Haviam se passado alguns dias desde aquela tarde no jardim, quando Nyellen dissera algo que continuava a ecoar na mente de Hakuro. Ele n?o conseguia parar de pensar nas palavras dela:
— Você será grandioso, Hakuro. Algo que ainda n?o podemos ver claramente o aguarda no futuro.
Aquelas frases pareciam envolver um mistério maior, algo que ia além de sua compreens?o, mesmo tendo uma alma milenar. Mas, ainda que n?o entende-se completamente, Hakuro sentia que algo estava prestes a mudar. Havia uma expectativa no ar, como se o destino estivesse se movendo em silêncio ao seu redor.
Ele continuou explorando a mans?o e passando horas na biblioteca, mas havia uma inquieta??o em seus gestos. Ele folheava os livros com menos entusiasmo, observava as lombadas empoeiradas com olhos distantes e, às vezes, até esquecia de pedir a Arysa que lesse para ele.
— Hakuro-sama, está tudo bem? — perguntou Arysa certa vez, notando sua distra??o.
Ele hesitou por um momento antes de responder.
— Sim… só estou pensando.
Arysa trocou um olhar preocupado com Lady Nyellen mais tarde, durante o almo?o.
— Ele parece diferente ultimamente — comentou Arysa, baixando a voz. — Mais quieto, como se algo o incomodasse.
Nyellen assentiu, seu olhar fixo no filho. Havia algo em seus olhos — algo que ela, como uma curandeira lendária e ex-aventureira de ranking S, reconhecia imediatamente. Era o mesmo brilho que vira tantas vezes em companheiros de batalha antes de grandes decis?es ou eventos transformadores. Uma mistura de inquieta??o, determina??o e... destino.
— Ele está diferente — disse Nyellen, baixando a voz para que apenas Arysa pudesse ouvir. — Mas n?o é algo ruim. é como se ele estivesse tentando entender algo muito maior do que nós mesmos.
Arysa franziu a testa, confusa.
— O que a senhora quer dizer? Acha que tem algo errado com ele?
Nyellen balan?ou a cabe?a lentamente, mas seus olhos permaneceram pensativos.
— N?o, Arysa. N?o é algo errado. Pelo contrário, é quase... inevitável. — Ela fez uma pausa, como se escolhesse cuidadosamente as palavras seguintes. — Quando eu era jovem, antes de me tornar uma curandeira lendária, eu viajei pelo mundo como parte de uma equipe de elite. Lutamos contra monstros titanicos, enfrentamos masmorras proibidas e até desafiamos os próprios limites da morte. E, durante todas essas aventuras, aprendi algo importante: quando o destino chama, ele n?o faz isso aos gritos. Ele sussurra. Silenciosamente, ele planta uma semente na mente daqueles que est?o destinados a mudar o mundo. E essa semente... cresce.
Nyellen suspirou, sua express?o suavizando enquanto observava Hakuro à distancia. Ele estava sentado à mesa, mexendo distraidamente em um peda?o de p?o, perdido em seus pensamentos.
— Vejo isso nele agora — continuou ela. — Essa inquieta??o, esse olhar distante... é como se ele estivesse ouvindo algo que mais ninguém consegue escutar. Algo que só ele pode sentir.
Arysa ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Nyellen. Ela conhecia bem o histórico da patroa — histórias de suas fa?anhas heróicas eram contadas em tavernas e guildas por todo o reino. Saber que Lady Nyellen via algo t?o profundo em Hakuro deixou-a com uma sensa??o estranha, quase reverente.
— Ent?o... o que devemos fazer? — perguntou Arysa finalmente, hesitante.
Nyellen sorriu, mas havia um toque de tristeza em seus olhos vermelhos.
— Nós esperamos. E apoiamos. Ele vai precisar de nós, mais cedo ou mais tarde. Mas também precisará encontrar seu próprio caminho. — Ela fez uma pausa, ent?o acrescentou: — Há coisas que nem mesmo uma curandeira de alto ranking pode prever ou controlar. E Hakuro... ele é especial demais para ser contido por qualquer um de nós.
Enquanto isso, à mesa, Alek observava a intera??o entre Nyellen e Arysa com os bra?os cruzados sobre o peito, sua express?o claramente irritada. Ele n?o conseguia evitar sentir-se incomodado com toda a aten??o que Hakuro recebia. Era sempre assim — desde o dia em que nasceu. O ca?ula era tratado como se fosse uma relíquia preciosa, enquanto ele, o herdeiro legítimo, parecia passar despercebido.
— Claro, sempre Hakuro — murmurou Alek baixinho, mas alto o suficiente para chamar a aten??o de Nyellen.
Ela virou-se para ele, levantando uma sobrancelha delicadamente.
— Disse algo, Alek?
Alek hesitou por um momento, mas logo endireitou-se na cadeira, como se quisesse parecer mais confiante do que realmente estava.
— Sim, eu disse. N?o sei por que tudo sempre gira em torno dele. Ele é só... uma crian?a estranha com cabelo lilás e olhos roxos. Por que todo mundo age como se ele fosse algum tipo de prodígio? — Sua voz tinha um tom amargo, quase desafiador.
Nyellen suspirou suavemente, trocando um olhar breve com Arysa antes de voltar sua aten??o para Alek. Ela colocou uma m?o gentil sobre o ombro do filho, seu toque carregado de calma e compreens?o.
— Alek... você sabe como é difícil ser diferente, n?o sabe? — perguntou ela, sua voz suave, mas firme.
Alek franziu a testa, surpreso com a pergunta. Ele abriu a boca para responder, mas Nyellen continuou antes que ele pudesse dizer algo.
— Lembra-se de quando Kyra era a primogênita? Como todos olhavam para ela, admiravam-na, falavam sobre suas conquistas? Você sentia ciúmes dela, n?o é verdade? Sentia que precisava provar seu valor, que queria ser notado tanto quanto ela.
Alek desviou o olhar, envergonhado. Ele sabia exatamente do que Nyellen estava falando. Quando Kyra ainda era conhecida como “a filha dos Yalareth”, todos a elogiavam pela sua beleza, inteligência e talento. Ele, como o segundo filho, muitas vezes sentia-se ofuscado por ela. Até hoje lembrava-se da sensa??o de ser ignorado ou comparado a uma irm? t?o perfeita.
— Mas agora... — continuou Nyellen, inclinando-se levemente para captar o olhar de Alek novamente — ...você é o herdeiro. Todos sabem disso. Você tem uma posi??o importante nesta família, e ninguém jamais questionará isso. O que você sente agora... é semelhante ao que Kyra sentiu quando você nasceu. E agora, Hakuro está passando por algo parecido.
Alek piscou, surpreso. Ele nunca havia pensado nisso dessa maneira. Sempre vira Hakuro apenas como uma crian?a estranha, alguém que roubava a aten??o que deveria ser direcionada a ele. Mas agora, ao ouvir as palavras de Nyellen, come?ou a entender que talvez houvesse algo mais profundo acontecendo.
— Hakuro... ele n?o está bem — acrescentou Nyellen, sua voz suave, mas cheia de preocupa??o. — Ele parece inquieto, perdido em pensamentos que v?o além da compreens?o de uma crian?a normal. Olhe para ele, Alek. — Ela apontou para Hakuro, que ainda estava sentado à mesa, mexendo distraidamente no peda?o de p?o. Seus olhos roxos estavam fixos em algo invisível, como se estivessem tentando decifrar um enigma muito maior do que deveria caber em uma crian?a de cinco anos.
Alek olhou para o irm?o e, pela primeira vez, percebeu algo que nunca havia notado antes: o brilho de incerteza nos olhos de Hakuro, a mesma sensa??o de inadequa??o que ele próprio já havia sentido tantas vezes.
— Talvez... — murmurou Alek finalmente, sua voz mais baixa e menos defensiva — ...talvez eu tenha sido duro demais com ele.
Nyellen sorriu, apertando o ombro de Alek com carinho.
— Nunca é tarde para mudar a forma como vemos as coisas, meu filho. E quem sabe? Talvez você possa ser a pessoa de quem Hakuro mais precise agora. Alguém que o entenda, que o guie.
