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Capítulo 6 - Caminhando como Aventureiro

  Ao entrar na Guilda de Aventureiros, Hakuro sentiu-se imediatamente envolvido por uma atmosfera vibrante e agitada. O prédio n?o era particularmente majestoso — suas paredes de pedra rústica exibiam marcas do tempo, e o ch?o de madeira rangia sob os passos dos aventureiros que iam e vinham. O sal?o principal era amplo, mas simples, com mesas de madeira espalhadas pelo espa?o e um balc?o de recep??o posicionado no fundo. Quadros de avisos cobertos de pergaminhos pendurados lado a lado chamavam a aten??o, cada um detalhando diferentes miss?es e recompensas. O som de conversas animadas, risadas e o tilintar ocasional de canecas de metal criava uma energia única, algo que Hakuro nunca havia experimentado antes.

  Raka caminhou à frente, com Myka ao lado, enquanto Hakuro seguia logo atrás, observando tudo com olhos curiosos. Ele notou que muitos dos aventureiros lan?avam olhares rápidos em sua dire??o, provavelmente surpresos ao ver uma crian?a acompanhada por duas mulheres de aparência t?o imponente.

  — Boa tarde, Mieko — cumprimentou Raka ao chegarem ao balc?o, onde uma jovem humana ruiva organizava alguns pergaminhos. Seus cabelos ondulados caíam sobre os ombros, e seus olhos rosados brilhavam com gentileza, mas também com uma ponta de firmeza. Ao vê-la, Hakuro sentiu uma estranha familiaridade — aqueles olhos lembravam os de sua m?e, Nyellen.

  — Olá, Raka-san, Myka-san — respondeu Mieko com um sorriso caloroso, antes de notar Hakuro parado timidamente atrás delas. — E quem é esse jovem aqui?

  — Este é Hakuro — apresentou Myka, colocando uma m?o suave sobre o ombro do garoto. — Ele está come?ando sua jornada como aventureiro, ent?o gostaríamos de pegar algumas miss?es simples para ele praticar. Gostaríamos de alguma que envolva monstros um pouco mais fortes que goblins, pois esses ele já derrota facilmente.

  Mieko assentiu, seu sorriso se ampliando ao observar Hakuro, com sua armadura de treino e espada nas costas.

  — Que fofo! — exclamou ela, piscando para o garoto. — N?o se preocupe, pequeno aventureiro, todos nós come?amos em algum momento. Deixe-me ver quais miss?es seriam adequadas para vocês...

  Ela revisou rapidamente os pergaminhos no quadro de avisos, selecionando dois deles.

  — Aqui est?o — disse ela, entregando os pergaminhos a Raka. — Uma miss?o de ranking F: coletar 15 ervas medicinais na floresta próxima, e outra de ranking E: eliminar cinco lobos sangrentos que têm causado problemas nas redondezas. Como vocês já s?o do ranking B, acredito que n?o ter?o problemas, mesmo com esse jovem as acompanhando.

  Hakuro franziu levemente a testa ao ouvir sobre os lobos sangrentos. Ele já havia enfrentado slimes e goblins durante o treinamento, mas algo nele se agitava ao pensar em enfrentar criaturas maiores e mais perigosas.

  — Parece bom — comentou Raka, examinando os pergaminhos brevemente. — Estaremos de volta até o final do dia.

  — Boa sorte, pessoal! — desejou Mieko, acenando para eles enquanto se afastavam.

  Após deixarem a guilda, o grupo seguiu em dire??o à floresta mencionada por Mieko. O caminho era tranquilo, cercado por campos abertos e árvores esparsas. O ar fresco da manh? carregava o aroma de grama molhada pelo orvalho, e o som distante de pássaros cantando tornava o ambiente relaxante.

  — Pronto para sua primeira miss?o? — perguntou Myka, olhando para Hakuro com um sorriso encorajador.

  Hakuro assentiu, tentando manter a confian?a.

  — Sim, professora Myka. Só espero conseguir ajudar.

  — Você vai se sair bem — afirmou Raka, com um tom firme. — Lembre-se do que ensinamos: controle, equilíbrio e estratégia. Esses lobos n?o ser?o muito diferentes dos goblins que você já enfrentou.

  Hakuro respirou fundo, sentindo o peso da expectativa crescer dentro dele. Ele sabia que aquela seria sua primeira oportunidade de provar a si mesmo fora do campo de treinamento. Enquanto caminhavam, ele observava atentamente o terreno, for?ando sua percep??o a aumentar para estar preparado quando chegassem ao destino.

  Quando finalmente entraram na floresta, a luz do sol foi filtrada pelas copas das árvores, criando padr?es de sombra e claridade no ch?o. O silêncio era interrompido apenas pelo farfalhar das folhas e o ocasional som de pequenos animais correndo entre os arbustos.

  — Fiquem atentos — alertou Raka, com a m?o repousando casualmente no cabo de sua espada. — Os lobos podem nos cercar se n?o formos cautelosos.

  Hakuro assentiu novamente, ajustando sua própria postura. Ele sabia que o verdadeiro teste estava prestes a come?ar.

  — Devo usar “Detectar” professora? — Disse Hakuro com um ar confiante enquanto preparava sua varinha.

  Raka trocou um olhar rápido com Myka antes de assentir.

  — Sim, use. Mas lembre-se: concentre-se na presen?a de mana ao redor. N?o precisa ser específico, apenas localize possíveis amea?as.

  Hakuro respirou fundo, ergueu a varinha concentrando-se profundamente. Ele sentiu a mana fluir suavemente através de si, expandindo sua percep??o mágica ao redor. Após alguns segundos, anunciou triunfante.

  — Três presen?as hostis — sua voz firme. — Aproximadamente 100 metros à direita. Est?o próximas umas das outras, aproximadamente dois metros de separa??o, sugerindo que est?o ca?ando.

  Raka e Myka trocaram olhares impressionados.

  — Você consegue determinar a distancia e a quantidade com tanta precis?o? — perguntou Myka, surpresa. — Isso é algo que até mesmo magos experientes demoram anos para dominar.

  Hakuro deu de ombros, um pouco constrangido.

  — Eu só... sinto isso. Como se a mana me mostrasse uma imagem clara do que tem ao redor.

  Raka assentiu, visivelmente satisfeita.

  — Essa habilidade será extremamente útil no futuro. Agora, vamos nos aproximar com cautela. Hakuro, fique atrás de nós e observe. Este será um bom momento para aprender como lidar com essas criaturas.

  Sem hesitar, Raka liderou o grupo em dire??o às presen?as hostis. Ela movia-se com precis?o letal, sua espada reluzindo sob a luz filtrada pelas copas das árvores, avistando três lobos de porte médio e com pelagem vermelha como sangue. O primeiro lobo mal teve tempo de reagir antes que ela desferisse um golpe certeiro em sua jugular, derrubando-o instantaneamente.

  Myka com um gesto elegante, lan?ou uma rajada de vento que jogou o segundo animal contra uma árvore, deixando-o atordoado. Raka aproveitou a oportunidade para finalizá-lo com um único golpe.

  O terceiro lobo, percebendo que estava em desvantagem, tentou fugir. No entanto, Myka antecipou seu movimento e, invocando raízes do solo, prendeu o animal, o envolvendo em uma espécie de rede. Raka ent?o se aproximou calmamente e desferiu o golpe final.

  Tudo durou menos de dois minutos. Após a batalha, Raka virou-se para Hakuro, que observava tudo com olhos arregalados.

  — Agora, observe — disse ela, agachando-se ao lado de um dos lobos abatidos. — Em miss?es como essa, precisamos provar que eliminamos os monstros. Geralmente, isso é feito coletando partes específicas de seus corpos, como presas, garras ou até mesmo chifres. Também a casos de monstros que carregam cristais mágicos dentro de seus corpos, que chamamos de núcleos, esses núcleos permitem ao monstro usar magia e também serve de prova da elimina??o.

  Com movimentos rápidos e precisos, Raka usou sua adaga para extrair as presas afiadas do lobo, colocando-as em um pequeno saco de couro. Hakuro observava atentamente, memorizando cada detalhe.

  — Sua vez — disse Raka, entregando-lhe a adaga.

  Hakuro assentiu, sentindo o peso da responsabilidade. Ele se agachou ao lado de outro lobo e imitou os movimentos de Raka. Após alguns segundos de esfor?o, conseguiu extrair as presas, sentindo um leve orgulho ao segurá-las em suas m?os.

  — Muito bem — elogiou Myka, sorrindo. — Você aprende rápido.

  Enquanto guardava as presas no saco, Hakuro franziu a testa, pensativo.

