desenvolver controle sobre seus pensamentos.
Ela se abaixou para pegar algumas pedras soltas no ch?o, além de um punhado de flores silvestres que cresciam próximas. Colocando-os cuidadosamente na frente de Hakuro, ela explicou:
— Primeiro, coloque essas três pedras dentro da caixa. Depois, adicione as flores. E finalmente... — ela apontou para a espada de madeira nas m?os dele — ...coloque sua espada também.
Hakuro assentiu, tentando n?o parecer intimidado. Ele já tinha feito isso antes, mesmo que involuntariamente, ent?o aquilo deveria ser possível. Concentrando-se novamente, ele estendeu a m?o direita sobre as pedras, imaginando elas sendo cobertas por sua mana e em seguida puxadas para dentro de uma fenda conectada a sua caixa dimensional.
Desta vez, no entanto, ele se for?ou a visualizar o espa?o interno da caixa bem organizado, com prateleiras invisíveis, cada uma destinada a um tipo específico de objeto. As pedras emitiram uma leve luz esverdeada antes de desaparecerem, em seguida, fez o mesmo com as flores. Por fim, ele respirou fundo e guardou a espada, sentindo o peso dela sumir gradualmente de suas m?os.
— Muito bom — elogiou Myka, com um sorriso encorajador. — Agora vem a parte mais difícil. Quero que você traga de volta os objetos na seguinte ordem: primeiro as flores, depois a espada, e por fim as pedras.
Hakuro engoliu em seco. Parecia simples quando ela explicava, mas agora que tinha que realizar o feito, ele sentia o peso da expectativa. Determinado a conseguir, Hakuro endireitou o corpo, visualizou o interior da caixa dimensional em sua mente, imaginando as prateleiras invisíveis e os objetos dispostos nelas.
"Primeiro as flores," pensou ele, focando toda sua aten??o na memória das diferentes flores coloridas. Lentamente, sentiu uma pulsa??o suave em sua mente, como se algo estivesse respondendo ao seu chamado. As imaginou no ch?o a sua frente, fazendo com que elas surgissem levemente iluminadas pelo brilho residual da mana.
— Consegui! — exclamou, animado.
— ótimo — disse Myka, assentindo. — Agora, a espada.
Hakuro respirou fundo mais uma vez. Desta vez, ele teve que lutar contra a ansiedade crescente. Imaginou a textura áspera da empunhadura da espada, o peso confortável em suas m?os. Após alguns segundos de concentra??o intensa, a arma reapareceu, materializando-se perfeitamente apesar do leve brilho esverdeado da mana se dissipando gradualmente.
— Está funcionando! — murmurou ele, maravilhado.
— Só mais um passo — incentivou Myka. — Agora as pedras.
Hakuro sabia que este último passo seria crucial. Se conseguisse, provaria a si mesmo que podia controlar sua habilidade com precis?o. Visualizando as pedras duras e frias, ele canalizou sua mana uma última vez. Para sua surpresa, as pedras surgiram exatamente onde ele esperava, mas dessa vez n?o havia nenhum brilho residual.
— Eu... eu realmente consegui! — gritou ele, incapaz de conter a alegria.
Myka aplaudiu baixinho, visivelmente satisfeita.
— Excelente trabalho, Hakuro. Você está aprendendo rápido. Mas nunca se esque?a: controle é a chave. Sem ele, até mesmo os poderes mais impressionantes podem causar problemas.
— Vamos tentar novamente — disse ela, com um tom encorajador, mas firme. — Dessa vez, quero que fa?a tudo sem pausas entre os passos. Coloque os objetos na caixa e os retire imediatamente, mantendo a mesma ordem.
Hakuro assentiu, determinado a n?o desistir. Ele respirou fundo, concentrando-se novamente. Com a espada já guardada, ele guardou as flores e as pedras na caixa dimensional, com movimentos cada vez mais fluidos. Ao retirá-los, notou que o processo já parecia mais natural do que antes.
As horas passaram rapidamente enquanto Hakuro repetia o exercício várias vezes. à medida que o dia avan?ava, ele come?ou a sentir uma estranha conex?o com a caixa dimensional, como se estivesse aprendendo a "sentir" os objetos dentro dela, mesmo sem visualizá-los diretamente. Era uma sensa??o nova, quase como tocar algo invisível com a mente.