Alek assentiu lentamente, embora ainda houvesse um tra?o de hesita??o em seus olhos. Ele n?o sabia ao certo como lidar com Hakuro, mas talvez pudesse tentar. Afinal, ele sabia melhor do que ninguém como era se sentir esquecido ou incompreendido.
Nyellen levantou-se da mesa, voltando sua aten??o para Hakuro.
— Venha, Hakuro. Vamos sair por um tempo. Precisamos encomendar sua roupa para o batismo. Uma mudan?a de ambiente pode fazer bem para todos nós.
Hakuro ergueu os olhos, surpreso, mas logo assentiu, levantando-se da cadeira com cuidado. Ele segurou a m?o de Nyellen, e juntos come?aram a caminhar em dire??o à entrada principal da mans?o. Antes de sair, Nyellen lan?ou um último olhar para Alek, um olhar que dizia mais do que palavras poderiam expressar.
— Pense no que conversamos, Alek. Você é forte o suficiente para entender isso.
Com isso, Nyellen e Hakuro deixaram a sala, deixando Alek sozinho com seus pensamentos. Ele ficou ali por um momento, observando o lugar onde eles estavam sentados. Pela primeira vez, ele come?ou a questionar seus sentimentos em rela??o ao irm?o. Talvez Hakuro n?o fosse apenas "uma aberra??o". Talvez ele fosse algo mais. E talvez, só talvez, Alek pudesse encontrar um jeito de conviver com isso.
No caminho para o ateliê, Nyellen aproveitou para mostrar a Hakuro mais da cidade onde viviam. Ele já conhecia os corredores da mans?o, mas agora queria descobrir mais sobre o mundo exterior. As ruas de Yalareth eram largas e bem cuidadas, com constru??es de madeira clara e telhados de ceramica vermelha. Janelas grandes e varandas floridas davam vida aos prédios, e postes ornamentados se erguiam em intervalos regulares, prometendo iluminar as noites com magia.
Pararam diante de uma barraca de doces, e Nyellen comprou um pequeno p?o dourado, redondo, recheado com um creme amarelo que parecia brilhar à luz do sol.
— Experimente isso — disse ela, entregando o doce a Hakuro.
Ele olhou para o p?o com desconfian?a.
— Parece meio… estranho.
— Só morde — incentivou Nyellen, divertida.
Com um pouco de hesita??o, ele deu uma mordida… e ent?o seus olhos se arregalaram.
O sabor era indescritível — doce, mas com um toque cítrico que parecia dan?ar em sua língua. Era como provar algo que ele nunca havia imaginado, e por um instante, todas as suas preocupa??es desapareceram.
— D-Delicioso!
Antes que pudesse terminar a frase, o doce já havia desaparecido de suas m?os. Nyellen apenas riu e limpou o canto da boca do filho com um len?o bordado.
— Se gostou, podemos comprar mais depois. Agora, vamos ao ateliê.
Ao chegarem ao ateliê, Hakuro franziu o cenho, confuso. O prédio parecia inclinado, como se estivesse prestes a desabar. Suas paredes eram irregulares, e o telhado parecia ter sido colocado às pressas.
— Mam?e… essa casa… tá torta?
Nyellen sorriu, enigmática.
— Espere até entrarmos.
Ao atravessarem a porta, Hakuro ficou impressionado. O interior do ateliê era extremamente organizado e elegante. Tecidos finos alinhavam-se pelas prateleiras, e o aroma suave de lavanda preenchia o ar, criando uma atmosfera de tranquilidade refinada.
Um elfo jovial os recebeu com um sorriso acolhedor.
— Lady Nyellen, é um prazer revê-la! — disse ele, fazendo uma reverência elegante. — E este pequeno deve ser Hakuro.
Nyellen sorriu e apresentou o filho.
— Sim, realmente este é Hakuro, meu ca?ula.
Enquanto seguiam para a sala de medi??es, Hakuro notou algo peculiar. Uma menina elfa, aparentemente da mesma idade que ele, estava sentada em um canto, concentrada em costurar uma pe?a delicada. Seus cabelos loiros dourados brilhavam sob a luz suave, e seus olhos verdes cintilavam como esmeraldas. Ela vestia um elegante vestido rosa claro com um la?o combinando no cabelo.
Ela movia as m?os com uma precis?o impressionante, como se cada ponto fosse parte de uma melodia silenciosa.
— Quem é ela? — perguntou Hakuro, apontando discretamente.
Elfynor seguiu o olhar do garoto e sorriu.
— Ah, aquela é minha filha, Lynn. Ela está aprendendo o ofício conosco. Muito talentosa para alguém t?o jovem.
Hakuro novamente franziu o cenho, intrigado. Havia algo nela que despertava sua curiosidade, mas ele n?o sabia explicar o quê. Lynn, por sua vez, parecia absorta em seu trabalho, sem notar que estava sendo observada.
Nyellen percebeu o interesse de Hakuro e trocou um olhar significativo com Elfynor. O alfaiate assentiu levemente, como se entendesse o que ela estava pensando.
— Hakuro — chamou Nyellen, inclinando-se para falar com o filho —, gostaria de conhecer Lynn melhor? Ela pode te mostrar algumas das pe?as que está criando enquanto tiramos suas medidas.
Hakuro hesitou por um momento, mas logo assentiu, sentindo uma curiosidade crescente. Ele deu alguns passos hesitantes em dire??o à menina, enquanto Nyellen se virava para Elfynor.
— Vamos come?ar as medidas ent?o? — disse Nyellen, sorrindo para o alfaiate. — Precisamos garantir que a túnica fique perfeita para o batismo.
Elfynor concordou com um aceno de cabe?a e pegou uma fita métrica mágica que flutuava ao seu lado, pronta para registrar cada detalhe com precis?o.
— Claro, Lady Nyellen. Vamos fazer tudo conforme o esperado. Enquanto isso, talvez Lynn possa entreter o jovem mestre com suas cria??es.
Nyellen sorriu e fez um gesto encorajador para Hakuro, que já estava parado ao lado de Lynn, observando-a com aten??o.
Lynn ergueu os olhos quando percebeu a presen?a dele. Seus olhos verdes brilharam de surpresa, mas ela rapidamente abaixou a cabe?a, demonstrando timidez.
— Oi... — disse ela, sua voz suave e melodiosa, quase como um sussurro. — Precisa de algo?
Hakuro corou levemente, sentindo-se estranhamente nervoso. Ele n?o estava acostumado a iniciar conversas, especialmente com alguém que parecia t?o... radiante.
— Eu… só queria saber o que você está costurando — disse ele finalmente, apontando para o delicado vestido verde que ela segurava.
Os olhos de Lynn brilharam com entusiasmo, e ela ergueu a pe?a para que ele pudesse ver melhor.
— é um vestido para a filha de um nobre — explicou ela, orgulhosa. — Estou praticando pontos novos. Papai diz que sou boa nisso, mas eu acho que ainda tenho muito a aprender.
Hakuro inclinou a cabe?a, observando os detalhes intrincados do bordado. Cada ponto parecia ser colocado com inten??o, como se estivesse contando uma história silenciosa.
— Parece incrível — disse ele, sincero. — Onde você aprendeu a fazer isso?
Lynn sorriu, claramente satisfeita com o elogio.
— Minha m?e me ensinou, ela diz que costurar é como contar uma história… cada ponto tem um significado.
— Uma história? Como assim? — Hakuro perguntou intrigado.
Ela riu suavemente, como se achasse divertido que ele n?o entendesse algo t?o óbvio.
— Bem, veja este ponto aqui — disse ela, apontando para uma flor minúscula bordada no tecido. — Esta flor representa esperan?a. E esta linha curva aqui… é como um caminho que leva a algum lugar. Juntos, eles formam uma história.
Hakuro piscou, absorvendo aquelas palavras. Era como se ela estivesse falando uma língua que ele já conhecia, mas nunca havia prestado aten??o antes.
— Isso é… lindo — murmurou ele, sincero. — Como você aprendeu a fazer isso?