  — Professora Raka — come?ou ele, hesitante. — A carne desses lobos é comestível?

  Raka ergueu uma sobrancelha, surpresa com a pergunta.

  — Sim, é comestível — respondeu ela, cruzando os bra?os. — Embora tenha um gosto forte e muitos aventureiros prefiram n?o se dar ao trabalho de carregar o corpo inteiro. é cansativo, pouco lucrativo e nada prático, especialmente em miss?es como essa.

  Hakuro assentiu, mas seu rosto demonstrava determina??o. Ele estendeu a m?o e, com um brilho suave de mana, ativou sua "Caixa Dimensional", fazendo o lobo abatido desaparecer dentro dela.

  — Eu gostaria de experimentar — disse ele, com um tom firme. — Além disso, quero aprender mais sobre como lidar com ca?a. Isso pode ser útil no futuro.

  Raka trocou um olhar divertido com Myka.

  — Você tem uma mente prática, garoto — comentou Raka, com um meio sorriso. — Mas lembre-se: ca?ar e preparar carne exige habilidades que levará um bom tempo para aprender e desenvolver.

  Myka concordou, adicionando:

  — E n?o se esque?a de que nem todos os monstros s?o seguros para consumo. Alguns podem ter toxinas ou magia residual que os tornam impróprios para comer.

  Hakuro assentiu novamente, absorvendo as palavras de suas mentoras.

  — Entendido. Vou me lembrar disso.

  — Aproveite e pegue os outros também — ordenou Raka com sua voz autoritária. — Assim, quando voltarmos, podemos vendê-los à Guilda. Apesar do valor ser baixo, podemos receber partes como pagamento. Isso varia, dependendo do monstro abatido. Por exemplo, podemos ficar com parte da carne ou com o couro dos lobos, ou ainda, se fossem tigres barrosos, poderiamos ficar com as presas.

  Mas n?o se esque?a, — continuou ela, com um tom didático — a Guilda cobra uma taxa para processar o monstro. Além disso, n?o é qualquer monstro que pode ser vendido. Um exemplo disso é a serpente de jade: apenas ferreiros podem comprá-las, e um pedido precisa ser feito diretamente à Guilda. A miss?o geralmente exige a entrega do monstro inteiro.

  Hakuro assentiu, absorvendo cada detalhe. Ele estava come?ando a entender que o mundo dos aventureiros era muito mais complexo do que parecia à primeira vista. N?o bastava apenas derrotar monstros; era preciso conhecer as regras, os valores e as demandas do mercado.

  — Lembrarei disso. — disse ele, com determina??o renovada.

  Com um brilho suave de mana, Hakuro ativou novamente sua "Caixa Dimensional" e guardou os outros dois lobos abatidos. Ele sabia que aquela experiência seria valiosa, tanto para aprender sobre ca?a quanto para entender melhor como funcionava a vida de um aventureiro.

  O grupo avan?ou mais profundamente na floresta. N?o demorou muito para que encontrassem uma pequena clareira cercada por arbustos densos e árvores altas. O ch?o estava coberto por folhas secas e pequenas plantas verdes, algumas delas brilhando levemente sob a luz filtrada do sol.

  — Aqui estamos — disse Myka, agachando-se ao lado de um pequeno arbusto com folhas azuladas e flores brancas delicadas. — Essas s?o as ervas medicinais que precisamos coletar. S?o chamadas de Lágrimas de Symeria . Elas têm propriedades curativas poderosas, mas devem ser colhidas com cuidado para n?o danificar suas raízes ou folhas.

  Ela entregou a Hakuro uma pequena faca de prata com cabo decorado.

  — Use isso para cortar as folhas próximas à base. N?o arranque a planta inteira, pois ela pode crescer novamente se for preservada corretamente, e evite tocar nas flores, elas soltam um óleo que queima a pele.

  Hakuro assentiu, observando atentamente enquanto Myka demonstrava como colher as ervas. Ele imitou seus movimentos com cuidado, sentindo a textura suave das folhas entre os dedos. Cada corte era preciso, e logo ele come?ou a se sentir mais confiante no processo.

  — Você está indo bem — elogiou Myka, sorrindo ao ver o garoto trabalhar. — Isso vai ser útil n?o apenas para miss?es, mas também para situa??es de emergência. Você pode mastigar essas folhas se estiver ferido, mas demora mais para te curar do que se tomar uma po??o feita delas. Para miss?es de coleta, você junta dez folhas para formar um ma?o, vamos precisar de quinze para concluir a nossa miss?o.

  Enquanto Hakuro continuava a colher as ervas, um som baixo de folhas sendo esmagadas ecoou pela clareira. Antes que qualquer um pudesse reagir, dois lobos sangrentos surgiram de trás dos arbustos, saltando diretamente em dire??o à clareira.

  O primeiro lobo mirou Hakuro, seus olhos amarelos brilhando com ferocidade. Sem tempo para pensar, Hakuro reagiu instintivamente. Ele estendeu a m?o em dire??o ao animal enquanto ativava sua "Caixa Dimensional". Para sua própria surpresa, o lobo desapareceu instantaneamente, sendo sugado para dentro da dimens?o mágica.

  — O quê...? — murmurou Raka, boquiaberta, enquanto observava a cena.

  Antes que o segundo lobo pudesse atacar, Hakuro girou rapidamente, concentrando sua mana na palma de sua m?o, uma bola de fogo azulada surgiu, iluminando a clareira com um brilho intenso. Ele lan?ou a magia contra o lobo, atingindo-o em cheio no peito. O animal caiu no ch?o, sua pelagem completamente carbonizada, antes mesmo de tocar o solo.

  Tudo aconteceu em quest?o de segundos.

  Raka e Myka trocaram olhares impressionadas, ainda processando o que haviam acabado de presenciar.

  — Isso foi incrível — comentou Myka, aproximando-se de Hakuro. — Nunca vi alguém usar a "Caixa Dimensional" dessa maneira. Capturar um lobo sem nem hesitar... você realmente tem uma mente única.

  Raka cruzou os bra?os, estudando o garoto com uma express?o pensativa.

  — E aquela bola de fogo... foi rápida e precisa. Você está controlando sua magia melhor do que eu esperava. A combina??o dessas habilidades... é algo que até mesmo aventureiros experientes teriam dificuldade em dominar.

  Hakuro abaixou a cabe?a, visivelmente constrangido com os elogios.

  — Eu só... reagi. N?o tive tempo de pensar.

  — E foi exatamente isso que fez a diferen?a — disse Raka, com um meio sorriso. — Em combate, às vezes n?o há tempo para pensar. Reagir instintivamente pode salvar sua vida. Mas lembre-se: controle é essencial. Se você perder o foco, a magia pode se voltar contra você.

  Myka concordou, colocando uma m?o gentil no ombro de Hakuro.

  — Você está evoluindo rapidamente, mas ainda há muito a aprender. Continue praticando, e essas habilidades se tornar?o ainda mais naturais com o tempo.

  Após o breve momento de elogios e reflex?es sobre o desempenho de Hakuro, Raka decidiu explorar mais a fundo as implica??es do uso “criativo” da "Caixa Dimensional".

  — Hakuro — chamou ela, com um tom firme mas curioso. — Agora que você demonstrou como capturar um lobo vivo, quero que o retire de sua caixa dimensional. Estaremos preparadas caso ele tente atacar assim que sair.

  Hakuro assentiu, concentrando-se novamente em sua magia. Ele estendeu a m?o direita, ativando a "Caixa Dimensional" e visualizando o espa?o interior onde havia guardado o lobo. Com um brilho suave de mana, ele puxou o animal de volta ao mundo real, esperando que ele saísse pronto para lutar.

  No entanto, quando o lobo materializou-se no ch?o da clareira, estava imóvel, sem qualquer sinal de vida. N?o havia ferimentos visíveis, mas era evidente que ele estava morto.

  — Já imaginava isso… — murmurou Myka, inclinando-se para examinar o corpo. Ela tocou o pelo vermelho-sangue do lobo, inspecionando-o cuidadosamente. — N?o há marcas de luta ou sinais de trauma. Esse realmente é o lobo que colocou vivo dentro da caixa dimensional.

  Hakuro franziu a testa, confuso.

  — Eu n?o entendo... ele estava vivo quando o coloquei lá dentro.

  — Dentro da caixa dimensional, o ambiente é completamente isolado do mundo exterior. Sem ar, luz ou qualquer tipo de sustento, qualquer ser vivo provavelmente n?o sobreviveria por muito tempo. é possível que o lobo tenha morrido por asfixia. — concluiu Myka.