— Estou melhorando, professora Myka — comentou ele, após uma rodada particularmente bem-sucedida. Seu rosto brilhava de orgulho, embora pequenas gotas de suor escorressem por sua testa.
— Sim, está sim — concordou Myka, com um sorriso caloroso. — Mas lembre-se, magia é como um músculo. Quanto mais você a usa, mais forte ela fica. No entanto, também pode se esgotar se for usada em excesso. Sentiu algum cansa?o?
Hakuro hesitou por um momento antes de responder:
— Um pouco... mas ainda consigo continuar.
Myka assentiu, satisfeita com a resposta.
— Muito bem. Mais algumas repeti??es e ent?o podemos voltar para a mans?o. Amanh? continuaremos, mas hoje você já fez um progresso impressionante.
Enquanto o sol mergulhava lentamente no horizonte, tingindo o campo de treinamento com sombras longas, Hakuro realizou seus últimos exercícios. Quando finalmente terminou, ele se permitiu cair sentado no ch?o, exausto, mas visivelmente orgulhoso de si mesmo.
— Pronto — disse Myka, estendendo-lhe uma m?o para ajudá-lo a se levantar. — Agora vamos voltar. Você merece descansar.
No caminho de volta para a mans?o, Hakuro caminhava ao lado de Myka, observando o céu escurecer gradualmente. Ele refletia sobre o treinamento do dia, mas havia algo que ainda o intrigava.
— Professora Myka... — come?ou ele, hesitante. — Por que a professora Raka n?o me treinou hoje? Eu achei que ela também estaria aqui.
Myka olhou para ele, compreendendo a curiosidade do garoto. Ela ajustou uma de suas caudas douradas que balan?ava suavemente ao vento antes de responder.
— Boa pergunta, Hakuro. A verdade é que, neste primeiro momento, é importante que você domine completamente a habilidade da caixa dimensional. Hoje foi apenas o come?o, mas já mostrou que tem muito potencial. No entanto, controlar essa habilidade é crucial para evitar acidentes durante os treinos práticos com ela.
Hakuro franziu a testa, pensativo.
— Acidentes como... quando a espada desapareceu durante o treinamento?
— Exatamente — confirmou Myka. — Imagine se isso acontecesse no meio de um combate ou durante uma técnica mais avan?ada. Poderia ser perigoso n?o apenas para você, mas também para quem estiver ao seu redor. é por isso que estamos focando nisso agora.
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O garoto assentiu, entendendo a lógica por trás da decis?o.
— E amanh?? O que vai acontecer?
Myka sorriu, seus olhos brilhando com entusiasmo.
— Amanh? será a vez de Raka come?ar a instruir você na parte teórica do combate. Ela vai ensiná-lo sobre técnicas básicas, postura, equilíbrio e como usar sua for?a física de maneira eficiente. Mas de tarde, ainda fará esse mesmo treinamento de hoje, e continuará fazendo este treino até que domine completamente essa magia. Quando conseguir isso, ela passará ao treinamento prático, entretanto, conversarei com ela sobre um possível treinamento físico. Se n?o tiver combate, n?o acho que haverá risco de se machucar.
Hakuro sentiu um arrepio de excita??o percorrer seu corpo. Ele mal podia esperar para aprender mais, mas ao mesmo tempo sabia que o caminho à frente seria cheio de desafios.
— Entendido — disse ele, com determina??o renovada. — Farei o meu melhor, tanto com a caixa dimensional quanto com qualquer treinamento que estejam dispostas a me dar.
Myka colocou uma m?o gentil em seu ombro.
— Tenho certeza de que fará, Hakuro. Você tem um talento incrível, mas também tem algo que para mim é ainda mais importante: a vontade de aprender. Isso fará toda a diferen?a em seu crescimento.
Ao chegarem à entrada da mans?o, Hakuro olhou para trás, observando o céu noturno que agora estava pontilhado de estrelas. Ele sentia que cada dia trazia novas descobertas, novas responsabilidades e, acima de tudo, novas oportunidades para crescer.
Hakuro estava pensativo, ainda refletindo sobre o treinamento do dia e as palavras de Myka. Sentia-se grato por ter alguém t?o paciente ao seu lado, guiando-o em sua jornada.
Ao chegarem à entrada da sala de jantar, eles encontraram Raka já aguardando, com suas escamas reluzindo sob a luz suave dos cristais. Ela tinha um ar sereno, mas seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade peculiar enquanto observava Hakuro entrar.