Lynn sorriu, claramente satisfeita com o elogio.
— Praticando muito. Cada ponto precisa ser feito com cuidado, como se fosse parte de uma melodia. Se errar, a história pode mudar.
Enquanto conversavam, Elfynor continuava a tirar as medidas de Hakuro, ajustando a fita mágica ao redor de seus ombros, cintura e pernas. A cada medi??o, a fita emitia um leve brilho dourado, registrando os números com precis?o.
— Parece que estamos quase terminando — comentou Nyellen, observando o processo com um sorriso. — O que acha da ideia de ter uma túnica com detalhes únicos, Hakuro?
Ele olhou para a m?e, surpreso com a pergunta.
— Detalhes únicos?
— Sim — respondeu Elfynor, interrompendo brevemente sua tarefa. — Pensei em incorporar símbolos que representem sua jornada. Algo que seja exclusivamente seu.
Hakuro paralisou, pensativo. Ele n?o tinha certeza do que significava "sua jornada", mas a ideia de algo único o intrigava.
— Talvez Lynn possa ajudar com isso — sugeriu Nyellen, lan?ando um olhar encorajador para a menina. — Ela tem um talento especial para criar histórias com seus pontos.
Lynn corou levemente, mas assentiu com determina??o.
— Eu adoraria ajudar — disse ela, sua voz ganhando mais confian?a. — Podemos pensar em algo juntos.
Hakuro sorriu, sentindo algo novo crescer dentro de si. Era como se tivesse encontrado uma parte de si mesmo que ainda n?o compreendia completamente.
— Eu gostaria disso — respondeu ele, sua voz cheia de convic??o.
Enquanto Elfynor finalizava as medidas e Nyellen discutia os detalhes finais da entrega da túnica, Hakuro e Lynn continuaram conversando, compartilhando ideias sobre como os símbolos poderiam ser incorporados ao design. Para Hakuro, aquele momento era mais do que apenas preparativos para o batismo. Era o início de uma conex?o que prometia ser especial.
No entanto, antes que pudessem sair do ateliê, um mensageiro real chegou à porta, ofegante e visivelmente apressado. Seu uniforme dourado reluzia sob a luz do sol, e em suas m?os trazia um pergaminho selado com o bras?o da família real Akashy. Ele fez uma reverência profunda para Nyellen, que estava próxima à entrada.
— Milady Nyellen — disse o mensageiro, sua voz firme e formal. — Trouxe uma mensagem direta de sua majestade o rei Tefyr Akashy.
Nyellen respirou fundo, preocupada, enquanto pegava o pergaminho das m?os do mensageiro. Ela quebrou o selo com cuidado e desenrolou o documento, seus olhos percorrendo rapidamente as linhas escritas.
— O que foi, mam?e? — perguntou Hakuro, notando a mudan?a súbita no clima.
Nyellen abaixou-se até ficar na altura de Hakuro, colocando uma m?o gentil em seu ombro.
— é algo importante, meu filho. O rei nos convocou à capital com urgência. Um mago real virá nos buscar amanh? de manh? para nos levar diretamente ao castelo.
Hakuro piscou, surpreso.
— Mas por quê? O que aconteceu?
Nyellen hesitou por um momento, ent?o respondeu:
— Ainda n?o sei os detalhes. O rei explicará tudo quando chegarmos lá. Mas parece ser algo sério... e urgente.
Elfynor, que havia observado toda a cena em silêncio, aproximou-se com um sorriso gentil.
— Parece que teremos que ajustar os planos para a túnica, Lady Nyellen. Posso enviar o traje diretamente para a capital assim que estiver pronto.
Nyellen assentiu, agradecida.
— Obrigada, mestre Elfynor. Sua compreens?o é inestimável.
Enquanto isso, Lynn, que havia permanecido quieta durante a conversa, olhou para Hakuro com curiosidade. Ela parecia querer dizer algo, mas hesitava. Finalmente, ela encontrou coragem para falar.
— E quanto aos símbolos para a túnica? — perguntou ela, sua voz suave quase um sussurro. — N?o vamos mais trabalhar nisso juntos?
Hakuro olhou para ela, surpreso pela preocupa??o em sua voz. Ele podia ver a decep??o em seus olhos verdes, como se já sentisse que sua colabora??o estava sendo interrompida.
— N?o sei ao certo, mas gostaria de… — respondeu ele, com um sorriso reconfortante. — Na verdade... — ele hesitou por mais um momento, ent?o continuou: — Quero que você decida sozinha como será o design. Confio em você para criar algo que me surpreenda.
Lynn arregalou os olhos, surpresa com a confian?a depositada nela.
— Tem certeza? — perguntou ela, timidamente. — Eu n?o quero estragar nada...
Hakuro balan?ou a cabe?a, firme.
— Tenho certeza. Você tem um dom especial, Lynn. Sei que vai fazer algo incrível.
Os olhos de Lynn brilharam com determina??o renovada.
— Prometo que vou fazer o meu melhor — disse ela, sua voz agora cheia de convic??o.
Nyellen observou a intera??o entre os dois com um sorriso discreto. Ela sabia que aquela conex?o era especial, algo que poderia crescer com o tempo. Mas agora, havia quest?es maiores a enfrentar.
— Venha, Hakuro — disse ela, levantando-se. — Temos muito a fazer antes de partirmos para Akarath.
Hakuro assentiu, lan?ando um último olhar para Lynn antes de seguir Nyellen para fora do ateliê. Enquanto caminhavam pelas ruas vibrantes da cidade, ele n?o p?de deixar de pensar no que o aguardava na capital.
Ao chegarem à mans?o Yalareth, o ambiente estava silencioso, como sempre. O som de suas botas ecoava pelos corredores de mármore enquanto atravessavam o sagu?o principal em dire??o à sala de estar. Nafyr estava lá, sentado confortavelmente em sua poltrona favorita, com um livro grosso e encadernado em couro em m?os. Pequenas esferas de luz flutuavam ao redor dele, emanando uma suave luminosidade que iluminava a sala. Seus cabelos azuis reluziam sob o brilho mágico, e seu rosto concentrado revelava o quanto estava absorto na leitura.
Ao ouvir passos se aproximando, ele ergueu os olhos do livro, notando imediatamente a express?o tensa de Nyellen. Sua postura relaxada desapareceu, substituída por uma curiosidade cautelosa.
— O que aconteceu? — perguntou ele, dirigindo-se a Nyellen.
Nyellen suspirou, aproximando-se dele. Sem dizer uma palavra, entregou-lhe o pergaminho que já havia lido no ateliê. O selo real estava quebrado, e as marcas de sua abertura eram visíveis. Nafyr franziu o rosto ao ver o documento. Ele abaixou os olhos para o pergaminho, seus olhos percorrendo rapidamente as linhas.
A cada frase lida, sua express?o tornava-se mais sombria. Quando terminou, ele abaixou o pergaminho lentamente, seus olhos azuis refletindo preocupa??o e um tra?o de irrita??o.
— Uma convoca??o urgente para Akarath? — disse ele, sua voz grave preenchendo a sala. — E eles querem que Hakuro vá junto?
Nyellen assentiu, aproximando-se mais dele.
— Sim. A carta n?o explica os detalhes, mas menciona que é algo de extrema importancia. O rei ordenou que nos apresentássemos pessoalmente na capital.
Nafyr apertou os lábios, claramente insatisfeito com a falta de informa??es.
— Isso n?o faz sentido. Por que nos convocariam t?o urgentemente sem dar nenhuma explica??o? E por que Hakuro precisa estar lá?
Nyellen colocou uma m?o gentil no ombro de Hakuro, que observava tudo com curiosidade.
— N?o sei ao certo, mas o rei pediu especificamente que Hakuro nos acompanhasse. Como você pode ler, ele diz que tudo será explicado durante a audiência.
Nafyr cruzou os bra?os, claramente incomodado com a situa??o.
— Muito bem. Se o rei ordenou, faremos como ele deseja. Mas precisamos nos preparar adequadamente.