  Os olhos de Hakuro se arregalaram ao compreender a explica??o.

  — Ent?o... eu matei o lobo sem perceber? — perguntou ele, sua voz carregada de surpresa e leve culpa.

  Myka balan?ou a cabe?a, colocando uma m?o reconfortante em seu ombro.

  — Você apenas se defendeu, Hakuro. Além disso, você ainda está aprendendo como usar essa habilidade e, capturar um monstro vivo em combate é extremamente difícil, mesmo para aventureiros experientes. O importante é que você esteja ciente de suas limita??es e do que pode ou n?o fazer com suas magias.

  Raka concordou, mas manteve seu tom autoritário.

  — Ainda assim, isso ensina algo valioso. Sua caixa dimensional pode ser usada tanto como arma quanto como ferramenta de armazenamento. No entanto, precisamos nos manter cautelosos, o ataque só ocorreu por baixarmos a guarda. Mas se você pretende capturar algo vivo no futuro, precisará encontrar um domador de feras que possa te ensinar sobre isso.

  Hakuro assentiu, absorvendo as palavras de suas mentoras.

  — Compreendo. Manterei isso em mente.

  Ele olhou para o lobo morto, sentindo uma mistura de fascínio e tristeza. Apesar de n?o ter sido sua inten??o, aquilo servia como um lembrete de que até mesmo suas habilidades mais úteis podiam ter consequências inesperadas.

  Enquanto guardavam o corpo do lobo na caixa dimensional para levá-lo de volta à Guilda, Hakuro refletiu sobre o que havia acontecido. Ele percebeu que, embora sua magia fosse incrivelmente poderosa, ela também vinha com responsabilidades e nuances que ele ainda precisava entender completamente. Cada nova descoberta parecia abrir portas para possibilidades ainda maiores, mas também trazia consigo desafios que exigiam paciência e prática.

  — Essa habilidade... é como uma espada de dois gumes — murmurou ele baixinho, enquanto terminava de coletar as ervas medicinais.

  Raka ouviu o comentário e lan?ou-lhe um olhar significativo.

  — Exatamente, Hakuro. A diferen?a entre uma ferramenta útil e uma arma perigosa está no controle que você exerce sobre ela. Continue praticando, e logo será capaz de dominar até mesmo os aspectos mais complexos de sua magia.

  Enquanto caminhavam de volta à Guilda de Aventureiros, o grupo estava envolvido por uma atmosfera tranquila, mas reflexiva. O som de suas botas ecoando contra o ch?o de terra batida misturava-se ao farfalhar das folhas ao vento. Hakuro ainda sentia um leve peso no peito pelo incidente com o lobo que havia morrido dentro da caixa dimensional, mas ele sabia que era parte do aprendizado, esse sentimento era algo novo para ele, n?o podia imaginar sentir algo assim em sua vida anterior.

  — Veja pelo lado bom — comentou Raka, rompendo o silêncio com um tom leve e brincalh?o. — Se algum dia você estiver em apuros, pode simplesmente usar sua caixa dimensional para se proteger... ou, bem, para dar um susto em qualquer inimigo que tentar te atacar. Imagine só: "Puf!" e a arma dele desaparece. Quem precisa de espadas quando você tem isso?

  Hakuro sorriu, apesar de sua preocupa??o. A tentativa de Raka de animá-lo funcionou, e ele percebeu que até mesmo seus erros podiam ser vistos como algo engra?ado ou útil, dependendo da perspectiva.

  Ao chegarem à Guilda de Aventureiros, foram recebidos por Mieko, que os cumprimentou com um sorriso caloroso.

  — De volta t?o cedo? — perguntou ela, olhando curiosa para o saco que carregavam. — Parece que tiveram sucesso, mas, aconteceu algo inesperado?

  Raka assentiu, mas antes de entregar os itens, fez um gesto discreto com a cabe?a em dire??o a uma sala lateral.

  — Mieko, podemos conversar em particular?

  Mieko ergueu uma sobrancelha, intrigada, mas concordou.

  — Claro, venham comigo.

  Ela os conduziu a uma pequena sala de reuni?es nos fundos da guilda, onde n?o havia ninguém além deles. Assim que a porta se fechou, Raka se virou para Hakuro.

  — Está na hora de mostrar o que trouxemos.

  Hakuro assentiu, concentrando-se em sua magia. Ele ativou sua "Caixa Dimensional" e, com um brilho suave de mana, retirou os corpos dos cinco lobos sangrentos, colocando-os cuidadosamente no ch?o da sala.

  Mieko arregalou os olhos, visivelmente surpresa.

  — Esses s?o... todos os lobos que vocês enfrentaram?

  Raka cruzou os bra?os, assumindo um tom sério.

  — Isso é gra?as à habilidade de Hakuro. Ele usou sua caixa dimensional para armazená-los imediatamente após o combate. Mas precisamos que você mantenha isso em segredo, Mieko. N?o queremos atrair aten??o indesejada. Afinal, Hakuro é filho do lorde dessas terras.

  Mieko assentiu rapidamente, compreendendo a gravidade da situa??o.

  — Entendido. Podem contar com minha total discri??o. Ninguém saberá que Hakuro possui essa habilidade.

  Myka sorriu, aliviada.

  — Obrigada, Mieko. Agora, sobre os lobos... O que podemos fazer com eles?

  Mieko examinou os corpos cuidadosamente.

  — Vocês podem escolher entre vender as partes valiosas, como couro, ficar com o pagamento integral pela venda dos lobos inteiros, ou vender apenas uma parte. No caso desses, o couro está em ótimo estado e pode ser vendido facilmente, já esse outro, acho que apenas a carne possa ser aproveitada.

  Raka trocou um olhar rápido com Myka antes de responder.

  — Vamos vender quase tudo, queremos apenas uma parte da carne.

  Mieko anotou tudo em seu registro, saiu por alguns minutos, voltando com dois rapazes extremamente musculosos, entregou-lhes uma pequena bolsa de moedas, enquanto os rapazes pegavam os lobos e levavam para fora da sala.

  — Aqui está o pagamento. Parabéns pela conclus?o da miss?o. Esperamos ver vocês novamente em breve! Retornem amanh? para pegar a carne.

  Hakuro sentiu um orgulho crescente ao ouvir aquelas palavras. Ele havia concluído sua primeira miss?o como aventureiro.

  Naquela noite, ao se deitar, Hakuro relembrou o qu?o maravilhoso fora seu dia, mesmo com um resquício de tristeza pela forma como matara o lobo dentro da caixa dimensional. Sabia que n?o havia sido intencional, mas aquilo ainda pesava em sua mente como uma li??o silenciosa sobre as consequências de suas a??es.

  "Foi um dia cheio de descobertas", pensou ele enquanto observava o teto escuro de seu quarto. Desde a primeira miss?o na Guilda de Aventureiros até o uso inesperado de sua "Caixa Dimensional", cada momento parecia ter moldado algo novo dentro dele. Ele havia enfrentado lobos sangrentos, coletado ervas medicinais e até participado da negocia??o dos corpos dos monstros com Mieko. Era como se, de repente, o mundo real estivesse come?ando a abrir suas portas para ele.

  Mas, ao mesmo tempo, Hakuro sentia uma mistura de orgulho e humildade. Ele estava progredindo, sim, mas também percebia que ainda era apenas o início. Cada erro — como a morte do lobo por asfixia — e cada sucesso — como a habilidade de usar magia sob press?o — eram partes essenciais de sua jornada.

  "Talvez seja isso que signifique ser humano", refletiu ele, virando-se de lado na cama. "Aprender com os erros e seguir em frente."

  Ele pensou nas palavras de Raka e Myka durante o dia. Elas sempre enfatizavam a importancia do controle, da prática e da paciência. E, apesar de sua juventude, Hakuro sentia que estava come?ando a entender o significado dessas li??es. Cada passo dado era uma prepara??o para algo maior, algo que ele ainda n?o conseguia enxergar claramente.

  Enquanto o sono come?ava a tomar conta de seus pensamentos, Hakuro sorriu levemente. Ele mal podia esperar para ver o que os próximos dias reservavam. Sabia que desafios maiores estavam por vir, mas também sentia que estava pronto para enfrentá-los.

  Passaram-se semanas, e a rotina de Hakuro continuou inabalável. Miss?es simples da Guilda de Aventureiros, treinamentos físicos com Raka e sess?es de magia com Myka tornaram-se parte de sua vida diária. Ele estava progredindo rapidamente, tanto em habilidades quanto em confian?a.