— Finalmente — disse ela, com um tom leve, mas firme. — Estava come?ando a pensar que vocês dois tinham se perdido no caminho.
Hakuro sorriu timidamente, enquanto Myka riu baixinho.
— Estávamos apenas aproveitando o caminho para conversar — respondeu Myka, com um sorriso gentil.
Raka abriu a porta da sala de jantar, permitindo que os dois entrassem primeiro. O ambiente era espa?oso e elegante, com uma longa mesa de madeira polida ocupando o centro. Pratos cuidadosamente arrumados e talheres reluzentes aguardavam, enquanto o aroma suave de especiarias e ervas frescas preenchia o ar.
Os três sentaram-se à mesa, e o jantar come?ou em um clima tranquilo. Hakuro observava atentamente as intera??es entre Myka e Raka, notando como elas pareciam coordenadas, mesmo sem trocar muitas palavras.
— Ent?o, Hakuro — come?ou Raka, após alguns momentos de silêncio. — Como foi o treinamento hoje?
Hakuro hesitou por um momento antes de responder. Ele sabia que Raka n?o era alguém que demonstrava curiosidade frequentemente, ent?o suas palavras carregavam um peso especial.
— Foi desafiador — disse ele, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — No come?o, achei que seria fácil, mas logo percebi que há muito mais a aprender sobre controle e organiza??o. A professora Myka me ajudou a entender isso.
Myka sorriu, visivelmente satisfeita com a resposta.
— Ele está evoluindo rápido — acrescentou ela, olhando para Raka. — Mas ainda há muito trabalho pela frente.
Raka assentiu, cruzando os bra?os.
— Bom. Isso é crucial. Amanh? come?aremos o treinamento teórico de combate. Você aprenderá os fundamentos, desde postura até estratégia. Mas n?o se engane: isso será apenas o início. Minha inten??o é prepará-lo para enfrentar desafios que v?o além do campo de treinamento.
Hakuro sentiu um arrepio de excita??o percorrer seu corpo. Ele mal podia esperar para aprender mais, mas ao mesmo tempo sabia que o caminho seria cheio de desafios.
— Entendido — disse ele, com determina??o renovada. — Farei o meu melhor, tanto com as magias quanto com qualquer treinamento que esteja disposta a me dar.
Myka colocou uma m?o gentil em seu ombro.
— Tenho certeza de que fará, Hakuro. Você tem um talento incrível, mas também tem algo que para mim é ainda mais importante: a vontade de aprender. Isso fará toda a diferen?a em seu crescimento. Aliás… Raka você poderia criar um treino físico para ele, com aqueles exercícios que sempre faz ao acordar. Além disso, se o treinamento físico dele n?o envolver combate até que ele controle sua magia de caixa dimensional, ficará tudo bem.
Raka ponderou por alguns minutos em absoluto silêncio, e ent?o tomou sua decis?o.
— Concordo que os exercícios podem ser feitos. Assim, além de melhorar a forma física, ele poderá aprender mais sobre seu próprio corpo e seus limites. — Olhando diretamente para Hakuro, continuou. — A partir de amanh?, fará os meus exercícios matinais assim que acordar. Irei te levantar pessoalmente ao nascer do sol, nada como come?ar o dia cedo para fazê-lo render mais.
De volta ao seu quarto após o jantar, Hakuro sentou-se à beira da cama, olhando distraidamente para as sombras dan?antes na parede. A luz suave dos cristais de mana do jardim come?ava a diminuir, deixando o ambiente tranquilo e silencioso. Ele sabia que deveria descansar — afinal, Raka havia deixado bem claro que o dia seguinte seria exaustivo —, mas sua mente estava agitada, cheia de pensamentos sobre o treinamento e tudo o que havia acontecido até ali.
"Este corpo humano... é t?o estranho," pensou ele, balan?ando os pés levemente enquanto observava as m?os pequenas e delicadas à sua frente. Apesar de toda a for?a mágica que conseguia sentir dentro de si, ainda era frustrante perceber como essa nova forma era frágil. "Como algo t?o pequeno pode conter tanto poder e, ao mesmo tempo, ser t?o limitado?"