Enquanto isso, Arysa entrou na sala carregando uma bandeja com uma chaleira fumegante e uma xícara delicada. Ela caminhou até Nafyr com sua habitual gra?a silenciosa, servindo-lhe o chá antes de se retirar discretamente. No entanto, ao ouvir as palavras sobre a convoca??o real, ela hesitou, voltando-se para Nyellen com um olhar interrogativo.
— Milady... — come?ou ela, hesitante. — Posso perguntar... há algo errado?
Nyellen trocou um breve olhar com Nafyr antes de responder.
— Recebemos uma convoca??o urgente do rei, Arysa. Partiremos para Akarath amanh? ao amanhecer.
Arysa arregalou ligeiramente os olhos, surpresa.
— Para a capital? T?o de repente?
— Sim — respondeu Nyellen, seu tom calmo, mas firme. — é uma ordem direta do rei. E Hakuro virá conosco.
Arysa abaixou a bandeja cuidadosamente sobre a mesa próxima, seus pensamentos evidentes em sua express?o preocupada.
— Entendo... Posso ajudar com os preparativos, milady?
Nyellen assentiu com um sorriso suave.
— Na verdade, Arysa, você também virá conosco. Hakuro precisará de alguém de confian?a ao lado dele durante essa viagem. Além disso, pode ser que haja outras tarefas para você na capital.
Arysa piscou, momentaneamente surpresa, mas logo recuperou a compostura e assentiu com determina??o.
— Claro, milady. Estou à disposi??o.
This tale has been pilfered from Royal Road. If found on Amazon, kindly file a report.
No dia seguinte, ao amanhecer, o jardim da mans?o foi transformado em um ponto de encontro mágico. O céu estava claro, mas o ar vibrava com energia quando o mago real chegou.
Ele era jovem, talvez pouco mais velho que Nyellen, mas suas vestes eram inconfundíveis. Um longo manto azul-cobalto, bordado com runas douradas que brilhavam suavemente, fluía atrás dele como se tivesse vida própria. Seu chapéu pontudo, adornado com penas de pav?o multicoloridas, lhe dava um ar teatral, quase caricatural. Em sua m?o, carregava um cajado extravagante, feito de madeira escura e encimado por uma gema prismática que pulsava com luz interna.
— Lady Nyellen, Marquês Nafyr — disse ele, fazendo uma reverência elegante, embora seus olhos fossem cautelosos. — Sou mestre Eldrin, ao vosso servi?o. Vim conduzi-los ao castelo de Akarath por meio do portal. Esta mans?o segue magnífica como sempre!
Nafyr assentiu, mantendo sua postura austera.
— Mestre Eldrin. Agradecemos sua presen?a. Podemos prosseguir?
Eldrin sorriu, com um gesto breve, mas confiante.
— Certamente. Por favor, reúnam-se dentro do círculo mágico, para que possa ativá-lo.
Todos se posicionaram dentro do círculo que emitia uma luz suave que parecia dan?ar em padr?es intrincados. Hakuro segurava firmemente a m?o de Nyellen, observando o mago com fascínio. Arysa ficou ao lado deles, enquanto Nafyr permanecia à frente, sua postura imponente contrastando com a atmosfera mágica ao redor.
Eldrin ergueu o cajado, sua gema prismática brilhando com intensidade crescente. Ele recitou, com voz clara e autoritária:
— PORTAL!
No instante seguinte, eles se encontravam no sagu?o principal do castelo de Akarath. Era uma sala imponente, com teto alto decorado com afrescos dourados e enormes vitrais que filtravam a luz do sol em raios coloridos. Guardas reais em armaduras reluzentes flanqueavam as portas duplas, e um criado aguardava para recebê-los.
— Bem-vindos ao castelo de Akarath — disse o criado, fazendo uma reverência profunda. — Sua majestade os aguarda. Lady Nyellen e Marquês Nafyr, por favor, acompanhem-me até a sala do trono para a audiência particular. Quanto aos demais, sintam-se à vontade enquanto aguardam. Os jardins reais est?o logo ali, caso desejem apreciar a vista.
Nyellen trocou um breve olhar com Nafyr antes de assentir. Ela se abaixou suavemente para falar com Hakuro, colocando uma m?o gentil em seu ombro.
— Hakuro, você e Arysa podem esperar nos jardins, está bem? N?o devemos demorar muito.
Hakuro olhou para ela com curiosidade, mas n?o protestou. Ele sabia que era importante obedecer àquela ordem, especialmente em um lugar como aquele. Arysa, por sua vez, inclinou-se respeitosamente.
— Fique tranquila, milady. Cuidarei bem dele — disse ela, sua voz calma e confiante.
Com isso, Nyellen e Nafyr seguiram o criado através das portas duplas, desaparecendo de vista. Hakuro observou-os partir, seus olhos roxos brilhando com pensamentos que ele ainda n?o conseguia expressar completamente. Arysa percebeu sua express?o e sorriu suavemente.
— Venha, Hakuro-sama — disse ela, estendendo a m?o. — Os jardins aqui s?o lindos. Tenho certeza de que você vai gostar. Além disso... — ela fez uma pausa, como se lembrasse algo. — A última vez que estive neste castelo foi com Kyra-sama. Ela me trouxe aqui quando fora convidada para um chá com a princesa Lysara. Talvez tenhamos sorte e a vejamos hoje também.
Hakuro arregalou os olhos, interessado.
— A princesa? — perguntou ele, sua voz infantil ainda carregada de fascínio.
Arysa assentiu, sorrindo.
— Sim, a primeira princesa Lysara. Ela é muito gentil e adora passar tempo nos jardins. Se tivermos sorte, talvez possamos encontrá-la.
Intrigado pela ideia, Hakuro segurou a m?o de Arysa sem hesitar. Juntos, eles caminharam em dire??o às grandes portas que davam acesso aos jardins reais. Ao passarem por elas, foram recebidos por uma explos?o de cores e aromas. Flores exóticas de todas as formas e tamanhos enfeitavam os canteiros cuidadosamente arranjados, e fontes cristalinas espalhavam gotículas de água que cintilavam sob a luz do sol. Pequenos caminhos de pedra serpenteavam pelo espa?o verdejante, convidando os visitantes a explorar cada canto.
Lá dentro, na grandiosa sala do trono, o rei Tafyr Akashy aguardava, sentado em um trono dourado que parecia brilhar com sua própria luz. Seu semblante era grave, mas havia também um tra?o de urgência em seus olhos. Quando Nafyr e Nyellen entraram no sal?o, o rei dispensou os guardas com um gesto rápido, deixando apenas os três na sala.
— Nafyr, velho amigo — come?ou o rei, levantando-se de seu trono e caminhando em dire??o a eles. Sua voz era calorosa, embora carregada de preocupa??o. — Há quanto tempo n?o nos vemos? Parece que foi ontem que lutamos lado a lado nas fronteiras do norte.
Nafyr sorriu brevemente, mas sua express?o logo voltou a ser séria.
— Majestade, é bom vê-lo, mas sei que esta convoca??o n?o é por acaso. O que aconteceu?
O rei suspirou, esfregando as têmporas como se tentasse aliviar uma dor latejante.
— Tem raz?o, Nafyr. N?o há tempo para nostalgia. Um incidente grave ocorreu nas proximidades da capital. Uma horda de monstros atacou uma vila nos arredores, causando destrui??o e deixando muitos feridos. Preciso de você para coordenar nossos esfor?os militares e garantir que essa amea?a seja contida antes que chegue mais perto da cidade.
Ele fez uma pausa, olhando diretamente para Nyellen.
— Quanto a você, Lady Nyellen — continuou o rei, sua voz carregada de respeito e confian?a —, suas habilidades como curandeira s?o indispensáveis. Os feridos precisam de cuidados urgentes, e ninguém neste reino possui um dom t?o refinado quanto o seu. Sei disso melhor do que ninguém, pois testemunhei pessoalmente seus feitos durante nossa campanha no norte.
Nyellen inclinou a cabe?a em um gesto gracioso, mas havia uma sombra de preocupa??o em seus olhos.