  No vigésimo oitavo dia após a partida de seus pais, Hakuro acordou antes do nascer do sol, como de costume, e encontrou Raka já esperando por ele no jardim. O ar fresco da manh? carregava o aroma de grama molhada pelo orvalho, e o som distante de pássaros cantando completava a tranquilidade do momento.

  — Pronto para come?ar? — perguntou Raka, com um sorriso confiante.

  Hakuro assentiu, come?ando a fazer seu costumeiro alongamento. Ele sabia que o dia traria mais testes para suas habilidades em constante evolu??o.

  No entanto, em meio aos exercícios, o som de cascos de cavalos ecoou pelo caminho que levava à mans?o. Surpreso, Hakuro virou-se para ver uma carruagem familiar parar à entrada do jardim. Seu cora??o disparou ao reconhecer o símbolo da família gravado na lateral do veículo.

  — Eles voltaram... — murmurou Hakuro, mal conseguindo acreditar.

  Nafyr e Nyellen desceram da carruagem, seguidos por Kyra e Alek. Enquanto caminhavam em dire??o ao jardim, onde Hakuro e Raka treinavam, Alek se separou dos demais, indo direto para dentro da mans?o e assim evitando contato com o irm?o.

  — Papai! Mam?e! Kyra! — exclamou Hakuro, correndo para abra?á-los.

  Nyellen sorriu, abra?ando o filho com ternura, enquanto Nafyr bagun?ava seus cabelos lilás com um sorriso orgulhoso.

  — Você cresceu, meu garoto — comentou Nafyr, observando Hakuro com aten??o. — Parece que os treinos têm feito bem a você.

  Raka inclinou-se respeitosamente.

  — Senhor Nafyr, senhora Nyellen. é uma honra recebê-los de volta.

  Nafyr acenou com a cabe?a, mas logo seu olhar voltou-se para Hakuro, com um brilho desafiador nos olhos, enquanto o via abra?ando a irm?.

  — Ent?o, Hakuro... fiquei sabendo que você está se tornado um verdadeiro aventureiro, o mestre Yanthorn me enviou notícias falando de suas proezas. Quero ver isso com meus próprios olhos. O que me diz de um duelo simulado? — Disse Nafyr apontando para as espadas encostadas nos arbustos.

  Hakuro hesitou por um momento, surpreso com o desafio, mas logo assentiu com determina??o.

  — Claro, papai. Estou pronto.

  Nafyr sorriu, entregando-lhe um cart?o metálico cinza-azulado com o símbolo da Guilda em relevo gravado nele — o distintivo de um aventureiro de ranking S, feito em platina.

  — Antes de come?armos, queria que soubesse disto. Agora, mostre-me o que aprendeu.

  Hakuro sentiu um frio na barriga ao perceber a magnitude do momento. Ele sabia que enfrentar um aventureiro de ranking S, mesmo em um duelo simulado, seria um desafio monumental. Mas ele também sabia que aquela era uma oportunidade única de provar seu crescimento. Hakuro olhou o cart?o por alguns instantes, depois o devolveu ao pai e respirando fundo se afastou em dire??o aos arbustos.

  Raka, Nyellen e Kyra se afastaram para a lateral do jardim, enquanto Hakuro pegava sua espada de treino e assumia sua posi??o de combate, concentrado e determinado. O duelo estava prestes a come?ar.

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  Nafyr e Hakuro se posicionaram no centro do jardim, separados apenas por alguns metros. O ar estava carregado de expectativa, e os olhos de todos estavam fixos nos dois combatentes. Hakuro exibia um brilho de determina??o em seus olhos roxos. Enquanto Nafyr, por outro lado, mantinha uma postura calma e confiante, avaliando o filho com aten??o.

  — Pronto para come?ar? — perguntou Nafyr, com um sorriso desafiador.

  Hakuro assentiu, ele sabia que enfrentar seu pai seria um desafio monumental, mas também uma oportunidade de provar seu progresso. Sem hesitar, ele iniciou o combate. Com um movimento rápido, Hakuro canalizou duas magias simultaneamente: uma de melhoramento físico e outra de agilidade. Seu corpo pareceu vibrar com energia enquanto ele disparava em dire??o a Nafyr, surpreendendo até mesmo o experiente guerreiro. Com um golpe preciso, Hakuro atacou, for?ando Nafyr a bloqueá-lo por reflexo.

  Nyellen e Kyra observavam com express?o de espanto. Mas enquanto Nyellen parecia preocupada com a intensidade do embate, Raka e Kyra exibiam um leve sorriso orgulhoso.

  — Esses foram os últimos encantamentos que eu ensinei a ele — comentou Kyra, voltando-se para sua m?e. — Ele já os domina t?o bem... é incrível.

  Nyellen assentiu, impressionada.

  — Ele realmente tem talento... mas isso n?o deixa de me preocupar. Seu pai n?o está se segurando.

  Encorajado pelo sucesso inicial, Hakuro continuou pressionando Nafyr com ataques rápidos e precisos. Sua espada de madeira cortava o ar com for?a, mas Nafyr conseguia bloquear cada golpe com facilidade aparente. No entanto, era evidente que o garoto estava testando os limites do pai.

  Mas Nafyr n?o era um aventureiro de ranking S à toa. Ele contra-atacou com uma série de golpes poderosos, for?ando Hakuro a recuar. O jovem lutador tentou acompanhar o ritmo, mas a diferen?a de experiência logo come?ou a pesar. Em um momento de descuido, Hakuro perdeu o equilíbrio, abrindo uma brecha em sua defesa.

  Sem hesitar, Nafyr aproveitou a oportunidade e desferiu um golpe certeiro. Hakuro, no entanto, reagiu rapidamente. Erguendo uma barreira mágica translúcida e azulada, bloqueou o ataque. O impacto foi t?o forte que a espada de treino de Nafyr se partiu ao meio ao colidir com a barreira.

  — Incrível... — murmurou Nyellen, que observava tudo ao lado de Kyra. — Ele ativou a barreira sob press?o e ainda a fortificou o suficiente para quebrar a espada.

  Kyra aplaudiu baixinho, orgulhosa.

  — Eu sabia que ele conseguiria!

  Recuperando-se do susto, Nafyr jogou o cabo quebrado da espada de lado e avan?ou novamente. Ele agora estava completamente focado, determinado a testar os limites de Hakuro. O jovem tentou responder com magia, lan?ando uma bola de fogo azulada para for?ar o pai a recuar. Nafyr desviou com agilidade, aproveitando o movimento calculado, desarmou Hakuro, arrancando a espada de treino de suas m?os antes que o garoto pudesse reagir. Nafyr pegou a espada ainda no ar e a usou contra ele, apontando-a diretamente para o peito de Hakuro.

  — Fim da luta — declarou Nafyr, com um sorriso satisfeito.

  Hakuro abaixou a cabe?a, ofegante, mas com um leve sorriso no rosto. Ele havia sido derrotado, mas sabia que tinha dado o máximo de si. Levantou os olhos para o pai, que o observava com orgulho.

  — Você lutou bem, Hakuro — disse Nafyr, colocando a espada de lado e estendendo a m?o para o filho. — Mas ainda há muito a aprender.

  Hakuro aceitou a m?o do pai, sentindo uma mistura de frustra??o e realiza??o.

  — Vou continuar treinando, papai. Um dia vou ser t?o forte quanto o senhor.

  Nafyr riu baixinho, bagun?ando os cabelos do filho.

  — N?o tenho dúvidas disso, meu garoto.

  Kyra correu até Hakuro, abra?ando-o com entusiasmo.

  — Você foi incrível! — exclamou ela, com os olhos brilhando de orgulho. — Nunca imaginei que veria você usar minhas li??es t?o bem em um combate real.

  Nyellen se aproximou, colocando uma m?o gentil no ombro do filho.

  — Você nos deixou orgulhosas, Hakuro. Mas lembre-se: o verdadeiro desafio n?o está apenas em vencer, mas em aprender com cada luta.

  Hakuro assentiu, sentindo-se grato pelo apoio de sua família. Sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente, mas também percebia que estava no caminho certo.

  Após as palavras de Nyellen, Nafyr se aproximou de Raka, que observava a cena em silêncio. Seus olhos brilhavam com um misto de orgulho e respeito enquanto ele dirigia suas palavras à instrutora.

  — Você tem feito um trabalho excepcional com ele, Raka — disse Nafyr, com sua voz grave carregada de sinceridade. — Quando partimos há algumas semanas, eu n?o esperava ver tanto progresso em t?o pouco tempo.

  Raka inclinou a cabe?a levemente, aceitando o elogio com humildade.

  — Hakuro é um aluno dedicado e talentoso — respondeu ela, seu tom firme, mas gentil. — Ele tem um potencial extraordinário, mas o crédito maior é dele próprio. Ele se esfor?a todos os dias para melhorar.