Mas Hakuro n?o podia mudar o que era agora, ent?o precisava aprender a lidar com isso. Além disso, havia algo intrigante nessa nova existência. Ele estava descobrindo coisas que nunca teria experimentado como um drag?o: o calor de uma refei??o caseira, o conforto de um sorriso sincero Arysa, e até mesmo a sensa??o de cansa?o após um dia de treinamento.
"Os deuses sabem," pensou ele, com um leve arrepio. "Eles me chamaram pelo meu verdadeiro nome no batismo. Mas o que querem de mim?"
Hakuro balan?ou a cabe?a, tentando afastar esses pensamentos. N?o era hora de se perder em especula??es. Ele precisava focar no presente, nos desafios imediatos. O treinamento físico com Raka seria apenas o come?o, e ele sabia que precisaria de toda a sua determina??o para superá-lo.
"Tudo bem," disse a si mesmo, com um pequeno sorriso. "Se os deuses querem ver um herói, vou mostrar o que posso fazer."
Com esse pensamento, ele finalmente se deitou, fechando os olhos. Mas, mesmo à beira do sono, sua mente continuava ativa, imaginando o que o futuro lhe reservava. Sabia que os próximos dias seriam exaustivos, e ele estava determinado a aproveitar cada oportunidade para crescer.
Ainda era madrugada quando Hakuro sentiu algo tocar seu ombro com firmeza. Ele abriu os olhos lentamente, tentando ajustar sua vis?o à pouca luz do quarto. A silhueta imponente de Raka destacava-se contra o brilho tênue que entrava pela janela.
— Levante-se, garoto — disse ela, sua voz calma, mas carregada de autoridade. — O sol n?o espera por ninguém.
Hakuro esfregou os olhos, ainda sonolento, mas sabia que n?o havia espa?o para hesita??o. Ele se levantou rapidamente, vestindo as roupas cuidadosamente deixadas por Arysa na noite anterior. Raka já estava parada à porta, esperando com os bra?os cruzados.
— Hoje come?aremos com algo básico, mas essencial: condicionamento físico. N?o importa quanta magia você tenha, um corpo fraco limitará suas capacidades.
Sem mais palavras, ela saiu do quarto, esperando que ele a seguisse. Hakuro acompanhou-a até o jardim da mans?o, onde o ar fresco da manh? estava carregado com o cheiro de grama úmida pelo orvalho. O céu come?ava a clarear, tingido de tons suaves de laranja e rosa enquanto o sol despontava no horizonte.
Raka posicionou-se no centro do gramado, virando-se para encarar Hakuro com um olhar penetrante.
— Antes de qualquer coisa, precisamos aquecer seus músculos. Isso evitará les?es e preparará seu corpo para o que vem a seguir. Preste aten??o.
Ela come?ou a demonstrar uma série de alongamentos fluidos, movimentos que pareciam simples, mas exigiam coordena??o e equilíbrio. Hakuro observou atentamente antes de imitar cada movimento. Ele sentiu seus músculos esticarem, alguns protestando contra a atividade t?o cedo, mas manteve o ritmo.
— Agora, flex?es — ordenou Raka, após alguns minutos de alongamento. — Vinte repeti??es. Mantenha a postura correta: costas retas, m?os alinhadas com os ombros.
Hakuro posicionou-se no ch?o e come?ou a executar as flex?es. Ele sentiu o peso de seu corpo pressionando os bra?os, mas manteve o ritmo constante, como Raka havia instruído. Quando terminou, ele estava ofegante, mas orgulhoso de ter completado a tarefa.
— Muito bem — disse Raka, com um leve aceno de aprova??o. — Agora, agachamentos. Trinta repeti??es. Lembre-se de manter o equilíbrio e dobrar os joelhos corretamente.
Os exercícios continuaram, alternando entre alongamentos dinamicos, séries de abdominais, saltos e corridas curtas ao redor do jardim. Cada movimento era projetado para fortalecer diferentes grupos musculares, melhorar a resistência cardiovascular e aumentar a flexibilidade. Hakuro sentia o suor escorrer por sua testa, mas n?o reclamou nem hesitou. Ele sabia que aquilo era apenas o come?o.
Quando finalmente terminaram, o sol já havia subido no céu, banhando o jardim com uma luz dourada. Raka olhou para Hakuro, que estava parado, recuperando o f?lego, com um sorriso satisfeito.