— Faremos o necessário, majestade — disse ela, sua voz firme, mas suave. — Minha miss?o é aliviar o sofrimento onde quer que ele exista. Estou pronta para servir.
O rei assentiu, claramente aliviado por ter aliados t?o confiáveis ao seu lado. Ele voltou sua aten??o para Nafyr, cuja postura ainda era austera, mas com um tra?o de determina??o brilhando em seus olhos azuis.
— Considerando as circunstancias, tomei a liberdade de transferir o batismo de Hakuro para a catedral da capital — continuou Tafyr, mudando de assunto com um tom mais leve, embora ainda sério. — Sei que era para ocorrer em Yalareth, mas dado o momento crítico e a presen?a de sua família aqui, achei mais apropriado realizar a cerim?nia em Akarath. Espero que entendam.
Nafyr trocou um breve olhar com Nyellen antes de responder. Ambos sabiam que o rei estava agindo com prudência e considera??o, dados os eventos recentes.
— Agrade?o a considera??o, Akashy — disse Nafyr, usando o nome do rei de forma familiar, algo que apenas os mais próximos ousavam fazer. — Faremos o necessário para honrar o chamado.
Tafyr balan?ou a cabe?a, mas sua express?o permaneceu sombria enquanto ele continuava:
— Há algo mais que preciso compartilhar com vocês. Consultei os registros da igreja sobre os ataques recentes de monstros... e descobri algo perturbador.
Ele fez uma pausa, como se escolhesse cuidadosamente suas palavras.
— De acordo com os textos antigos, o Arquidem?nio Malakhay desperta a cada mil anos. Ele controla mentalmente os monstros das masmorras e forma um exército para destruir o mundo. O problema é que... n?o há registros confiáveis sobre como ele foi derrotado nas ocasi?es anteriores. Apenas relatos vagos e fragmentados, muitos deles contraditórios, além disso ainda n?o sabemos se o incidente tem realmente algo a ver com ele. Pelo que consta nos registros, sua última apari??o foi a pouco mais de novecentos anos, o que aumenta a suspeita.
Nafyr franziu o cenho, surpreso.
— Malakhay? Pensei que fossem apenas lendas.
— Eu também — admitiu o rei, sua voz baixa e pesada. — Mas agora, com esses ataques organizados, come?o a acreditar que as lendas podem ser verdadeiras. E se for o caso, estamos enfrentando algo muito maior do que imaginávamos.
Nyellen interveio, sua voz calma, mas firme.
— Majestade, há algo que podemos fazer para nos preparar melhor?
O rei hesitou por um momento antes de responder.
— Continuem cumprindo seus deveres. Precisamos conter essa amea?a imediata enquanto investigamos mais sobre Malakhay. Se as lendas forem verdadeiras, teremos que nos unir às outras na??es. Mas, por enquanto, isso é tudo o que sei.
Nafyr e Nyellen trocaram olhares preocupados, mas n?o fizeram mais perguntas. Eles sabiam que, como membros da nobreza e aliados de confian?a do rei, suas responsabilidades eram claras.
— Entendido, Akashy — disse Nafyr, sua voz firme. — Faremos o nosso melhor.
Com isso, eles foram dispensados, mas o peso das palavras do rei ecoava em suas mentes enquanto retornavam para buscar Hakuro.
Enquanto Nafyr e Nyellen estavam ocupados na audiência com o rei, Hakuro e Arysa seguiam caminhando pelos jardins reais, um lugar mágico que parecia saído de um sonho encantado. O ar estava impregnado com o perfume delicado das rosas e o som tranquilo das aves cantando entre as árvores, como se o próprio mundo respirasse em harmonia. Canteiros exuberantes de flores se espalhavam por toda parte, cercados por cercas vivas intrincadamente podadas em formas de animais e figuras míticas.
Hakuro caminhava devagar, observando tudo com olhos curiosos. Ele nunca tinha visto algo t?o grandioso e detalhado quanto aquele jardim. Apesar de sua aparência infantil, seus pensamentos eram profundos, quase calculistas, enquanto absorvia cada detalhe.
— é muito lindo aqui, Arysa — disse ele, admirado, enquanto parava para tocar uma flor roxa brilhante, cujas pétalas pareciam feitas de seda tingida pelo crepúsculo.
Arysa sorriu, mantendo-se próxima.
— Sim, Hakuro-sama. Afinal este é o jardim real! Soube que a princesa Lysara gosta muito de vir aqui para ler e meditar.
Como se respondesse às palavras de Arysa, uma voz infantil soou logo atrás deles, clara e autoritária.
— Quem s?o vocês? E por que est?o no meu jardim?
Hakuro e Arysa se viraram rapidamente. Diante deles estava uma menina de sete anos, vestida com um vestido simples, mas elegante, adornado com bordados de flores. Seus cabelos longos e dourados brilhavam sob a luz do sol, e seus olhos azuis claros pareciam carregar uma mistura de curiosidade e comando.
— Princesa Mya... — murmurou Arysa, fazendo uma reverência educada, embora surpresa. — Perdoe-nos. N?o sabíamos que este jardim era exclusivamente seu.
A princesa Mya acenou com a m?o, dispensando a formalidade com um gesto gracioso.
— Está tudo bem. Eu só queria saber quem estava aqui. Vocês n?o parecem criados do castelo.
Hakuro, embora intimidado pela presen?a real, n?o conseguiu evitar encará-la com fascínio. Ele nunca havia conhecido uma princesa antes, e algo nela parecia diferente de todas as outras crian?as que ele já encontrara. Havia uma aura de seriedade em seus olhos, como se ela carregasse segredos antigos demais para sua idade.
— Eu sou Hakuro Yalareth — disse ele finalmente, inclinando a cabe?a levemente, imitando a reverência que via nas pessoas ao redor. — Meus pais est?o em uma audiência com o rei.
Mya sorriu, aparentemente satisfeita com a resposta.
— Ent?o você é o filho do General Nafyr e da Lady Nyellen? Ouvi falar deles. Papai diz que s?o grandes aliados do reino.
Hakuro assentiu, surpreso por ser reconhecido.
— Sim, sou eu. E esta é Arysa, minha amiga.
Mya olhou para Arysa por um momento antes de voltar sua aten??o para Hakuro.
— Você gosta de livros? — perguntou ela, apontando para um banco próximo onde havia vários volumes empilhados.
Hakuro hesitou por um instante, mas logo respondeu:
— Sim, muito. Mas ainda estou aprendendo a ler melhor.
Os olhos de Mya brilharam com entusiasmo.
— Eu também gosto de livros! Venha, vou te mostrar alguns que trouxe hoje.
Sem esperar por uma resposta, ela pegou Hakuro pela m?o e o conduziu até o banco. Arysa, embora surpresa pela intera??o inesperada, manteve-se discretamente à distancia, observando os dois com um sorriso leve.
Sentados lado a lado, Hakuro e Mya folhearam os livros juntos. A princesa explicava pacientemente o que cada imagem significava, e Hakuro escutava atento, fazendo perguntas ocasionalmente.
— Este aqui é sobre as constela??es — disse Mya, mostrando um livro com ilustra??es de estrelas e planetas. — Meu pai diz que entender o céu é importante para governar.
Hakuro, intrigado, parecia descrente.
— Por quê?
Mya deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
— Porque as estrelas podem nos guiar quando tudo mais parece perdido. Além disso, elas contam histórias antigas… como a dos deuses e heróis.
Ao ouvir isso, Hakuro sentiu um estranho calafrio percorrer sua espinha. As palavras ecoaram em sua mente, conectando-se às suas próprias experiências incomuns, embora ele ainda n?o soubesse o motivo.
— Você também gosta de magia? — Perguntou Hakuro mudando o foco da conversa.
O rosto de Mya se iluminou.
— Sim! Minha bên??o vem da Deusa da Magia, Symeria. Consigo aprender qualquer coisa rapidamente e encantar objetos. Olhe isto!
Ela pegou um pequeno cristal do ch?o próximo a eles e o segurou na palma da m?o. Concentrou-se por um momento, e o cristal come?ou a projetar uma luz suave, Desenhando padr?es coloridos no ch?o.