  Nyellen sorriu, concordando com as palavras da instrutora.

  — Sim, é verdade — acrescentou ela, voltando-se para Hakuro com um olhar carinhoso. — Mas também sabemos que isso n?o seria possível sem sua orienta??o, Raka. Estamos imensamente gratos por tudo o que você e Myka têm feito por ele.

  Raka assentiu, colocando uma m?o sobre o ombro de Hakuro.

  — é uma honra poder ajudar Hakuro em sua jornada — disse ela, com um leve sorriso. — Ele ainda tem muito a aprender, mas já está mostrando sinais de que pode se tornar um aventureiro mais habilidoso do que todos nós.

  Nafyr cruzou os bra?os, observando seu filho com orgulho.

  — Concordo. Ele está no caminho certo, mas é importante lembrar que o crescimento de um aventureiro n?o acontece apenas no campo de treinamento, nem t?o pouco em suas aventuras. Hakuro precisa de momentos para descansar, isso também faz parte de sua forma??o, ele tem que aprender a valorizar os momentos de descanso, afinal sem um bom descanso o desempenho cai, podendo ocasionar falhas em momentos críticos, que por sua vez podem trazer a morte.

  Raka assentiu novamente, virando-se para Hakuro.

  — Com isso em mente — disse ela, com um tom decidido, mas gentil —, acho que já fizemos o suficiente por hoje. Hakuro, você está dispensado dos treinos pelo resto do dia. Aproveite o tempo com sua família. Voltaremos ao trabalho amanh?.

  Hakuro piscou, surpreso.

  — Tem certeza, professora Raka? N?o precisa que eu fa?a mais nada?

  Ela balan?ou a cabe?a, sorrindo.

  — Você merece um descanso, tem praticado todos os dias e como seu pai mesmo disse, precisa aprender a valorizar os momentos de descanso. Além disso, sua família acabou de voltar, portanto, tire um tempo para aproveitar isso.

  Hakuro sentiu um calor crescer em seu peito. Ele sabia como Raka era exigente e nunca o dispensava antes do horário, ent?o aquilo era uma demonstra??o clara de reconhecimento por seu esfor?o. Ele assentiu, com um sorriso sincero.

  — Obrigado, professora Raka.

  Enquanto Raka se retirava, Nyellen se aproximou de Hakuro, colocando uma m?o suave em seu ombro.

  — Vamos entrar, meu querido. Há muito o que conversar e planejar para a semana que vem.

  Dentro da mans?o, a família se reuniu na sala de estar. O ambiente era acolhedor, com o fogo crepitando na lareira e o aroma de chá fresco permeando o ar. Hakuro sentou-se ao lado de Kyra, enquanto Nyellen e Nafyr ocupavam os sofás opostos.

  — Ent?o, Hakuro, — come?ou Nyellen, com um sorriso misterioso — como você sabe, seu aniversário de seis anos está chegando na próxima semana.

  Os olhos de Hakuro se iluminaram. Ele adorava aniversários, n?o apenas pelos presentes, mas porque era uma oportunidade de passar mais tempo com sua família.

  — Sim, mam?e! Mal posso esperar — respondeu ele, com entusiasmo infantil.

  Nafyr sorriu, trocando um olhar significativo com Nyellen antes de continuar.

  — Este ano queremos fazer algo especial, Hakuro. Afinal, além de comemorar seu aniversário, também queremos celebrar seu primeiro ano de treinamento. O que gostaria que fizéssemos?

  Hakuro exitou por um momento, inclinando sua cabe?a pensativo, ent?o tomou coragem e seguiu com seu desejo.

  — Papai, mam?e, eu gostaria de convidar algumas pessoas, se for possível.

  Nafyr e Nyellen se entreolharam, mas a express?o de Nyellen dizia que já sabia do que se tratava.

  — Quer convidar a pequena Lynn, estou certa? — Perguntou Nyellen com um sorriso no rosto.

  — Sim, mam?e. Mas além dela e do Sr. Elfynor, gostaria de convidar a princesa Mya e a senhorita Mieko. Embora eu acredite que seja difícil convidar a princesa, gostaria de agradecer a ambas pela ajuda que me deram para chegar até aqui com meu treinamento. — O brilho nos olhos de Hakuro transmitiam sua mais pura gratid?o.

  Nafyr assentiu, seu tom sério, mas orgulhoso.

  — Sim. Providenciarei para que a princesa seja convidada, afinal se tornaram amigos durante nossa estadia no castelo, e isso deve ser o bastante para que sua majestade aceite seu convite. Quanto aos demais convidados, você deverá fazer o convite pessoalmente.

  Os olhos de Hakuro se arregalaram de surpresa.

  — Posso mesmo?

  — Eu mesma vou ajudá-lo a preparar os convites e a entregá-los. — Kyra parecia mais animada com a ideia do que surpresa com o pedido do irm?o.

  — Ent?o está decidido, providenciarei para que a celebra??o seja realizada em dez dias. — Definiu Nyellen com seu costumeiro sorriso.

  Alek, havia recém entrado na sala enquanto Hakuro fazia seu pedido. Ficando inconformado com o acolhimento de seus pais, n?o se conteve.

  — Por que vocês est?o sempre mimando esse pirralho? N?o conseguem negar nada a ele, nem se quer uma vez? Vocês têm sempre que realizar todos os desejos dessa aberra??o?

  O silêncio tomou conta da sala após as palavras duras de Alek. Todos os olhos se voltaram para ele, mas foi Hakuro quem sentiu o peso maior do comentário. Seu sorriso desapareceu instantaneamente, substituído por uma express?o de choque e dor.

  Nyellen foi a primeira a reagir. Ela levantou-se calmamente, mas sua voz continha um tom firme e autoritário que n?o deixava espa?o para questionamentos.

  — Alek — disse ela, com uma seriedade incomum —, você sabe melhor do que ninguém que n?o toleramos esse tipo de comportamento. Hakuro é seu irm?o, parte desta família, e merece tanto respeito quanto qualquer um de nós.

  Alek bufou, cruzando os bra?os enquanto evitava olhar diretamente para Nyellen ou Nafyr.

  — Respeito? — retrucou ele, com uma risada amarga. — Ele nem sequer pertence a este mundo. Desde que apareceu, tudo mudou. Vocês passam mais tempo pensando nele do que em mim ou em Kyra. E agora querem organizar uma festa extravagante só porque ele completará seis anos? Isso é ridículo!

  Nafyr franziu o cenho, sua postura corporal indicando que estava prestes a intervir. No entanto, antes que pudesse dizer algo, Kyra colocou-se entre Alek e Hakuro, seus olhos brilhando com uma mistura de frustra??o e preocupa??o.

  — Chega, Alek! — exclamou ela, elevando ligeiramente a voz. — Você está sendo injusto. Hakuro n?o pediu nada disso. Ele só quer celebrar seu aniversário com pessoas que s?o importantes para ele. N?o há nada de errado nisso.

  Alek lan?ou um olhar cortante para Kyra.

  — Claro, você sempre vai defendê-lo, n?o é? Afinal, ele é o "queridinho" de todos aqui.

  Hakuro finalmente encontrou sua voz, embora estivesse trêmula e baixa.

  — Eu... eu n?o quero causar problemas. Se minha presen?a incomoda tanto, talvez fosse melhor eu sair...

  Ele come?ou a se levantar, mas Nyellen rapidamente colocou uma m?o em seu ombro, impedindo-o.

  — Você n?o vai a lugar nenhum, Hakuro — disse ela, com ternura na voz. — Esta é sua casa, e você faz parte desta família. N?o permitiremos que ninguém o fa?a sentir-se indesejado.

  A determina??o no tom de Nyellen fez até mesmo Alek hesitar por um momento. No entanto, ele ainda parecia incapaz de aceitar a situa??o.

  — Tudo bem, ent?o me diga, mam?e: quando foi a última vez que vocês organizaram uma festa para mim ou Kyra? Quando foi a última vez que nos deram tanta aten??o?

  Nafyr franziu o cenho ainda mais profundamente, sua express?o assumindo um tom severo que fez todos na sala prenderem a respira??o. Ele se levantou lentamente, posicionando-se entre Alek e Hakuro, como se quisesse garantir que ambos entendessem a gravidade do momento.

  — Alek — come?ou ele, sua voz grave ecoando pela sala com uma autoridade inquestionável —, você realmente precisa me fazer essa pergunta? Acha que eu já esqueci o que aconteceu há poucas semanas?