— Você fez um bom trabalho hoje — disse ela, cruzando os bra?os. — Mas isso é apenas o primeiro dia. Se quiser melhorar, precisará ser consistente. Todos os dias, ao nascer do sol, estarei aqui para guiá-lo.
Hakuro assentiu, sentindo uma nova onda de determina??o crescer dentro de si. Ele sabia que o caminho seria difícil, mas também sentia que estava no caminho certo.
Após o treino físico exaustivo, Hakuro sentiu seus músculos protestarem enquanto caminhava de volta para a mans?o. Ele sabia que sua manh? ainda n?o havia terminado — havia uma rotina a seguir antes do próximo treinamento.
Ao entrar na mans?o, Arysa já o esperava no corredor, com um sorriso maternal e uma toalha limpa nas m?os.
— Parece que você deu duro hoje, Hakuro-sama — disse ela, com sua voz doce e maternal. — Venha, vamos cuidar de você antes do café da manh?.
Hakuro assentiu, permitindo que Arysa o guiasse até o banheiro. Ela o ajudou a se lavar, removendo o suor e a terra acumulados durante o exercício. Enquanto isso, ele aproveitou para relaxar por alguns momentos, sentindo o frescor que a água morna trazia à sua pele.
— Você está se saindo muito bem, Hakuro-sama — comentou Arysa, enquanto o secava com cuidado. — Raka-sama parece impressionada com seu progresso.
Ele sorriu timidamente, mas n?o respondeu. Sabia que ainda tinha muito a aprender, e o peso dessa responsabilidade era algo que carregava consigo em silêncio.
Depois de ser trocado com roupas limpas e confortáveis, Hakuro seguiu Arysa até a sala de refei??es, onde um café da manh? simples, mas nutritivo, aguardava. Ele comeu com apetite, ainda sentindo a energia sendo renovada pelo descanso breve.
— Está animado para seguir com o treinamento? — perguntou Arysa, enquanto servia uma xícara de leite morno para ele.
— Estou... — respondeu Hakuro, hesitante. — Mas também estou um pouco nervoso. N?o sei bem o que esperar.
Arysa sorriu, acariciando seu cabelo gentilmente.
— Tenho certeza de que você vai se sair bem. Raka-sama sabe o que está fazendo, e você tem um cora??o determinado. Isso é mais do que muitos podem dizer.
Hakuro assentiu, sentindo-se um pouco mais confiante. Terminou o café da manh? rapidamente, ansioso para n?o se atrasar.
Após o café, Hakuro seguiu para a biblioteca, onde Raka já o aguardava. A sala ampla estava iluminada pela luz suave que entrava pelas grandes janelas, criando um ambiente tranquilo e propício para estudo. Prateleiras repletas de livros antigos e pergaminhos alinhavam-se nas paredes, e o cheiro característico de papel envelhecido permeava o ar.
Raka estava sentada em uma das mesas longas, folheando um livro grosso com capa de couro desgastado. Ao ouvir os passos de Hakuro, ela ergueu os olhos e fechou o livro com um leve estalo.
— Pelo visto, você está pronto para come?ar — disse ela, com um tom neutro, mas n?o sem um tra?o de aprova??o em seu olhar.
Hakuro assentiu, aproximando-se da mesa.
— Sim, professora Raka. Estou pronto.
Ela indicou uma cadeira à sua frente, e ele se sentou, observando enquanto ela organizava alguns materiais sobre a mesa: mapas, diagramas e anota??es escritas à m?o.
— Hoje come?aremos com os fundamentos do combate — explicou Raka, cruzando os bra?os. — Antes de aprender qualquer técnica elaborada, você precisa entender os princípios básicos: postura, equilíbrio, movimento e estratégia. S?o esses pilares que sustentam tudo o que virá depois.
Hakuro ouvia atentamente, absorvendo cada palavra. Ele notou que Raka havia desenhado um diagrama detalhado mostrando diferentes posturas de luta, com setas indicando pontos de press?o e movimentos estratégicos.
— Quando você estiver em posi??o defensiva, mantenha os joelhos levemente flexionados e o centro de gravidade baixo — disse ela, levantando-se para demonstrar a postura. — Isso dará estabilidade e permitirá que você reaja rapidamente a ataques inesperados.
Hakuro se posicionou ao lado de Raka tentando imitar os movimentos, ajustando sua posi??o conforme as instru??es. Embora ainda fosse inexperiente, ele sentia que estava come?ando a compreender a lógica por trás de cada detalhe.