Hakuro observou, maravilhado.
— Isso é incrível! Como você fez isso?
Mya sorriu, orgulhosa.
— é um encantamento simples. Mas ainda estou aprendendo. Um dia, quero criar artefatos mágicos poderosos, como os que est?o nos livros antigos.
Hakuro sentiu uma conex?o instantanea com Mya. Embora ela fosse mais velha, eles compartilhavam um interesse profundo pelo desconhecido e pelo místico.
Depois de algum tempo, um criado se aproximou, avisando que a princesa precisava voltar para seus aposentos. Mya colocou o cristal de volta com relutancia.
— Preciso ir agora, Hakuro. Mas foi muito divertido conversar com você. Talvez possamos nos encontrar de novo?
Hakuro sorriu timidamente.
— Gostaria disso.
Enquanto Mya se afastava, acompanhada pelo criado, Arysa se aproximou de Hakuro.
— Parece que você fez uma nova amiga, Hakuro-sama.
Ele assentiu, ainda pensativo.
— Ela é diferente, Arysa. Como se realmente entendesse as coisas importantes.
Arysa sorriu, alisando o cabelo dele.
— Bem, ela é a terceira princesa. Provavelmente tem muitas responsabilidades e pensamentos profundos para alguém t?o jovem.
Hakuro n?o disse nada, mas continuou refletindo sobre o encontro. Algo na princesa Mya despertou nele uma sensa??o de familiaridade, como se eles compartilhassem um destino invisível.
Pouco tempo depois, os passos firmes de botas ecoaram pelo caminho do jardim. Hakuro se virou rapidamente, esperando ver mais guardas ou criados, mas ficou surpreso ao encontrar seus pais, Nafyr e Nyellen, caminhando em sua dire??o.
— Hakuro — chamou Nafyr, sua voz grave e controlada. — Está na hora de voltarmos aos nossos aposentos. A viagem foi longa, e precisamos descansar.
Nyellen sorriu gentilmente, estendendo a m?o para o filho.
— Venha, meu querido.
Hakuro assentiu, embora seus olhos roxos brilhassem com curiosidade. Ele sabia que havia algo importante acontecendo — algo que seus pais ainda n?o haviam explicado. Enquanto caminhavam de volta ao castelo, ele finalmente perguntou:
— Papai, mam?e... o que aconteceu na audiência com o rei?
Nafyr hesitou por um momento, trocando um olhar com Nyellen.
— é complicado, Hakuro — respondeu Nyellen, escolhendo as palavras cuidadosamente. — Uma vila próxima foi atacada por monstros. Seu pai precisa liderar os esfor?os militares para proteger as pessoas, e eu devo ajudar a curar os feridos.
Hakuro sentiu uma pontada de frustra??o, já imaginando a resposta de sua próxima pergunta.
— Posso ir com vocês? Eu sei que sou pequeno, mas posso ajudar! Posso carregar coisas, ou observar, ou...
Nafyr colocou uma m?o firme no ombro do filho, interrompendo-o antes que continuasse.
— Hakuro, você tem um papel diferente a desempenhar aqui. O batismo é uma cerim?nia sagrada, e é importante que esteja preparado. Além disso, o rei ordenou que permane?a no castelo até que tudo esteja seguro.
Nyellen abaixou-se para ficar à altura de Hakuro, segurando suas m?os com gentileza.
— Meu querido, entendo seu desejo de ajudar. Mas há momentos em que nossa for?a está em obedecer e confiar nos planos maiores. Você é especial, Hakuro, e sua presen?a aqui agora é essencial.
Hakuro abaixou os olhos, insatisfeito, mas n?o protestou. Ele sabia que seus pais tinham raz?o, mas isso n?o diminuía sua vontade de provar que era capaz de fazer mais do que apenas obedecer ordens.
Nos dias que se seguiram, enquanto Nafyr e Nyellen faziam os preparativos para partir rumo à vila atacada, Hakuro passou grande parte do tempo explorando o castelo ao lado da princesa Mya. Ela parecia genuinamente interessada em sua companhia e o convidou várias vezes para visitar a biblioteca real .
— Você disse que gosta de livros, certo? — perguntou Mya certa manh?, enquanto o conduzia pelos corredores dourados do castelo. — Tenho alguns favoritos que quero mostrar especialmente a você.
Hakuro assentiu, animado. Ele já havia percebido que a biblioteca do castelo seria muito maior e mais rica do que qualquer coisa que já tivesse visto na mans?o de seus pais. Quando entraram, ele ficou maravilhado com as estantes que iam do ch?o ao teto, repletas de volumes antigos e encaderna??es luxuosas.
Mya o levou até uma mesa onde vários livros estavam empilhados.
— Esse é meu preferido — disse ela, apontando para um volume grosso com capa de couro e símbolos desenhados em prateado. — Ele fala sobre encantamentos, e minha bên??o de Symeria me ajuda a entender melhor esses conceitos, mas acho que você também vai gostar.
Hakuro folheou as páginas com fascínio, absorvendo cada detalhe. Embora ainda fosse jovem, sua mente agu?ada permitia que ele compreendesse ideias complexas.
— é incrível — murmurou ele, seus olhos brilhando de entusiasmo. — Foi assim que conseguiu fazer aquele feiti?o com o cristal no jardim?
Mya sorriu, orgulhosa.
— Ah, isso? Foi um encantamento simples. Mas n?o é t?o fácil quanto parece. Precisei treinar muito para controlar a energia mágica da forma certa.
— Ent?o... você moldou a energia dentro do cristal para que ele brilhasse? — Questionou Hakuro pensativo.
Mya assentiu, impressionada pela perspicácia dele.
— Exatamente! Encantar é como convencer a energia a fluir de um jeito novo. N?o é criar algo do zero, mas sim redirecionar o que já existe.
Hakuro assentiu lentamente, processando as palavras dela.
— Ent?o... é como se tudo no mundo já tivesse um potencial escondido, e nós só precisássemos encontrar a forma certa de despertá-lo?
Mya olhou para ele com admira??o.
— Isso! Você entende rápido. A maioria das pessoas leva anos para captar essa ideia.
Os dois passaram horas conversando sobre os livros, compartilhando conhecimentos e fazendo perguntas. Para Hakuro, era como se tivesse encontrado uma amiga que realmente entendia sua sede de saber.
Enquanto isso, nos bastidores, os preparativos para o batismo avan?avam, sendo que o traje de Hakuro, encomendado ao renomado artes?o Elfynor, chegou ao castelo no sexto dia após sua chegada. O mestre artes?o havia prometido entregar o traje rapidamente, fazendo com que fosse entregue diretamente pela Guilda de Comerciantes.
Quando o vestiram, no come?o da tarde do dia seguinte, Hakuro n?o p?de deixar de admirar a beleza e a complexidade do traje.
— é lindo — disse Nyellen, ajustando delicadamente as mangas. — Perfeito para a ocasi?o.
O tecido reluzia em tom perolado, contendo símbolos mágicos bordados em prateado que cintilavam ao toque da mais leve luz, sendo o destaque principal, um drag?o dourado que parecia tomar vida, feito com delicadeza por Lynn para surpreender Hakuro, conforme haviam combinado. Era uma pe?a única, feita sob medida para refletir a importancia do evento.
Hakuro paralisou ao notar o drag?o no peito do traje. Seus olhos roxos brilharam com intensidade enquanto ele observava os detalhes minuciosos: as escamas meticulosamente bordadas, as asas que pareciam prestes a se abrir e os olhos ametistas que ecoavam algo profundamente familiar dentro dele.
— Mam?e... — murmurou ele, tocando o drag?o com reverência. — Ela realmente fez isso.
Nyellen sorriu, percebendo a emo??o em sua voz.
— Sim, meu querido. Foi Lynn quem bordou esse drag?o.
Hakuro assentiu lentamente, seus dedos ainda tra?ando os contornos do drag?o. Ele se lembrava claramente da visita ao ateliê de Elfynor, quando havia conversado com Lynn. A menina tímida, com seus cabelos loiros e olhos verdes brilhantes, havia prometido surpreendê-lo com algo único. E agora, ali estava o resultado: um drag?o que parecia capturar sua própria essência.