  Alek hesitou, claramente surpreso com a interven??o direta de Nafyr. Ele abriu a boca para responder, mas seu pai continuou, sem dar espa?o para interrup??es.

  — Você acabou de passar pelo seu debut em Akarath, algo que muito poucos jovens nobres têm a oportunidade de experimentar. N?o apenas isso: organizamos uma festa grandiosa na capital, com a presen?a de toda a alta sociedade, para oficializar sua posi??o como herdeiro legítimo dos Yalareth. Você foi celebrado, reconhecido e homenageado por todos. E agora, aqui está, questionando por que estamos dedicando aten??o a seu irm?o ca?ula?

  O tom de Nafyr era firme, mas também carregava uma ponta de frustra??o paternal. Ele cruzou os bra?os, olhando diretamente para Alek, que parecia ter perdido parte de sua confian?a sob o peso daquelas palavras.

  — N?o estou dizendo que seus sentimentos n?o têm valor — continuou Nafyr, suavizando ligeiramente o tom, mas sem perder a autoridade. — Sei que às vezes pode ser difícil lidar com as expectativas que recaem sobre você. Mas n?o permitirei que use isso como desculpa para tratar mal seu irm?o. Hakuro n?o pediu nada disso. Ele é parte desta família, assim como você e Kyra. E nós cuidamos uns dos outros.

  Nyellen assentiu, apoiando as palavras de Nafyr com um olhar firme.

  — Além disso — acrescentou ela, voltando-se para Alek —, Hakuro ainda é uma crian?a. Ele nunca teve um aniversário como este antes. é natural que queira celebrar com as pessoas que s?o importantes para ele. Isso n?o tira nada de você, Alek. Pelo contrário, mostra que ele está aprendendo a valorizar as conex?es que faz.

  Kyra, ainda entre os dois irm?os, colocou uma m?o no ombro de Alek, tentando acalmá-lo.

  — Alek, escute... sei que às vezes parece que tudo gira em torno de Hakuro, mas n?o é verdade. Você sabe disso. O debut foi todo sobre você . Agora, Hakuro só quer um momento para si. N?o podemos dar isso a ele?

  Alek abaixou os olhos, visivelmente incomodado. Ele sabia que seus pais tinham raz?o, mas ainda assim lutava contra a sensa??o de injusti?a que o consumia.

  — Eu... entendo — murmurou ele, sua voz quase inaudível. — Mas ainda acho que isso n?o faz sentido. Por que ele merece tanta aten??o?

  Hakuro, que até ent?o havia permanecido quieto, sentiu que precisava dizer algo. Ele engoliu em seco, reunindo coragem para falar.

  — Alek... eu n?o quero roubar nada de você — disse ele, sua voz baixa, mas sincera. — Só queria aproveitar meu aniversário com as pessoas que gosto. N?o significa que eu sou melhor ou pior do que você. Eu só... quero ser feliz.

  A express?o de Alek vacilou por um momento, como se ele estivesse prestes a dizer algo, mas acabou desviando o olhar. Sem mais palavras, ele se virou e saiu da sala, batendo a porta atrás de si.

  Nafyr suspirou, esfregando as têmporas como se sentisse uma dor de cabe?a chegando.

  — Ele vai precisar de tempo — disse Nyellen, com um tom resignado. — Alek sempre foi orgulhoso, mas também é sensível. Precisamos ajudá-lo a entender que o amor que temos por Hakuro n?o diminui o que sentimos por ele.

  Nafyr assentiu, mas seu olhar estava distante, como se estivesse refletindo sobre algo maior.

  — Sim... mas enquanto isso, vamos continuar planejando a celebra??o de Hakuro. Ele merece isso.

  Hakuro sentiu um nó na garganta. Embora soubesse que sua família o apoiava, a tens?o com Alek deixava tudo mais complicado. Ele só podia esperar que, com o tempo, seu irm?o conseguisse aceitá-lo.

  Kyra sorriu, tentando aliviar o clima tenso.

  — Além disso, pense em como será divertido preparar os convites! Vamos fazer algo memorável, certo?

  Hakuro finalmente conseguiu esbo?ar um pequeno sorriso.

  — Sim... obrigado, Kyra. Obrigado a todos.

  Durante a tarde, a família dedicou-se aos preparativos para o aniversário de Hakuro. Enquanto Kyra ajudava Hakuro a escrever os convites, Nafyr e Nyellen cuidavam dos detalhes logísticos, garantindo que tudo estivesse perfeito para a ocasi?o. Apesar do incidente com Alek, o clima geral era de expectativa e alegria.

  No entanto, Hakuro n?o conseguia esquecer completamente as palavras de seu irm?o. Durante momentos de silêncio, ele refletia sobre como poderia melhorar seu relacionamento com Alek. Sabia que o caminho para conquistar o respeito de seu irm?o seria longo, mas também entendia que valia a pena tentar.

  Naquela noite, Hakuro sentou-se em sua cama, pensativo. Ele ainda estava empolgado com a ideia de convidar pessoas especiais para seu aniversário, mas sua mente come?ou a divagar para algo maior.

  "Se a princesa Mya estiver presente," pensou ele, "será que também terei a chance de conhecer o rei?"

  A ideia de encontrar o governante do reino enchia Hakuro de curiosidade e leve ansiedade. Ele sabia que seu pai, Nafyr, tinha uma posi??o importante na nobreza, mas nunca havia mencionado muitos detalhes sobre suas intera??es com a família real. Para Hakuro, o rei parecia quase uma figura mítica — alguém cujas decis?es moldavam o destino de milhares de pessoas.

  "Talvez eu possa perguntar ao papai sobre isso amanh?," decidiu ele, determinado a n?o deixar sua curiosidade de lado.

  Na manh? seguinte, Hakuro e Kyra decidiram visitar o ateliê de Elfynor para entregar os convites pessoalmente. Hakuro estava particularmente animado para ver Lynn novamente, já que haviam criado uma conex?o especial durante a visita anterior.

  Quando chegaram ao ateliê, encontraram Elfynor ajustando um manequim mágico enquanto Lynn trabalhava em um bordado intrincado. Ao notar os dois irm?os entrando, Elfynor ergueu os olhos e sorriu calorosamente.

  — Olá, Hakuro-sama, Kyra-sama — cumprimentou ele, fazendo uma leve reverência. — Que surpresa agradável!

  Kyra foi a primeira a falar, segurando os convites com cuidado.

  — Viemos entregar algo especial — disse ela, entregando um dos convites a Elfynor. — Gostaríamos muito que você e Lynn pudessem participar do aniversário de Hakuro.

  Elfynor arregalou os olhos, visivelmente honrado.

  — é uma grande honra, Kyra-sama. Claro que aceitarei o convite. E quanto a Lynn...

  Ele olhou para a filha, que corou levemente ao perceber que Hakuro a observava.

  — Eu... eu ficaria feliz em ir — respondeu Lynn, hesitante, mas com um sorriso sincero. — Obrigada pelo convite, Hakuro-sama.

  Hakuro assentiu, sentindo um calor crescer em seu peito.

  — Obrigado por aceitarem. Significa muito para mim. Quero muito agradecer pelo drag?o magnífico que fez para meu batismo senhorita Lynn.

  Lynn ficou totalmente corada, mal conseguindo responder.

  — Fico feliz que tenha gostado.

  Enquanto saíam do ateliê, Kyra lan?ou um olhar brincalh?o para Hakuro.

  — Parece que alguém causou uma boa impress?o em Lynn, hein?

  Hakuro corou imediatamente.

  — N?o sei do que você está falando, Kyra!

  Kyra riu, mas n?o insistiu. Ela sabia que o irm?o era tímido, especialmente quando se tratava de intera??es com garotas.

  Ao retornarem à mans?o, Hakuro procurou seu pai. Ele estava determinado a saber mais sobre o rei. Como de costume, Nafyr estava na sala de estar tomando chá e lendo um pergaminho quando Hakuro entrou na sala.

  — Papai? — chamou Hakuro, hesitante, parando à porta.

  Nafyr ergueu os olhos do pergaminho e sorriu ao ver o filho.

  — Entre, Hakuro. O que traz você aqui?

  Hakuro caminhou até a poltrona oposta à de Nafyr, sentando-se timidamente.

  — Eu... queria te fazer uma pergunta sobre o rei.

  Nafyr arqueou uma sobrancelha, interessado.

  — Sobre o rei? — repetiu ele, colocando o pergaminho de lado. — O que há em sua mente, meu filho?

  Hakuro respirou fundo antes de falar.

  — Bem... eu estava pensando... se a princesa Mya vier ao meu aniversário, será que o rei também pode vir? Quero dizer, como ele é na verdade? Dizem que vocês s?o amigos, é verdade?