— Muito bem — elogiou Raka, com um pequeno aceno de aprova??o. — Agora, vamos falar sobre movimento. No combate, cada passo que você dá deve ter um propósito. N?o se mova apenas por mover; pense em como cada a??o contribui para sua vantagem.
O treinamento continuou por algumas horas, com Raka alternando entre explica??es teóricas e demonstra??es práticas. Hakuro fazia anota??es mentais, esfor?ando-se para memorizar cada conceito. Apesar da complexidade do conteúdo, ele sentia uma estranha familiaridade com os princípios apresentados, como se algo dentro dele já os reconhecesse.
Quando finalmente terminaram, Hakuro estava mentalmente exausto, mas também profundamente satisfeito. Ele percebeu que o treinamento teórico era t?o desafiador quanto o físico, mas de maneira diferente.
— Por hoje é só — anunciou Raka, recolhendo os materiais da mesa. — Agora vamos almo?ar, pois terá que praticar com Myka suas magias após a refei??o. Além disso, também faremos na prática todas essas posturas, é importante que as treine diariamente.
Hakuro assentiu, levantando-se com um sorriso discreto.
— Obrigado, professora Raka. Farei o meu melhor.
Enquanto caminhavam para a sala de refei??es, ele refletiu sobre o que havia aprendido. Cada li??o parecia abrir uma nova porta em sua mente, revelando possibilidades que ele mal podia imaginar.
Ao entrarem na sala, o almo?o já estava servido em pratos simples, mas saborosos: legumes assados, p?o fresco e um caldo quente que parecia reconfortante. O ambiente era tranquilo, mas o silêncio entre eles era palpável. Arysa movimentava-se discretamente ao fundo, garantindo que tudo estivesse em ordem.
Hakuro comeu devagar, sentindo o cansa?o do treino matinal pesar em seus ombros. Ele sabia que ainda havia muito mais pela frente — a prática com Myka e os exercícios físicos supervisionados por Raka. Ainda assim, ele se for?ou a terminar cada peda?o, ciente de que precisaria de energia para o que viria a seguir.
— Coma tudo — disse Raka, com um tom neutro, mas firme. — Você vai precisar.
Hakuro assentiu sem dizer nada, engolindo o último bocado de p?o. Ele n?o tinha for?as para questionar ou mesmo responder.
Após o almo?o, Hakuro acompanhou Myka até o jardim, ela caminhava ao seu lado com um sorriso encorajador. Ela já havia deixado tudo preparado com uma mesa de madeira pequena encimada por um conjunto de objetos variados — pedras, pequenas varas de madeira e até mesmo algumas flores silvestres.
— Hoje vamos trabalhar novamente no controle da sua caixa dimensional — anunciou ela, colocando alguns pratos de porcelana e cristais sobre a mesa, cuidadosamente. — Mas desta vez, quero que tente algo diferente. Imagine organizar os objetos dentro da caixa em categorias específicas: pedras em uma "prateleira", madeira em outra, e assim por diante. Isso ajudará você a desenvolver maior precis?o.
Hakuro assentiu, concentrando-se profundamente e visualizando a caixa dimensional em sua mente, como um espa?o bem organizado. Lentamente, come?ou a mover os objetos para dentro dela, tentando sentir onde cada item deveria ser colocado. No início, foi desafiador — alguns objetos pareciam resistir ou se misturar involuntariamente. Mas, com paciência, ele conseguiu organizar tudo conforme instruído.
— Muito bom — elogiou Myka, com um leve sorriso, ao ver que o garoto já havia guardado todos os objetos. — Agora, retire-os na ordem inversa, mantendo a mesma organiza??o.
O exercício continuou por horas, com Hakuro repetindo o processo várias vezes. Cada tentativa exigia concentra??o e controle, o fazendo sentir sua mana sendo drenada aos poucos.
Depois disso, Raka assumiu o comando para os exercícios de postura. Ela o guiou através de movimentos básicos, ajustando sua posi??o sempre que necessário.
— Mantenha as costas retas — ordenou ela, corrigindo sua postura com um toque firme. — E lembre-se, equilíbrio é essencial. Se perder o controle do seu centro de gravidade, qualquer ataque pode derrubá-lo.