— Eu pedi a ela que me surpreendesse — disse Hakuro, sua voz baixa, mas cheia de gratid?o. — Mas nunca imaginei que seria algo assim.
Nyellen trocou um olhar significativo com Arysa, que assistia à cena em silêncio. Ent?o, abaixou-se para olhar nos olhos de seu filho.
— Eu sabia que Lynn tinha algo especial em mente quando vocês combinaram isso no ateliê — disse Nyellen, com um sorriso suave. — Mas, mesmo assim, estou impressionada. Ela realmente caprichou aqui.
Hakuro franziu levemente o rosto, curioso.
— Você sabia?
Nyellen assentiu.
— Sim, meu querido. Eu estava lá quando você falou com Lynn, lembra? Parece que ela entendeu exatamente o que você queria.
Hakuro sentiu um calor crescer em seu peito. Ele n?o esperava que sua m?e tivesse prestado tanta aten??o àquela conversa no ateliê. Para ele, fora apenas um momento simples de conex?o com Lynn, mas agora percebia que Nyellen também vira algo de especial naquela intera??o.
Nyellen colocou uma m?o delicada sobre o ombro de seu filho.
— Lynn é uma garotinha incrível, e o trabalho dela aqui prova isso. Esse drag?o... parece parte de você.
Hakuro permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de sua m?e. Ent?o, ele sorriu — um sorriso genuíno, raro para alguém t?o jovem.
— Sim... Ela é. E este drag?o... parece... parte de mim.
— Está na hora de irmos, meu querido. — disse Nyellen com seu rosto iluminado por um sorriso gentil.
Com isso, Hakuro pegou sua m?o, e eles seguiram até a entrada do castelo, onde uma carruagem os aguardava.
A viagem até a catedral foi silenciosa, mas n?o desconfortável. Hakuro observava pelas janelas da carruagem as ruas movimentadas da capital, sua mente repleta de perguntas e curiosidade.
— Mam?e… — disse Hakuro, quebrando o silêncio. — O que vai acontecer no batismo?
Nyellen trocou um olhar com Nafyr antes de responder.
— é um ritual sagrado, meu querido. é um momento onde os deuses podem aben?oar você, guiando seus passos e preenchendo seu cora??o com sabedoria. é um momento muito especial.
Hakuro parecia estranhamente curioso.
— E se… e se os deuses falarem comigo?
Nafyr riu baixinho, embora houvesse um tra?o de preocupa??o em sua voz.
— Isso seria extremamente incomum, Hakuro. Mas se acontecer, lembre-se de ouvir com aten??o e guardar suas palavras no cora??o.
Hakuro assentiu, embora ainda sentisse um peso no peito. Ele n?o tinha certeza do que esperar, mas algo dentro dele dizia que o batismo seria mais do que apenas um simples ritual.
Quando chegaram à catedral, Hakuro ficou maravilhado com sua grandiosidade. As torres gêmeas reluziam sob a luz do sol poente, e vitrais coloridos se projetavam pelas grandiosas paredes de pedra. Guardas reais vigiavam a entrada, e o som suave de canticos ecoava pelo ar, como se os próprios deuses estivessem sussurrando ben??os.
Dentro da catedral, o ambiente era ainda mais impressionante. Pilares altos sustentavam um teto pintado com cenas celestiais, e estátuas dos oito deuses brilhavam em ouro puro. No centro do altar, havia um pedestal simples feito de uma pedra de mármore branco única, sobre o qual repousava um livro antigo com páginas levemente douradas.
Hakuro sentiu-se pequeno diante da grandeza do lugar. Ele segurou firmemente a m?o de Nyellen enquanto caminhavam até o altar, onde um sacerdote aguardava. O homem vestia uma túnica longa e bordada com fios prateados, seu rosto sereno irradiava calma e reverência.
O sacerdote ergueu as m?os em um gesto solene.
— Meus Deuses benevolentes, no dia de hoje, apresentamos o jovem Hakuro Yalareth, que acaba de completar seus cinco anos, para a vossa adora??o! — Pronunciou ele, sua voz clara e ressoante pelo grande sal?o da catedral.
Hakuro caminhou até o centro do altar, onde se ajoelhou conforme instruído. Sua mente continuava repleta de pensamentos conflitantes. Ele sabia que aquele era um momento importante, mas também sentia que algo maior estava acontecendo — algo que ia além do simples ritual de passagem. Como se algum tipo de energia circula-se ao seu redor.
O sacerdote abriu o livro antigo e come?ou a recitar as palavras de uma ora??o antiga e melódica. A cada frase, o ar ao redor parecia vibrar com energia mágica. Uma luz suave emanava das páginas do livro, envolvendo Hakuro em um calor reconfortante.
De repente, o ambiente mudou. Hakuro sentiu como se estivesse sendo observado por algo muito maior do que ele. Uma presen?a poderosa preenchia o espa?o, e ele soube imediatamente que os deuses estavam ali, invisíveis aos olhos dos outros, mas palpáveis para ele.
Uma voz profunda e etérea ecoou na mente de Hakuro:
— Seja bem-vindo, Hakuro Yalareth... ou devemos chamá-lo de Onekay ?
Hakuro arregalou os olhos, incrédulo.
— Como sabem meu nome verdadeiro? — perguntou ele, hesitante, sua voz ecoando no espa?o infinito.
Diante dele, figuras majestosas come?aram a tomar forma. Eram os oito deuses, cada um irradiando uma energia única. Hakuro sentiu seu cora??o acelerar enquanto tentava compreender o que estava acontecendo.
A primeira figura a se aproximar foi Aendor, o Criador. Ele tinha a aparência de um homem-raposa, com pelos dourados que brilhavam como o sol. Seus olhos gentis pareciam carregar séculos de sabedoria.
— Você já percorreu um longo caminho, Hakuro — disse Aendor, sua voz tranquila e acolhedora. — Este é apenas o início de uma nova jornada.
Outra figura aproximou-se lentamente. Era Nerethys, a Deusa do Ciclo de Vida e Morte. Ela era uma mulher-gato majestosa, com cabelos negros que lembravam a noite mais profunda e olhos dourados que brilhavam como estrelas distantes. Suas orelhas pontudas e sua cauda elegante moviam-se com gra?a felina enquanto ela caminhava.
— Você tem muito a aprender, Hakuro — disse ela, sua voz melodiosa e firme, com um toque de mistério. — Mas confie em sua for?a interior.
A terceira figura, a deusa Loraelwen , aproximou-se com um sorriso gentil. Ela era uma Arquifada, com tra?os delicados de elfa e asas translúcidas que brilhavam como cristais ao sol. Seu semblante era acolhedor, como o de uma m?e protetora.
— Concederemos nossas bên??os a você agora — disse ela, sua voz suave e tranquilizadora. — Que elas iluminem seu caminho.
Antes que Hakuro pudesse fazer qualquer pergunta, os outros deuses come?aram a se manifestar, cada um com sua própria energia e personalidade.
Kaelgor, o Deus da Ilus?o, surgiu como um humano de aparência jovial, com cabelos loiros esvoa?antes e olhos azuis brilhantes. Ele usava roupas extravagantes, como um artista itinerante, e sua presen?a era leve e descontraída.
— Eu, Kaelgor, te aben?oo com criatividade! Que sua imagina??o nunca vacile! — exclamou ele, fazendo um gesto dramático com as m?os.
Velkar, o Deus do Comércio, aproximou-se com um sorriso astuto. Ele era humano, vestido com roupas extravagantes e joias reluzentes. Seus olhos brilhavam com inteligência e curiosidade.
— Também concederei minha bên??o! Sou Velkar, o Mercador, e quero ver o comércio prosperar com suas inven??es! — disse ele, com um tom alegre, como se já visse o futuro impacto de Hakuro no mundo.
Symeria, a Deusa da Magia, apareceu como uma elfa misteriosa, com cabelos negros que pareciam absorver a luz ao seu redor. Seus olhos eram profundos e escuros, como po?os de conhecimento oculto.