  Nafyr soltou uma risada baixa, balan?ando a cabe?a.

  — Ah, Hakuro... você sempre cheio de perguntas. — Ele fez uma pausa, refletindo por um momento. — Sim, o rei e eu somos amigos. Na verdade, fomos companheiros de campanha por muitos anos, antes mesmo de me tornar parte da nobreza. éramos membros de um grupo de elite de aventureiros, juntamente com sua m?e, Nyellen.

  Hakuro arregalou os olhos, surpreso.

  — Mam?e também fazia parte desse grupo?

  — Claro que sim — respondeu Nafyr, com orgulho na voz. — Sua m?e era uma das melhores curandeiras que já existiram. Salvou nossas vidas inúmeras vezes durante as miss?es mais perigosas. E o príncipe, que agora é nosso rei... bem, ele era nosso líder estratégico. Um homem sábio, corajoso e justo. Foi através dessas aventuras que construímos nossa amizade.

  Hakuro inclinou a cabe?a, fascinado.

  — Ent?o o rei realmente conhece mam?e e você desde essa época?

  — Exatamente — confirmou Nafyr. — Passamos por muitas prova??es juntos. Esses la?os s?o fortes, mesmo agora que ele ocupa o trono. Mas isso n?o significa que ele pode simplesmente deixar seus deveres reais para comparecer a todos os eventos. Ainda assim... — Ele fez uma pausa, pensativo. — Se a princesa Mya decidir vir ao seu aniversário, é provável que ele permita, contanto que ela esteja acompanhada por uma criada ou guarda de confian?a.

  Hakuro franziu a testa, confuso.

  — Por quê? Ela precisa de alguém para cuidar dela?

  Nafyr assentiu.

  — Sim, é uma quest?o de seguran?a e protocolo. Assim como você sempre vai aos lugares acompanhado por Arysa, a princesa também tem pessoas designadas para garantir sua prote??o. Mesmo nas situa??es mais informais, essas regras s?o seguidas.

  Hakuro assentiu lentamente, absorvendo as palavras de seu pai.

  — Entendo... ent?o, se a princesa vier, ela provavelmente estará com alguém?

  — Isso mesmo — disse Nafyr, dando um leve sorriso. — E quem sabe? Talvez o próprio rei decida enviar uma mensagem ou até mesmo aparecer brevemente, dependendo de seus compromissos. Ele valoriza as famílias que ajudaram no passado, especialmente aquelas com quem compartilhou tantas batalhas.

  Os olhos de Hakuro brilharam de empolga??o.

  — Isso seria incrível!

  Nafyr riu novamente, levantando-se de sua poltrona.

  — N?o se anime demais, Hakuro. Concentre-se primeiro em preparar seu aniversário. Deixe que eu e sua m?e cuidemos dos detalhes relacionados à família real.

  Hakuro assentiu, ainda sonhador.

  — Está bem, papai. Obrigado por me contar tudo isso.

  Nafyr colocou uma m?o reconfortante no ombro do filho.

  — Sempre que tiver perguntas, Hakuro, n?o hesite em vir falar comigo. Você tem direito de saber sobre o mundo ao seu redor. Mas lembre-se: conhecimento é poder, e deve ser usado com sabedoria.

  Hakuro sorriu, sentindo-se mais confiante.

  — Eu vou me lembrar disso, papai.

  Com isso, ele saiu da sala, sua mente fervilhando com novas possibilidades. Agora, mais do que nunca, ele estava ansioso para ver como seu aniversário se desenrolaria.

  Depois do almo?o, Myka levou Hakuro até a Guilda de Aventureiros para entregar o convite a Mieko. Quando chegaram ao balc?o, Mieko estava ocupada organizando pergaminhos, mas seu rosto se iluminou ao ver o garoto.

  — Hakuro! — exclamou ela, com um sorriso caloroso. — Que bom vê-lo novamente!

  Myka pigarreou delicadamente, chamando a aten??o de Mieko.

  — Viemos aqui em uma miss?o especial — disse Myka, piscando para Hakuro. — Este jovem tem algo importante para te dizer.

  Hakuro respirou fundo e estendeu o convite para Mieko.

  — Gostaria muito que você viesse ao meu aniversário — disse ele, sua voz cheia de sinceridade. — Você foi t?o gentil comigo desde o início... e quero que esteja lá.

  Mieko hesitou por um momento, olhando para o convite nas m?os trêmulas de Hakuro. Seu sorriso suavizou, mas uma sombra de preocupa??o cruzou seu rosto.

  — Hakuro... eu... n?o sei se é apropriado — disse ela, baixando os olhos por um instante. — Sou apenas uma funcionária da guilda, uma plebeia. E esse evento será na mans?o Yalareth, com pessoas importantes e nobres. N?o quero causar desconforto ou criar problemas.

  Hakuro franziu a testa, surpreso com a hesita??o dela. Ele balan?ou a cabe?a rapidamente, tentando dissipar suas dúvidas.

  — N?o é sobre ser nobre ou plebeia, Mieko-san — respondeu ele, com uma firmeza inesperada para sua idade. — é sobre as pessoas que s?o importantes para mim. Você me ajudou muito desde o início, e eu realmente quero que venha. Sem você, eu n?o teria conseguido completar minhas primeiras miss?es.

  Mieko ergueu os olhos, visivelmente emocionada com as palavras dele. No entanto, ainda parecia incerta.

  — Mas e seus pais? Eles n?o v?o se opor a isso?

  Myka interveio suavemente, colocando uma m?o no ombro de Hakuro.

  — Hakuro já conversou com seus pais sobre isso — explicou ela, com um tom tranquilizador. — Eles sabem quem s?o os convidados e concordaram com a escolha. Nafyr-sama e Nyellen-sama entendem que as pessoas que ajudaram Hakuro no início de sua jornada s?o t?o importantes quanto qualquer nobre.

  Mieko suspirou, claramente tocada pela considera??o de todos envolvidos. Ela finalmente aceitou o convite, segurando-o com mais firmeza.

  — Hakuro... eu ficaria honrada em ir. Obrigada por pensar em mim.

  Hakuro sorriu, sentindo um peso sair de seus ombros.

  — Eu fico feliz que você aceitou. Significa muito para mim.

  Myka sorriu, apertando levemente a m?o no ombro de Hakuro.

  — Viu? Eu disse que ela aceitaria.

  Hakuro assentiu, sentindo-se grato por ter Myka ao seu lado durante esse momento. Ele percebeu, mais uma vez, que as conex?es verdadeiras n?o dependiam de títulos ou riquezas, mas de gestos sinceros e momentos compartilhados.

  No caminho de volta para a mans?o, Hakuro e Myka caminhavam tranquilamente pela rua principal da cidade. O sol estava come?ando a se p?r, lan?ando um brilho dourado sobre as constru??es ao redor. Hakuro, que até ent?o estava absorto em seus pensamentos, parou subitamente ao notar uma pequena oficina ao fundo da pequena viela.

  Myka percebeu a mudan?a repentina no ritmo de Hakuro e virou-se para ele com um olhar curioso.

  — Hakuro? — chamou ela, suavemente. — Por que você parou t?o de repente?

  Hakuro estava imóvel, olhando fixamente para a oficina ao fim da rua à sua direita. Ele n?o disse nada por alguns segundos, mas finalmente suspirou, como se estivesse tentando organizar seus pensamentos.

  — é ali... — murmurou ele, ainda olhando para a entrada da oficina. — Foi ali que o artes?o me deu a Yoihana.

  Myka seguiu seu olhar e sorriu levemente ao reconhecer o lugar.

  — Ah... entendo. Você está pensando nele agora, n?o é?

  Hakuro assentiu, hesitante.

  — Sim... Eu queria convidá-lo para o meu aniversário, mas... n?o sei como fazer isso. Nem falei com meus pais sobre isso, mas n?o pude evitar de escrever o convite. E também... eu nem sequer perguntei o nome dele quando nos encontramos.

  Myka aproximou-se dele, colocando uma m?o gentil em seu ombro.

  — Hakuro, você fez o convite porque sentiu que era a coisa certa a fazer, certo? Isso já diz muito sobre você. Seus pais v?o entender, especialmente porque essa pessoa foi importante para você. Quanto ao nome... bem, às vezes as coisas acontecem fora de ordem, e isso n?o diminui a sinceridade do seu gesto.

  Hakuro olhou para ela, buscando confirma??o.

  — Acha mesmo que eles n?o v?o ficar chateados?

  Myka balan?ou a cabe?a.