Hakuro obedeceu, tentando manter o foco apesar do cansa?o acumulado. Ele alternava entre posi??es de bloqueios defensivos e passos calculados, sentindo os músculos queimarem com cada movimento.
Quando finalmente terminaram, o sol já estava se pondo, tingindo o céu de tons alaranjados e roxos. Hakuro mal conseguia ficar de pé, suas pernas tremendo com o esfor?o.
— Pode descansar agora — disse Raka, com um leve aceno de aprova??o. — Você fez um bom trabalho hoje.
Sem dizer uma palavra, Hakuro arrastou-se até seu quarto, onde caiu na cama completamente exausto. N?o houve tempo para reflex?es ou pensamentos profundos — ele adormeceu quase instantaneamente, vencido pelo cansa?o.
Os dias se passaram rapidamente, cada um repleto de desafios e aprendizados. A rotina de Hakuro continuava intensa: manh?s exaustivas de exercícios físicos com Raka, seguidas por sess?es de teoria por vezes de combate e outras de magia, finalizando com o treinamento prático de magia com Myka e físico com Raka, à tarde. No entanto, algo notável havia mudado em apenas uma semana — Hakuro dominara completamente a magia da caixa dimensional.
Agora, ele podia organizar e retirar objetos sem hesita??o, como se a caixa fosse uma extens?o natural de sua mente. Ele até come?ara a experimentar usos mais criativos da habilidade, como armazenar pequenas armadilhas improvisadas ou itens úteis durante os treinos. Myka observava tudo com um sorriso satisfeito, enquanto Raka mantinha seu olhar crítico, sempre buscando formas de testar os limites do garoto.
Com a magia sob controle, Raka decidiu que era hora de retomar o treinamento de combate, algo que havia sido interrompido após o incidente que fizera reorganizarem o treinamento todo. Ela come?ou a ensinar técnicas básicas de espada novamente, enfatizando postura, equilíbrio e movimenta??o. Para sua surpresa, Hakuro mostrou-se um aluno excepcionalmente rápido.
— Isso é incrível — comentou Raka, após uma sequência particularmente bem executada de bloqueios e contra-ataques. — Você tem evoluído de forma extraordinária.
Hakuro apenas sorriu, enxugando o suor da testa, sem dizer mais nada.
Raka trocou um olhar significativo com Myka, que assistia ao treino à distancia. Ambas notaram que seu desenvolvimento ia além das bên??os recebidas no batismo. Era como se ele estivesse descobrindo habilidades inatas, escondidas e enraizadas profundamente dentro de si.
A bên??o da Deusa da Guerra parecia manifestar-se de maneira quase instintiva em seus movimentos. Cada golpe, cada defesa, carregava uma precis?o e fluidez que lembrava a experiência de um guerreiro veterano. O incidente com a espada, embora traumático, servira como um alerta para Hakuro sobre a importancia de controlar suas habilidades mágicas enquanto aprimorava suas técnicas de combate.
— Mantenha as costas retas — corrigiu Raka, ajustando sua postura com um toque firme. — Lembre-se, equilíbrio e postura s?o essenciais. Se perder o controle do seu centro de gravidade, qualquer ataque poderá derrubá-lo ou desarmá-lo.
Hakuro assentiu, determinado. Ele sabia que ainda havia muito a aprender, mas também sentia que estava no caminho certo. O treinamento físico e mágico come?ava a se fundir em sua mente, permitindo que ele vislumbrasse novas possibilidades.
Ao final da semana, Hakuro já demonstrava um nível intermediário em combate. Ele conseguia antecipar os ataques simulados de Raka, bloqueando-os com eficiência e respondendo com contra-ataques calculados. Embora ainda faltasse for?a física e refinamento técnico, sua capacidade de adapta??o e sua intui??o compensavam essas lacunas.
— Você está evoluindo rápido — disse Raka, cruzando os bra?os enquanto observava Hakuro praticar uma sequência de movimentos. — Mas lembre-se, velocidade n?o significa perfei??o. Precisamos continuar trabalhando no seu controle de for?a e na precis?o dos movimentos.
Naquela noite, o jantar foi servido em um clima tranquilo, mas com uma energia diferente no ar. Raka e Myka estavam particularmente pensativas, trocando olhares discretos enquanto Hakuro se concentrava em sua refei??o, ainda exausto do treinamento intensivo do dia.