— Que a magia sempre o guie e inspire, Hakuro — disse ela, sua voz suave, mas carregada de poder.
Elaris, a Deusa da Guerra, surgiu com uma aura intimidadora. Ela era uma draconata, com escamas reluzentes e olhos flamejantes. No entanto, seu tom era animado e cheio de entusiasmo.
— Mal posso esperar para ver você ficar forte e bombad?o! — disse ela, com um sorriso largo. — Treine bastante, porque tenho grandes expectativas em você!
Finalmente, Durnan, o Deus da Tecnologia, aproximou-se com passos pesados. Ele era um an?o robusto, com barba longa e olhos brilhantes de curiosidade. Suas m?os pareciam estar cobertas de fuligem, como se tivesse acabado de sair de uma forja.
— Minha ben??o será útil em suas cria??es! — disse Durnan, com um sorriso orgulhoso. — Use-a com sabedoria!
Os deuses come?aram a desaparecer, suas figuras se dissipando como névoa. Antes que sumissem completamente, Aendor dirigiu-se a Hakuro uma última vez:
— Lembre-se, Hakuro... o mundo é cheio de maravilhas. Explore-o com curiosidade e cora??o aberto.
No momento seguinte, Hakuro se viu de volta ao altar da catedral. Ele piscou, momentaneamente confuso, enquanto tentava processar tudo o que havia acontecido. O sacerdote continuou o ritual como se nada fora do comum tivesse ocorrido, mas os olhos de Nyellen e Nafyr estavam fixos nele, repletos de preocupa??o e curiosidade.
Hakuro manteve-se calado, sentindo o peso das palavras dos deuses ecoando em sua mente. Ele sabia que algo extraordinário havia acontecido, mas também percebeu que n?o deveria compartilhar isso naquele momento, especialmente na presen?a do sacerdote.
O sacerdote terminou o ritual com um gesto solene, declarando:
— Que os deuses sempre o protejam, jovem Hakuro Yalareth!
Nafyr rapidamente se levantou e foi ao encontro de Hahuro, enquanto Nyellen, após se levantar t?o rapidamente quanto Nafyr agradecia ao sacerdote por seus servi?os.
— Vamos, meu filho — disse ele, com um tom de voz inusualmente tenso.
Hakuro apenas assentiu, segurando a m?o de seu pai enquanto caminhavam em dire??o à carruagem. Ele podia sentir os olhares confusos do sacerdote e curiosos dos guardas às suas costas, mas manteve-se em silêncio, observando o ch?o como se estivesse absorto em pensamentos.
Dentro da carruagem, Hakuro permaneceu quieto, ainda processando o encontro com os deuses. Seus pais trocavam olhares preocupados, mas nenhum deles ousou perguntar diretamente o que havia acontecido. A atmosfera era pesada, carregada de tens?o n?o verbalizada.
Hakuro observava pela janela, perdido em seus próprios pensamentos. Ele ainda sentia a energia das bên??os pulsando dentro de si, como um calor reconfortante que o envolvia. As palavras dos deuses ecoavam em sua mente, mas ele n?o conseguia compreender totalmente o significado delas.
"Por que eles est?o t?o nervosos?" pensou ele, enquanto observava a paisagem passar rapidamente. "Será que também viram os deuses falando comigo durante o batismo?"
Mas, por enquanto, ele decidiu guardar suas reflex?es para si mesmo. Sabia que precisava tentar entender sozinho o que havia acontecido.
Nafyr permanecia calado, olhando fixamente para o horizonte como se estivesse perdido em pensamentos sombrios. Nyellen, por outro lado, observava Hakuro com uma express?o preocupada, mas também com um brilho de orgulho nos olhos. Ela sabia que algo extraordinário havia ocorrido durante o batismo, mas n?o tinha certeza do que significava ou quais seriam as consequências, ou ainda se devia comentar.
— Chegamos — disse Nafyr finalmente, sua voz grave cortando o silêncio. Ele desceu da carruagem primeiro, ajudando Nyellen e Hakuro, e em seguida indo diretamente para seus aposentos.
Na ante-sala dos aposentos, Arysa esperava ansiosa, mas sua express?o era de leve curiosidade. Ela percebeu que algo parecia diferente no comportamento da família — Nafyr estava mais sério do que o habitual, Nyellen parecia perdida em pensamentos, e Hakuro mantinha-se inquieto e silencioso.
— Arysa — chamou Nafyr, sua voz autoritária, n?o dando margem para questionamentos. — Por favor, leve Hakuro e coloque-o na cama.
Arysa assentiu rapidamente, aproximando-se de Hakuro com um sorriso gentil. Ela estendeu a m?o para ele, que hesitou por um breve momento antes de aceitar. Nyellen se abaixou até o nível de seu filho, tocando-lhe a bochecha com ternura.
— Conversaremos pela manh?, meu querido — disse ela, sua voz suave como uma brisa primaveril. — Agora descanse. Você teve um longo dia.
Hakuro assentiu, embora sentisse um turbilh?o de perguntas dentro de si. Ele permitiu que Arysa o guiasse até o quarto, onde ela cuidadosamente o ajudou a trocar de roupa e o acomodou na cama aconchegante.
— Boa noite, Hakuro-sama — sussurrou Arysa, apagando o cristal de mana que iluminava o quarto enquanto se sentava à poltrona próxima à janela, observando a noite estrelada.
No outro quarto, Nafyr e Nyellen discutiam em murmúrios tensos.
— N?o podemos ignorar o que aconteceu hoje — disse Nafyr, sua voz baixa, mas urgente. — O que quer que tenha sido aquela luz... n?o foi normal.
Nyellen suspirou, cruzando os bra?os enquanto andava de um lado para o outro.
— Eu sei, Nafyr. Mas ainda é cedo para tirarmos conclus?es. Precisamos ser cautelosos. Se for algo relacionado aos deuses, precisamos entender melhor antes de agir.
— Cautelosos? — Nafyr ergueu uma sobrancelha, incrédulo. — Você viu aquilo também, Nyellen. A luz dourada... envolvendo Hakuro como se fosse uma marca divina. O sacerdote n?o notou, mas nós dois vimos.
Nyellen parou de andar, encarando o marido com firmeza.
— Sim, eu vi. Mas isso n?o prova nada além de que algo extraordinário aconteceu. Até sabermos mais, devemos evitar expor Hakuro. Ele já atrai aten??o suficiente apenas por ser nosso filho.
Nafyr assentiu lentamente, embora ainda parecesse insatisfeito.
— Muito bem. Come?aremos a procurar instrutores confiáveis amanh?. Entrarei em contato com o mestre Yanthorn assim que possível! E pediremos que Hakuro nos mostre seus status, assim teremos certeza do que se trata.
Do lado de fora, o vento noturno soprava suavemente contra as janelas, trazendo consigo o aroma fresco da primavera. No céu, as estrelas brilhavam intensamente, como se sussurrassem segredos antigos para quem estivesse disposto a ouvir.
No quarto, Hakuro permanecia acordado, seus olhos brilhando fracamente no escuro. Ele ainda sentia aquela nova energia fluindo dentro dele, como um eco distante dos deuses. Sua mente era um turbilh?o de pensamentos, analisando cada detalhe do dia. As palavras dos deuses, as rea??es de seus pais, o calor residual das bên??os... tudo parecia conectado por fios invisíveis que ele ainda n?o conseguia compreender completamente.
"O que aconteceu comigo?" — pensou ele, sua mente dividida entre curiosidade e apreens?o. "Por que meus pais est?o t?o preocupados? Como os deuses sabem meu verdadeiro nome? Por que n?o me responderam como sabem disso?"
Enquanto seus olhos finalmente se fechavam, entregando-se ao sono, uma sensa??o estranha percorreu seu corpo. Era como se os próprios deuses estivessem vigiando, aguardando pacientemente o momento certo para revelar o verdadeiro propósito de sua existência.
No entanto, Hakuro n?o sabia que o dia seguinte traria novas revela??es importantes. A luz dourada que havia envolvido Hakuro durante o batismo era apenas o come?o de algo muito maior.