  — N?o acho. Na verdade, acho que eles ficar?o orgulhosos por você ter pensado em alguém que te ajudou tanto. E, se quiser saber, o nome dele é Elaryon . Ele é conhecido como um dos melhores artes?os de varinhas do reino. Tenho certeza de que seus pais já ouviram falar dele.

  Os olhos de Hakuro brilharam com alívio e gratid?o.

  — Elaryon... — repetiu ele, memorizando o nome. — Obrigado, professora Myka. Agora posso falar com mam?e sobre isso.

  Myka sorriu, bagun?ando carinhosamente o cabelo de Hakuro.

  — Sempre que precisar de conselhos, estarei aqui. E lembre-se: às vezes, as melhores decis?es s?o aquelas que vêm do cora??o. Convidar Elaryon é uma delas.

  Hakuro assentiu novamente, sentindo-se mais leve. Ele deu uma última olhada para a oficina antes de seguir adiante, agora ansioso para ver como o mestre Elaryon reagiria ao convite.

  Mais tarde naquela noite, após o jantar, Hakuro encontrou Nyellen sentada em seu escritório particular, revisando alguns documentos. Ele hesitou por um momento à porta, mas logo bateu levemente.

  — Mam?e? — chamou ele, timidamente.

  Nyellen ergueu os olhos do pergaminho e sorriu ao ver o filho.

  — Entre, Hakuro. O que há?

  Hakuro entrou na sala, segurando o convite para Elaryon cuidadosamente dobrado em suas m?os.

  — Eu... queria falar com você sobre algo importante — disse ele, aproximando-se da mesa.

  Nyellen colocou a pena de lado, voltando toda a sua aten??o para o filho.

  — Claro, meu querido. Pode me dizer o que está em sua mente.

  Hakuro respirou fundo antes de falar.

  — Eu... escrevi um convite para o mestre Elaryon, o artes?o que me deu a Yoihana. Queria convidá-lo para o meu aniversário porque ele foi muito gentil comigo e... bem, quero agradecê-lo pessoalmente.

  Nyellen assentiu, visivelmente tocada pela considera??o de Hakuro.

  — Elaryon, n?o é? — disse ela, com um leve sorriso nostálgico. — Sim, eu já o conhe?o pessoalmente. Já comprei algumas po??es dele quando precisava de ingredientes raros ou encantamentos específicos para meus estudos de cura. Suas cria??es s?o verdadeiramente notáveis. Acho que até já mencionei seu nome para você uma vez, n?o foi?

  Hakuro piscou, surpreso.

  — Já conhece ele, mam?e?

  — Sim — respondeu Nyellen. — Ele é muito respeitado na cidade, tanto por suas varinhas quanto por suas po??es. Sempre achei fascinante como ele combina magia e artesanato de forma t?o única. é uma honra poder conhecê-lo melhor agora, por sua causa.

  Hakuro relaxou visivelmente, sentindo-se mais seguro.

  — Ent?o... você pode ir comigo até a loja dele para entregar o convite? Acho que seria mais adequado assim.

  Nyellen sorriu calorosamente.

  — é claro que irei com você, Hakuro. Será uma boa oportunidade para eu agradecer pessoalmente pelo presente que ele lhe deu. Vamos amanh?, se você quiser.

  Os olhos de Hakuro brilharam de gratid?o.

  — Obrigado, mam?e. Significa muito para mim.

  No dia seguinte, Hakuro e Nyellen caminharam juntos até a pequena oficina de Elaryon. Quando chegaram, o artes?o estava ocupado ajustando algumas varinhas em uma prateleira, mas ergueu os olhos ao ouvir o sino da porta tocar.

  — Ah, jovem Hakuro! — exclamou ele, claramente surpreso ao ver o garoto acompanhado por Nyellen. — Que honra recebê-los aqui!

  Nyellen fez uma leve reverência, emanando elegancia e respeito.

  — Mestre Elaryon, sou Nyellen Yalareth, m?e de Hakuro. é um grande prazer revê-lo.

  Elaryon inclinou-se respeitosamente.

  — A satisfa??o é minha, Lady Nyellen. E vejo que o jovem Hakuro está crescendo bem. Como vai a Yoihana?

  Hakuro sorriu, segurando a varinha com carinho.

  — Ela tem sido incrível, mestre Elaryon. Na verdade, vim aqui hoje para lhe entregar isso — disse ele, estendendo o convite.

  Antes que Elaryon pudesse pegar o convite, Nyellen interveio suavemente, sua voz carregada de gratid?o.

  — Antes de mais nada, gostaria de agradecer pessoalmente pelo presente que você deu ao meu filho. A Yoihana tem sido mais do que uma simples varinha para ele; ela tem sido uma fonte de confian?a e crescimento. Sei que escolheu aquela varinha especialmente para ele, e por isso somos eternamente gratos.

  Elaryon abaixou a cabe?a, humildemente.

  — Foi a varinha que escolheu Hakuro, na verdade. Eu apenas tive o privilégio de ser o intermediário.

  Nyellen sorriu, tocada pelas palavras dele.

  — Mesmo assim, gostaria de deixar claro que, se precisar de qualquer coisa no futuro, estamos à disposi??o para ajudá-lo. Sua generosidade n?o será esquecida.

  Elaryon ergueu os olhos, surpreso e profundamente honrado.

  — Lady Nyellen... suas palavras significam mais para mim do que pode imaginar. Obrigado.

  Com o momento de agradecimento concluído, Hakuro entregou o convite a Elaryon. O artes?o o aceitou com as m?os trêmulas, visivelmente emocionado. Ele desenrolou o pergaminho cuidadosamente, seus olhos percorrendo as palavras escritas.

  — Um convite... para o seu aniversário? — murmurou ele, erguendo os olhos para Hakuro e Nyellen, claramente emocionado. — Isso é mais do que eu poderia esperar, jovem Hakuro.

  Nyellen assentiu, visivelmente tocada pela considera??o de Hakuro.

  — é um reconhecimento pelo que você fez por nosso filho — disse ela, com gentileza. — como disse, a Yoihana é um símbolo de confian?a e sabedoria, sendo um apoio importante a jornada de Hakuro. Estamos gratos por isso.

  Elaryon abaixou o convite, visivelmente tocado pelas palavras de Nyellen. Ele balan?ou a cabe?a levemente, como se tentasse encontrar as palavras certas.

  — Lady Nyellen, Hakuro... eu... n?o sei o que dizer — admitiu ele, sua voz carregada de emo??o. — Fico profundamente honrado. Nunca imaginei que minha pequena contribui??o seria lembrada dessa forma.

  Hakuro deu um passo à frente, seus olhos brilhando de sinceridade.

  — Sua contribui??o n?o foi pequena, mestre Elaryon — disse ele, sua voz firme apesar de sua juventude. — A Yoihana me ajudou a descobrir partes de mim que eu nem sabia que existiam. Ela me guia e me protege. Eu só queria que você soubesse o quanto sou grato.

  Elaryon olhou para o garoto por um longo momento, parecendo ver algo especial nele. Ele ent?o assentiu lentamente, com um sorriso humilde.

  — Se é assim, ent?o eu aceito o convite com todo o meu cora??o — respondeu ele, segurando o pergaminho com reverência. — Será uma honra estar presente no seu aniversário, Hakuro. E quem sabe... talvez eu possa trazer algo especial para celebrar a ocasi?o.

  Nyellen inclinou a cabe?a levemente, demonstrando respeito.

  — Ficaremos ansiosos para recebê-lo, mestre Elaryon. E, mais uma vez, nossa família estará à disposi??o caso precise de qualquer coisa no futuro.

  Elaryon sorriu, claramente emocionado.

  — Obrigado, Lady Nyellen. N?o tenho palavras para expressar o quanto isso significa para mim.

  No caminho de volta para casa, Hakuro caminhava ao lado de Nyellen, sentindo-se leve e satisfeito.

  — Obrigado por ter vindo comigo, mam?e — disse ele, sua voz cheia de gratid?o.

  Nyellen colocou uma m?o gentil em seu ombro.

  — Sempre que precisar, estarei ao seu lado, Hakuro. Você fez a coisa certa ao incluir o mestre Elaryon. Ele é uma pessoa especial, e tenho certeza de que sua presen?a tornará seu aniversário ainda mais memorável.

  Hakuro assentiu, sentindo-se mais confiante do que nunca. Agora, ele estava ansioso para celebrar seu aniversário com todas as pessoas importantes em sua vida.

  Pe?o que, se possível, comentem se est?o gostando. Isso é muito importante para o desenvolvimento da história, gostaria da opini?o de todos sobre o andamento da história e o que pode ser melhorado.

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