— Hakuro — come?ou Myka, após alguns momentos de silêncio. — Como você se sentiria em come?ar a enfrentar desafios fora da floresta onde temos treinado? Algo mais próximo do que aventureiros experientes enfrentam diariamente.
Hakuro ergueu os olhos, surpreso com a pergunta.
— Fora da floresta? — ele repetiu, hesitante. — Quer dizer... miss?es ou algo assim?
Raka assentiu, cruzando os bra?os.
— Exatamente. Achamos que já é hora de você come?ar a aplicar o que aprendeu em situa??es mais práticas. N?o estamos falando de nada arriscado, claro. Mas pequenos trabalhos de baixo ranking podem ser uma excelente forma de treinamento.
Myka sorriu, complementando as palavras de Raka.
— Além disso, isso vai ajudá-lo a entender melhor como o mundo funciona. Você n?o pode passar toda a sua vida apenas dentro da floresta ou dessas paredes, Hakuro. é importante que veja como outras pessoas vivem, como lidam com problemas e como enfrentam desafios.
Hakuro assentiu lentamente, sentindo uma mistura de empolga??o e ansiedade crescer dentro dele. Ele sabia que estava pronto para algo maior, mas também entendia que ainda havia muito a aprender.
— Quando come?aremos? — perguntou ele, tentando manter a voz firme.
Raka e Myka trocaram um olhar significativo antes de responder.
— Amanh? mesmo — disse Raka, com um tom decidido. — Iremos à Guilda de Aventureiros pela manh?. Pegaremos alguns trabalhos simples, como coletar ervas ou eliminar pequenas pragas. Será uma boa oportunidade para você praticar suas habilidades fora do campo de treinamento.
Myka acrescentou, com um sorriso encorajador:
— E n?o se preocupe. Estaremos com você o tempo todo. Isso n?o é sobre testar seus limites, mas sim sobre ajudá-lo a se acostumar com o ritmo e as responsabilidades de um aventureiro.
Após o jantar, enquanto Hakuro se preparava para dormir, Raka e Myka discutiram os ajustes no cronograma de treinamento. Elas decidiram que, a partir do dia seguinte, seriam mantidos os exercícios feitos logo cedo, antes do amanhecer, mas sem novos aumentos nas séries, para garantir que Hakuro estivesse descansado para as atividades práticas ao longo do dia.
— Os exercícios matinais continuar?o sendo essenciais — disse Raka, enquanto organizava algumas anota??es. — Mas vamos adaptar o restante do treinamento para que a teoria seja ensinada durante as práticas. Isso permitirá que ele aplique imediatamente o que aprender.
Myka concordou, anotando algumas ideias em seu grimório.
— Sim, e podemos usar as miss?es como oportunidades para ensinar sobre estratégias, controle de mana e até mesmo sobre como lidar com adversários inesperados. Será um aprendizado contínuo, tanto físico quanto mental.
As duas estavam confiantes de que essa nova abordagem ajudaria Hakuro a evoluir ainda mais rapidamente. Elas sabiam que o garoto tinha potencial extraordinário, mas também entendiam que ele precisava de experiências práticas para solidificar seus conhecimentos.
Na manh? seguinte, Hakuro acordou antes do nascer do sol, se vestindo e indo direto aos jardins para os exercícios físicos com Raka. O treinamento foi intenso, mas ele sentia uma energia renovada, impulsionada pela expectativa do que viria a seguir.
Quando terminaram, Raka entregou-lhe uma pequena mochila com suprimentos básicos.
— Pronto para sua primeira aventura? — perguntou ela, com um sorriso confiante.
Hakuro assentiu, segurando a mochila com firmeza.
— Estou pronto — respondeu ele, sua voz transbordando determina??o.
Enquanto caminhavam em dire??o à Guilda de Aventureiros, Hakuro sentia o cora??o bater mais rápido. Ele sabia que aquele era apenas o início de uma nova fase em sua jornada, mas também sentia que estava evoluindo e amadurecendo.
Ao chegarem à entrada da guilda, Myka parou por um momento e olhou para Hakuro com um sorriso encorajador.
— Lembre-se, garoto. Isso é apenas o come?o. O mundo lá fora é vasto e cheio de possibilidades. E você está prestes a dar seus primeiros passos nele.
Hakuro assentiu novamente, sentindo uma mistura de nervosismo e empolga??o. Ele mal podia esperar para ver o que o aguardava dentro daqueles port?es.